Como escrever, bem.
(por Domingos Oliveira Medeiros)
Bem. Eu já lhe disse mais de mil vezes. Esta caneta não presta. Você tem a mania de comprar as coisas com base, apenas, no seu preço.
É preciso preocupar-se com a qualidade do produto. Veja que porcaria está ficando sua carta! Toda borrada de tinta! Sua mãe não vai entender nada. E olha o seu dedo como está! Uma sujeira!
Minha filha! Escute o seu pai. Ele sempre procurou fazer as coisas bem feitas. Para escrever bem, meu bem, é preciso estar bem preparado. Desde a hora de comprar o caderno, a caneta ou o lápis, que seja.
Ah! Já ia me esquecendo. Sua carta, além de suja, está muito confusa. Os críticos literários chamam isso de prolixidade. Quando eles não entendem nada, começam a criar apelido para tudo. E tudo acaba, como sempre, no lixo. Vai tudo pro lixo. Percebeu?
No meu modo de ver, o seu caso já é de prolixidade crônica. Com sinais de ironia “ diet”, isto é, ironia fina; magrinha; sem gorduras. “Diet” seria um neologismo? Palavras estrangeiras que se agregam ao nosso falar? Melhor consultar a gramática. Ou, quem sabe, uma boa conversa reservada com a professora de inglês?
Escrever bem não é desenhar as letras para depois soletrá-las. Se fosse assim, seria fácil. Qualquer professor sabe disso: bastaria escrever a letra “b, depois a “e”, e, finalmente, acrescentar a letra “m”.
Bom... mas isso já é outra história. Porém, tome alguns cuidados. Não escreva usando duas ou mais pessoas do verbo, no mesmo texto. Dá uma confusão que você nem imagina! Evite repetição de palavras. Use e abuse dos sinônimos; sempre que necessário.
Mostre que você tem farto vocabulário. Farto? O que significa? Consulte o dicionário. Cada vez que você fizer isso, você acumula conhecimento. Seu vocabulário aumenta. Junto com sua capacidade de expressão. Por quê? Por conta dos significados das palavras. Com mais significados, conotativos e denotativos, você terá mais chances de alargar o seu raciocínio. De dizer as coisas com maior propriedade. De modo a que todos entendam.
Use parágrafos curtos. Para evitar erros de interpretação. E para não tornar a leitura por demais fastidiosa. Cansativa. Desinteressante. Um saco!
Ah! Já ia esquecendo novamente! Cuidado especial com a sinalização. A pontuação. O ritmo das orações e dos pensamentos dependem disso. As frases, os textos, têm sua musicalidade. Evite os cacófatos. Olhe no dicionário o que significa. Ou veja o assunto na sua gramática. E releia o texto antes de divulga-lo.
Uma vírgula, no lugar errado, muda todo o significado da frase. Claro! Se conselho fosse bom, ninguém daria. Diz o dito popular. Mas, vai aqui de graça: leia tudo que puder; com o mesmo interesse com que você leria uma carta que viesse do seu namorado ou namorada. Carta que você espera, ansiosa, a semana toda. Já se correspondeu com alguém? Com alguém que você muito admira? Pois é. A gente, quando gosta, lê a carta várias vezes. Assim, deve ser com relação à leitura, de modo geral. Temos que dedicar-lhe o máximo de interesse e atenção. E gostar de ler. De amar, mesmo. Com boas intenções. Para casar, de verdade. Até que a morte nos separe. Sem essa de “ficar”.
Finalmente, e por hoje: cuidado com o conteúdo. Com o desenvolvimento do tema. Tem que ter introdução, desenvolvimento e conclusão. Num encadeamento lógico. Encadeamento de idéias.
Nunca escreva sobre assunto que você desconhece. Se tiver que fazê-lo, investigue o tema com antecedência. Leia - o que puder - a respeito. Forme sua opinião; e, aí assim, EXPRESSE O SEU PENSAMENTO. E respeite a opinião dos outros. Opinião, aqui, seria sinônimo de pensamento?
É sempre tempo de aprender e de evoluir. E de crescer como gente. Como cidadão de bem. Que sabe o que vai fazer de sua vida. E, nesse particular, não há caminho mais curto, mais seguro e mais eficaz do que a leitura. Aproveite esta bênção. De ter tido a oportunidade de aprender a ler. E, dentro de suas possibilidades, ensine a um vizinho, um parente, um amigo qualquer, a sair da escuridão. Ensine-o a ler e a escrever. A olhar o mundo com outros olhos. Com os olhos do entendimento. Da reflexão. E boa sorte!...
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