Tadeu - Toninho... Tu sabes muitíssimo bem que eu sou um grande brincalhão, mas não sou um brincalhão qualquer. Sou um gajo que gosta de brincar, só que, quando brinco, tem mesmo de ser brincadeira a sério...

Toninho - Pois... Lá vens tu, Tadeu, com as tuas consabidas idiotices. Bem, diz lá então o que queres...

Tadeu - Ó Toninho, Toninho, eu não quero nada. Muito pelo conrário: eu quero dar...

Toninho - Queres dar?... Queres dar o quê?!...

Tadeu - Ó amigo, quero dar uma coisa que está à vista dos olhos, mas só muito poucos vêem ou vislumbram em profundidade, e a maioria desses, se a logram, devem isso ao puro e simples acaso...

Toninho - Ena, pá, estás a causar-me uma dada curiosidade. Anda lá, desembucha, revela a coisa, mas espero que seja coisa alguma.

Tadeu - Atenta Toninho: eu acho que todos os miúdos e miúdas deveriam aprender a tocar viola. Deveriam, logo a partir dos cinco anos de idade, tomar contacto com tão maravilhoso instrumento...

Toninho - Ah... Tadeu, Tadeu, tu deves querer música, mas a mim não me dás tu música...

Tadeu -Amigo, estou a falar a sério. Considero que uma viola é melhor do que uma cana de pesca. Mais: uma viola, bem dedilhada, pesca em qualquer lugar...

Toninho - Sim, até na rua, se fores pedir como os ceguinhos nas esquinas...

Tadeu - Repara, Toninho, qualquer miúdo, ou miúda, pode doutorar-se e profissionalizar-se seja no que for. Só que, se acompanhar toda a sua profissão com uma viola, que saiba dominar a primor, podes ter a certeza, Toninho, tem na mão uma importante chave para abrir todas as portas da vida...

Toninho - Como?... Batendo com a viola contra as portas?...

Tadeu - Então... Vê só: eu se soubesse tocar bem viola, toda a gente me convidava para as festas. E claro, ó amigo, divertia-me imenso, comia e bebia do bom e do melhor à borla, e por vezes, se eu fosse um gajo mesmo bom, um artista a sério, ainda ganhava um dinheirão por cima...

Toninho - Ah... Entendo. Entendo e estou a ver perfeitamente o teu principal fito: também de borla, pois, ias "comendo" umas boas gajas!...

Tadeu - E não só, amigo: as gajas tinham mais apetite para "comer-me". E é tão bom, Toninho, quando uma gaja tem mesmo apetite de "comer" um gajo...

Toninho - Pelo menos, Tadeu, és um tipo franco. Olha cá, porque não vais imediatamente aprender a tocar viola?...

Tadeu - Ó amigo... Eu sou como a maioria das pessoas: só sei dizer o que é bom para os outros, mas não consigo fazer o que é bom para mim... Eu gostava de ser pianista, Toninho, pianista como o gajo que está agora a tocar a música que ouves...

Toninho - Tadeu, Tadeu, olha que um piano é um instrumento muito pesado...

Tadeu - Ah... Toninho, o peso não conta. A cauda do piano é que vale tudo. Já viste: tocava, tocava, e, quando chegasse o momento crucial, zás...

Toninho - Zás?... Zás quê?...

Tadeu - Deitava a gaja em cima do piano e zás, zás, zás, catrapás, pás...

Toninho - E tu, Tadeu, querias ensinar isso aos miúdos?!...

Tadeu - Isso?... Isso aprendem eles sozinhos. Eu só queria que eles aprendessem a tocar viola. Então não vês que seria um importantíssimo suplemento para a vida de cada um?...

Toninho - Bem, se o Lula e o Sócrates desde já se interessassem por isso, pelo menos à miudagem do futuro não mentiriam eles...

Tadeu - És de mais, Toninho. Que pedagógica piada... Esses, precisavam era de levar com uma viola na cabeça para acabar com a música da treta...

Toninho - E o de Angola, Tadeu, o de Angola, o que é que precisava?...

Tadeu - Ah!... Esse?... Comigo, levava com o piano em cima... Mas não levava a pauta... Era o que faltava!...