Quando eu me perco de mim, fico assim, quieta, inteiramente quieta. Muda por dentro. Me abrigo na proteção do buraco do meu próprio peito - truque que aprendi num momento limite como última chance de sobrevivência. Assim comigo, intimamente comigo, não há nada a temer: posso ser ridícula sem o temor dos julgamentos, posso desfiar as fibras com pena de mim, posso ser fraca e também posso sonhar meus sonhos mais bobocas. Posso morder os lábios até sangrar a raiva, a revolta do tudo que não tenho, não tive e vai morrer no meu desejo. Posso reconhecer, porém, a verdade de alguns ganhos substanciais.
E depois, voltar à tona, ainda em silêncio. Com o ameno consolo de poder me orgulhar por ter sido forte o suficiente, sábia o suficente para não me abandonar, não me trair, não fugir de mim. Pois sou eu mesma o meu énico caminho. E assim me encontro no meu silêncio, sempre. |