Usina de Letras
Usina de Letras
153 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62214 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10356)

Erótico (13569)

Frases (50606)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140798)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Teses_Monologos-->Em preparação = Sobre Fernando Pessoa -- 04/04/2004 - 22:04 (António Torre da Guia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Fernando Pessoa- Biografia

I- A construção do mito

1. Os pioneiros da Presença
2. A arca
3. A consagração no país e no mundo
4. A auréola mítica

Caixa: João Gaspar Simões

II- Na alvorada do modernismo

1. A “naturalização literária”
2. O grupo da “Brasileira”
3. O Orpheu
4. O Portugal Futurista

Caixa: Almada Negreiros

III- Os heterónimos

1. Caso clínico, poético ou histórico?
2. Alberto Caeiro, o mestre do concreto
3. Álvaro de Campos, o sensacionista desiludido
4. Ricardo Reis, o esteta conformado

Caixa: um texto de Pessoa sobre os heterónimos

IV- Dramas íntimos

1. “O menino de sua mãe”
2. O amigo suícida
3. O amor inviável
4. O “correspondente comercial” fracassado

Caixa: Mário de Sá-Carneiro

V- Ao encontro da ditadura

1. A I República à deriva (1910-1926)
2. Messianismo sidonista
3. Justificação e defesa da ditadura militar
4. Tímida oposição

Caixa: Sidónio Pais

VI- O poeta do império decadente

1. A decadência do império
2. O “supra-Camões”
3. Sebastianismo e Quinto Império
4. A Mensagem

Caixa: Padre António Vieira

VII- A aventura esotérica

1. O “trancendentalismo panteísta””
2. Do espiritismo à teosofia
3. Com o fantástico mago Alexander Crowley
4. Ocultismo estético

Caixa: A maçonaria em Portugal

CRONOLOGIA
BIBLIOGRAFIA
TEXTO

Quando morre, provavelmente de cirrose hepática, em 2 de Novembro de 1935, Fernando Pessoa é um completo desconhecido para o grande público. Quase não publicara livros em seu próprio nome. A sua intensa participação em múltiplas revistas literárias, culturais, políticas e até comerciais, não o tornara conhecido fora dos limitados círculos de leitores das mesmas. A própria Mensagem esteve longe de lhe dar grande projecção quando apareceu em 1934. E o momento de glória das ousadias modernistas da revista Orpheu já quase estava esquecido depois do escândalo urdido em 1915. Não obstante o destaque dado pelo Diário de Notícias à morte do poeta (foi notícia de primeira página), quase ninguém o conhecia exceptuando algumas centenas ou escassíssimos milhares de literatos, intelectuais e estudantes universitários.

Cinquenta anos depois transformara-se no poeta-símbolo da propalada vocação universalista do povo português. Tornara-se notado do grande público nacional e ombreava com os nomes cimeiros da literatura mundial do século XX. Tornara-se um mito. A 13 de Junho de 1985, os seus restos mortais foram trasladados do cemitério dos Prazeres para o Mosteiro dos Jerónimos com grande pompa e circunstância. Hoje repousa ao lado de Camões e de Vasco da Gama.

I

I.4- A auréola mítica

Os anos 80 marcam o apogeu do “mito-Pessoa”. Em 1985, por ocasião do quinquagésimo aniversário da sua morte, o país procedeu à trasladação dos seus restos mortais do Cemitério dos Prazeres para o Mosteiro dos Jerónimos, sepultando-o ao lado de Camões e de Vasco da Gama. Por certo, como cabe aos mitos, circularam então boatos fantásticos. O corpo do poeta ainda estaria intacto.

O homem solitário e o poeta incompreendido transformaram-se cinquenta anos depois do seu triste fim em arquétipos do nosso imaginário nacional e existencial.

Com o correr dos anos, a sua Mensagem tornara-se na expressão superior de uma certa portugalidade reconfortante e comemorativa. A história pátria estaria ungida pelo divino. A expansão marítima portuguesa seria pouco guerreira e muito dada ao ecumenismo civilizacional. Ao contrário de outras aventuras imperialistas mais militaristas e discriminatórias, as Descobertas nacionais seriam sobretudo encontro de culturas, religiões e raças. Por certo, essa obra eivada de misticismo sebastianista e de Quinto Império que é a Mensagem poderá não ser assim tão linear. Porém, quer o regime salazarista quer a democracia estabilizada a transmudaram na imagem narcisista de nós mesmos. Daí ser leitura oficial recomendada aos estudantes na selecta feita pelos amigos do poeta logo nos anos 30 e ainda ser hoje de bom tom conhecer alguns dos seus versos.

Ao construir uma mundividência derradeiramente ancorada na tripla solidão de uma existência falha de amor, de uma inserção social falha de utopias humanitaristas e de um universo falho de unção divina, Fernando Pessoa tornar-se-ia símbolo de uma certa atitude existencial consagrada pela mitologia cultural contemporânea. Falamos do niilismo. Esta filosofia pessimista do mundo abandonado pelos deuses e pelas utopias já encontrara o seu filão no século XIX com Nietzsche e outros. Mas foi bastante potenciada pelos horrores das duas guerras mundiais, pelas bombas atómicas e pela paranóia da “guerra fria”. Neste contexto. muitos dos leitores da obra pessoana na segunda metade do século XX reconheceram-no essencialmente pela paralizia dos poemas dramáticos ortónimos, pela desilusão do último Àlvaro de Campos e pela angústia do pobre empregado de escritório Bernardo Soares. Incapaz de reconhecer um sentido global para o ser e para a história, boa parte da nossa cultura hodierna conferiria ao poeta da Tabacaria lugar de destaque no seu panteão.
Essa incapacidade foi, por sua vez, ampliada pelo refluxo das crises revolucionárias de meados dos anos 70 nos países ibéricos, pela globalização do neo-liberalismo e pelo colapso do socialismo. Ela transmudou-se em leitura pós-moderna do real e acoplou Pessoa na sua dinâmica. O poeta múltiplo, fragmentado, indeterminado, contraditório e desesperançado, deveio um ícone da sociedade reduzida ao mercado. José Saramago escreveu O Ano da Morte de Ricardo Reis em 1984 para nos alertar sobre os perigos dessa leitura. E as páginas do romance rapidamente aumentaram a auréola mítica do nosso poeta. E elas rapidamente se transformaram em mercadoria.
Muito provavelmente, terá sido por causa dessa conjugação interpretativa de nacionalismo cosmopolita, de niilismo e de pós-modernidade, que o “mito-Pessoa” encontrou o seu zénite nas duas últimas décadas. Ao tomarmos uma bica em companhia da escultura de Pessoa na esplanada da Brasileira do Chiado, ao encontrarmos o seu rosto pintado em taipumes de certas obras da cidade de Lisboa ou ao comermos um “bife à Pessoa” na sua Casa-Museu de Campo de Ourique, estaremos afinal condenados ao verso de Reis:“Sábio é aquele que se contenta com o espéctaculo do mundo”?

II. 1. – A “naturalização literária”

Em 1895, quando tinha apenas sete anos, Fernando Pessoa foi viver para Durban, na África do Sul. Aí ficará, ao lado da mãe e do padrasto, até aos seus dezassete anos. Se descontarmos o ano de férias passado em Portugal entre Agosto de 1901 e Junho de 1902, ele vive esse longo período sempre imerso na atmosfera quase vitoriana dessa cidade então pertença do império britânico. Quando regressa definitivamente a Portugal em Agosto de 1905, o jovem Pessoa olha para o país e para os compatriotas através dos óculos da sua educação inglesa. Sente-se estrangeiro na sua própria terra. Escreve essencialmente em inglês. Convive mal com os seus colegas da Faculdade de Letras, onde o seu único amigo é também um “imigrado” sul-africano de nome Armando Teixeira Rebelo. Interessa-se sobretudo por escritores de língua inglesa já lidos durante a sua longa estada em Durban, prestando pouca atenção aos pós-românticos portugueses e aos decadentistas-simbolistas franceses em voga nos nossos meios literários. Shakespeare, Byron, Milton, Pope ou Edgar Allan Poe são os seus autores favoritos nos primeiros tempos do regresso. Pouco a pouco, o futuro poeta da Mensagem deixa-se envolver pelo ambiente pátrio, pela sua literatura e até pela influência francesa tão característica da nossa história literária.

Neste seu processo de “naturalização literária”, vamos encontrar o papel significativo de uma curiossísima personalidade. Trata-se do irmão do seu padrasto, Henrique Rosa. General de engenharia reformado por doença, homem culto e poeta sofrível, este seu “tio” era um misantropo quinquagenário que passava a maior parte do tempo sozinho a ler e a beber no seu apartamento lisboeta da rua Rio de Janeiro. O jovem “exilado” encontrou nele uma referência humana e literária. Convivia regularmente com ele. Copiava mesmo os seus versos para cadernos. Provavelmente, terá sido o “tio” a incutir-lhe o gosto pelos pós-românticos portugueses e pelos decadentistas-simbolistas franceses. Em nota autobiográfica datada de 1914, Fernando Pessoa rememora as maiores influências literárias por si sofridas neste período de readaptação às letras portuguesas. Numa primeira fase, “grosso modo” de 1906 a 1908, nomeia sobretudo os pós-românticos nacionais como Antero de Quental, Guerra Junqueiro, Cesário Verde, José Duro e o seu “tio” Henrique Rosa. Numa segunda fase, de 1908 a 1911, faz referência genérica aos simbolistas franceses (sabe-se que leu, entre outros Mallarmé, Verlaine e Maeterlinck) e aos seus cultores portugueses como António Nobre e Camilo Pessanha. Por volta de 1910, o jovem poeta desconhecido estava finalmente em sintonia com o ambiente literário pátrio.

Nesses anos de readaptação, a ditadura de João Franco (Maio de 1907), o regicídio (Fevereiro de 1908) e a instauração do regime republicano (Outubro de 1910), fazem-no apaixonar-se pela política e pela história do país. A princípio, encara a República como o início do processo de reconstrução nacional depois da lenta agonia da dinastia dos Braganças, da influência estrangeira no século XIX e do vergonhoso “ultimatum” inglês de 1890. Entretanto, um grupo de jovens nortenhos liderado pelo poeta Teixeira de Pascoaes fazia uma leitura parecida, colorando-a de filosofia e mística nacionalistas. No Porto, esse grupo funda a revista A Águia (o primeiro número saiu em Dezembro de 1910) e o movimento Renascença Portuguesa (Janeiro de 1912). O saudosismo torna-se então uma importante corrente no nosso microcosmos intelectual e literário. Embora menos refinada, pouco voluptuosa e nada cosmopolita, quando comparada com o decadentismo-simbolismo, a poesia saudosista também era essencialmente lírica, hermética e vazada em formas textuais pré-modernas. Durante os primeiros tempos a seguir à implementação do regime republicano, Pessoa será bastante influenciado pelo saudosismo e colaborará com A Águia. A sua estreia literária far-se-á mesmo nessa revista com um artigo sobre A nova poesia portuguesa (Abril de 1912), onde defende a tese sensacionalista segundo a qual o saudosismo seria o indicador do renascimento civilizacional do país e anunciaria a vinda de um “supra-Camões”. A “naturalização literária”, mas também linguística, política e histórica, do futuro poeta da Mensagem estava completa e ganhava originalidade.

Ora, essa “naturalização literária” estava em desacordo com a sensibilidade literária de certos convivas frequentados por Pessoa nos cafés boémios onde o general Rosa o havia introduzido, sobretudo com a do viajado Mário de Sá-Carneiro. Tal “naturalização” estava nos antípodas da aventura modernista que varria então a alta cultura europeia, fazendo Pessoa hesitar entre o provinciano saudosismo e a adaptação ao modernismo estrangeiro. Era preciso romper com a influência saudosista, com o lirismo decadentista-simbolista e com os pós-românticos nacionais. A partir de 1912, na Brasileira do Chiado e noutros cafés da baixa lisboeta, começava-se a discutir o futurismo, o cubismo e outros “ismos” inovadores e extravagantes. A ruptura começava a preparar-se...

Continua =











































































































Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui