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cronicas-->Dez meses sem ela -- 24/07/2008 - 00:06 (Mauro de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DEZ MESES SEM ELA


Fui apresentado a ela por Jairo. Tinha apenas doze anos início da minha adolescência. Não recordo o dia, mas, lembro-me que estava de férias. Nosso primeiro contato não foi dos mais promissores. Fiquei meio enjoado, mas ela era a moda e como sempre fui muito curioso e metido, aos poucos fui me acostumando e em poucos dias já não sentia mais enjóo e começava a sentir sua falta principalmente nas horas em que estava na rua. Levar para casa, nem pensar. Se papai ou mamãe visse seria o fim e muitos dias sem sair de casa.
Aos 18 anos ela já fazia parte de minha vida. Nosso contato passou a ser público, mas ainda fora de casa. Sentia que estava sendo explorado, mas o prazer de tê-la em meus lábios recompensava qualquer despesa. Depois, eu pensava que em qualquer hora que quisesse abaloná-la seria muito fácil. Aos vinte anos passamos há viver o dia e a noite sempre juntos. Não a dispensava nem nas aulas da faculdade, cinema ou qualquer diversão. Até lendo ou estudando, ela estava sempre comigo.
Aos poucos ela foi tomando conta de meu corpo. Primeiro o cérebro, depois os músculos, enfim entrou na corrente sanguínea e destruía lentamente o meu corpo. Achava-se a dona do pedaço. Aos trinta anos os amigos começaram a me falar para deixá-la que ela me fazia mal e que eu já estava dominado por ela. Lembro-me que o próprio Jairo, que convivera algum tempo com ela me deu conselhos para deixá-la.
Sabia que ela me era infiel e vivia a sugar os lábios de qualquer um desde que fosse remunerada. Aos poucos fui abandonando as atividades físicas, vólei, bicicleta, mergulho, pescaria. Trocava o esporte por uma cerveja ou um vinho sempre acompanhado por ela.
Ela passou a fazer parte de mim. Uma única pessoa. E assim ia me destruindo aos poucos, comia minha carne, me envenenava com doses homeopáticas. Destruía meu sistema nervoso e me levava a consumir os remédio para dormir. A insónia deixava-me depauperado no dia seguinte. Aos poucos nem com remédio conseguia dormir. Passei a ler mais, às vezes a noite toda sempre acompanhado dela.
Aos 45 anos baixei ao hospital acometido de uma crise de diverticulite. Por pouco não fui operado, pois até então sabia que era portador dessa doença. Enquanto estive no hospital ela não apareceu. Os médicos proibiram terminantemente o tipo de visita como ela. Passei oito dias e senti uma imensa falta dela. Sofria dores horríveis, mas ficava pensando quando saísse, se saísse vivo o meu primeiro encontro seria com ela. Durante a minha convalescença no hospital senti pela primeira vez que não seria fácil descarta-la como pensei quando começamos a viver juntos. Os médicos e parentes me incentivaram a aproveitar que fiquei oito dias sem ela tentar prolongar essa separação para por fim descarta-la de vez
Quando saí do hospital resolvi me separar. Pensei comigo, se consegui ficar oito dias sem ela porque não posso viver sem ela. Em casa ainda muito fraco desejava-a, roia, sonhava que havia voltado para ela. Comecei a ficar insuportável com aqueles que me rodeavam. A ausência dela mexia nos meus nervos. A sua falta modificou meu metabolismo. Nunca tive pressão alta e comecei a ter que tomar remédio para controlá-la. Lutei, fiz o que pude, mas ao cabo de seis meses voltei para ela. Primeiro a via apenas uma vez por dia, depois duas, de hora em hora e finalmente reatamos nossa relação definitivamente. Trinta e três anos de convivência não poderiam ser jogados fora em seis meses. Voltei para ela, adeus divorcio, e assim convivemos mais 19 anos até o dia 13 outubro do ano passado. Novamente o hospital nos separou, sendo que desta vez, depois de 52 anos de convivência com a interrupção apenas daqueles seis meses. Só que agora ela que havia acabado com a minha saúde me pregou outro susto. Depois de minha operação de càncer na próstata, tive uma parada respiratória. Quase ia, mas Deus me deu outra chance. Meus pulmões estavam ressequidos e duros! Ela os havia destruído. Por isso rompi relação novamente e jurei junto a meus filhos que jamais voltaria para ela. Continuo com muita saudade dela, meu desejo é o mesmo do dia 13 de outubro. Desta vez, porém, ela tentou me matar e tenho me aguentado, mastigando palito, fazendo esteira, bicicleta e engordando. Espero que agora eu esteja realmente divorciado da NICOTINA.

Mauro de Oliveira
23/07/2008
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