Dentro do Coração Selvagem
André luiz
Dentro do coração selvagem o amor é um lobo que devora as ovelhas que se desgarram do rebanho.Nessa selva de batimentos descompassados a maça brilha intensa pronta para ser colhida pelo pecador.O seio de sua encantadora nutre seu desejo, alimenta a sua vontade de ir morar dentro dela, entre seus seios.
A neve derrete, a montanha chora, teme que o vento, tão gentil comigo quando estou na beira da praia, lhe retire as arestas e a faça ser apenas uma pequena escarpa. Aliás, o medo dentro do coração selvagem assume tons apocalípticos, é capaz de impedir o sucesso porque mata no ninho qualquer tentativa.
Clarice brilha nessa minha madrugada, então tomo em minhas mãos seu livro, "perto do coração selvagem" e vou despetalando-o, folha a folha sorvo as gotículas que ela deixou lá .Clarice é assim só depois de muito tempo é que você a entende, para ler suas palavras a presa é uma inimiga mortal.Dois parágrafos, dois batimentos do coração selvagem de Clarice:
"A máquina do papai batia tac-tac... tac-tac-tac... O relógio acordou em tin-dlen sem poeira. O silêncio arrastou-se zzzzzz. O guarda-roupa dizia o quê? roupa-roupa-roupa. Não, não. Entre o relógio, a máquina e o silêncio havia uma orelha à escuta, grande, cor-de-rosa e morta. Os três sons estavam ligados pela luz do dia e pelo ranger das folhinhas da árvore que se esfregavam umas nas outras radiantes.
Encostando a testa na vidraça brilhante e fria olhava para o quintal do vizinho, para o grande mundo das galinhas-que-não-sabiam-que-iam-morrer. E podia sentir como se estivesse bem próxima de seu nariz a terra quente, socada, tão cheirosa e seca, onde bem sabia, bem sabia uma ou outra minhoca se espreguiçava antes de ser comida
"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca." (Clarice Lispector)
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Andre Luis Aquino
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