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cronicas-->O Odor dos Aflitos -- 01/07/2008 - 00:15 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sei de mim não. Sei dos que me acercam, num poviléu danado, num zumzumzum de urdir mateiro dos bons, na renca de gente que lota os grandes mamutes brancos que zanzam nas avenidas de gente sem rosto, essas que cercam a vista das gentes que enxameiam nas esquinas fedidas de mijo e escuro fumo de gosma molambenta. O truque está em olhar feito repentista, um soslaio de lado esquerdo para num supetão dar de cara com a verdade dos narizes imundos das putas e dos cornos mansos que andam de barriga impune.

Sei de mim não; sei de Maria que se foi, na velhacaria, cheia de olhos prum cheio de malemolência, quenga danada, levou as poucas vestes que tinha e agora já não veste nada, um belo jardim é onde mora, a safada. Sei de mim nada, sei nada de mim. Da janela, este olho que se abre imenso sobre a floresta de vidro e telha, antenas e pipas soltas, olho o que sobra de mim, das minhas mãos que abraçam o mundo, cheio de vincos e de nervuras. De mim se foi o que já foi, e foi muito, seu moço.

Não sei nada nem de ninguém, porque daqui só saio de paletó de madeira, saio das esquinas onde visto meus dedos com a luva dos imperfeitos, se é que os há, meu irmão. Daqui só saio para caçar Maria do jardim, só saio se me levarem à força, que de mim não levo mais nada além da carcaça que fala o que sou: exposta ao carcará de sempre. Carne seca de almoço, miúdos que sobram de minha vez no mundão de todos, que é o que vejo da janela, do fundo de meu poço.

Onde a laia da gente se junta, espanta a feiúra, o odor dos aflitos, tudo em chuva sem bênção, num jogo de loucas palavras ocultas, porque sem sentido em tal mar sem razão, rio sem vazão alguma, um estranho chamado das alturas e da patuléia nos une a todos. Somos todos uns poucos e nos esprememos em ajuntamentos de escassa rotina.
Essa é a sina, meu pequeno, sempre foi e minhas mãos que na juventude abraçaram os peitos de Maria, hoje tremem de frio nas ruas deserdadas dos mamutes que zanzam plenos de olhos feridos.

Sei de mim não. Visto que já falei demais de mim, já contei a saga de Maria do jardim e dos mamutes brancos que zunem nas frias esquinas fedidas de mijo e miséria, visto que ela fugiu com o corno de barriga fendida de peixeira, sabedor das artes e ofícios do Tinhoso que reina nas ruas, o verdadeiro Deus do Reino de Sabá, então eu lhe pergunto seu moço: Porque tanta gente sem esperança, meu amigo?

Dos que me acercam, do povo que se espreme gritando nas ruas, do feio edifício cheio de estrume de pombo, daqui de onde se atirou Maria arrependida no jardim da Lua, daqui eu me arretiro. Me adentro no mundo de dentro de mim, para não mais sair dele, que daqui só saio carregado em brancas nuvens, se é que há destas hoje em dia.

Agora vê se inventa história melhor que a minha. Duvido que a conte, porque das minhas só conheço outras melhores.

De mim sei nada mais não.

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