Dois sóis a par iluminam
a noite de olhos fechados,
fonte, arbustos que fascinam,
dois picos enluarados,
enquanto assaz delicados
dedos de deusa divina
me afagam, desço a colina
até ao bosque em flor
onde a sombra sem temor
me acoberta e domina...
O sussurro que me anima
melodioso ao ouvido
a pouco e pouco em surdina
abafa cada gemido,
corpo de um só sentido
minha língua incandescente
brota lavas em torrente,
punhais de fogo, fulgor
sobre o vale do amor
que se abre em sarça-ardente...
A intensidade alastra,
tudo é chama e fogueira,
já nada dói nem se sente,
a luz funde-se à cegueira,
braços, abraços e inteira
a forma desaparece
no trespasse que acontece
pró outro lado do mundo,
mais a fundo, mais profundo
em delírio que ensandece...
Algo que só se conhece
sem saber explicar,
êxtase que quase parece
o silêncio a gritar
milhões de gritos no ar,
força de extremo prazer
que mesmo a esmorecer
empolga e galvaniza
até que enfim desliza
para o dia alvorecer...
TdG = Quando Dezembro 2006 morre
DR - SPA 1.4153 |