Nele, o hoje vira ontem
E o ontem vira amanhã
Nele, Maria vai com as outras,
Mesmo que tenha a mente sã.
Nele, a mulher vira homem.;
O homem vira mulher.
Nele, amigo vira cachorro
E cachorro vira jacaré.
É nele que eu me vingo
Do jeito que eu sempre quis.
É nele que eu me satisfaço.;
Chego a ser mais do que feliz.
É nele que eu me frusto.;
Mas às vezes me supero.
Nele, eu perco tudo.;
Também recebo o que tanto espero
Nele, eu pego as estrela.;
Pego até o que defeco.
Nele, o tagarela fica mudo
E até o morto tem eco.
Nele, quem já foi se apresenta.;
Quem ainda não veio aparece.
Nele, há tanta coisa estranha
Que o mais sábio desconhece.
Nele, a cabeça vai para os pés.;
Os pés vão para a cabeça.
Da terra chego às estrelas
Mesmo que eu não cresça.
Das estrelas volto à terra
Sem que do caminho esqueça.
Nele, todo mundo se conhece,
Mesmo que ninguém se conheça.
Nele, eu me curo
Como nele eu me corto.
Na verdade, ele é um “para”
De tudo o que é “orto”.
Nele, eu viro artista
Usando palavra culta.
Nele, concilio-me com a linguística
Mesmo quebrando a norma “curta”.
Nele, eu me vejo trágico
Nele, eu me vejo patético.
É nele que eu vejo
O que há de mais poético.
Id, ego e superego,
Tudo nele se mistura.
É uma panacéia incrível
Que pode servir para cura.
De tudo isso que eu falei
Não me exija nada ordenado.
Afinal, nele eu pensei
Estando meio acordado.
Willians Moreira |