Um assunto que desperta muita curiosidade é o curandeirismo. Em todos os tempos da história da humanidade deparamos com homens que prometem “curas” quando todos os demais sistemas falham. A “cura” é atribuída a forças superiores, fator decisivo para engendrar tanta fé nesses métodos, visto que o homem, por sua natureza é religioso.
São muitas as reportagens sobre as famosas “operações espirituais”. O curandeiro mais famoso do mundo é Tony Agpaoa, das Filipinas. Entre os brasileiros, ocupou o primeiro lugar o já falecido Zé Arigó. Mais tarde Edson Queiróz, também já falecido, se dizia o substituto de Zé Arigó. Agora, estão sendo muito comentados Nero, Waldemar Coelho, Sr. Pato (de Jacarezinho/PR), entre outros. Mencionamos estes como exemplos representativos do que tende a se repetir nas mais diversas regiões do Brasil, embora, como é claro, em escala mais modesta.
Aos cirurgiões “do além” são atribuídas as mais delicadas e difíceis operações: fazem incisões com os dedos, introduzem as mãos nelas e até retiram tumores. Uma vez acabada a operação, a cicatrização é instantânea.
Nossa opinião a respeito é bem simples: truque. E justificamos. Nunca se constatou em laboratórios universitários de Parapsicologia alguma dessas “operações espirituais”. Esses curandeiros se recusam a qualquer investigação em laboratório feita por especialistas. Só se prestam a reportagens feitas por pessoas que desconhecem o assunto. Aliás, selecionam os assistentes às suas “operações” em estado de transe. O CLAP vem convidando, há bem mais de 20 anos, qualquer médium que realize “operações espirituais” para a reprodução das mesmas em seus laboratórios. Aliás, duvidamos que qualquer parapsicólogo sério queira pesquisar no local onde se efetuam tais “operações espirituais”. Lá não existem condições necessárias e suficientes de investigação.
Por outra parte, as fotografias e filmes que o CLAP vem analisando não deixam a menor dúvida de tratar-se de um truque dos mais antigos e bem conhecidos entre os parapsicólogos experimentados. As operações mostradas são realizadas de preferência sobre partes carnosas e moles, sobretudo no estômago. Apertando as mãos sobre essas partes, tem-se a impressão de as estar afundando no interior do estômago do paciente. O sangue e o “tumor”, como os saquinhos plásticos que os contém, não pertencem ao paciente. Estão escondidos entre as roupas do “operado” e posteriormente nas próprias mãos dos curandeiros. Apertando o estômago, formam-se rugas por onde escorre o sangue preparado, dando a impressão de incisões fotografadas isoladamente, mas sempre com as mãos do curandeiro apertando-as. Tiram-se os “tumores” - são vísceras de animais. O plástico é feitiço, recoberto de sangue parece tecido conjuntivo. É lógico que depois não aparecem as cicatrizes, pois não houve incisão.
Gostaríamos de ver incisões sem as mãos do médium comprimindo-as. E, sobretudo, gostaríamos que se deixassem analisar tais operações em laboratórios universitários de Parapsicologia, com aparelhos especializados, e não por curiosos ou jornalistas “escolhidos” por médiuns em transe. Não aceitamos o argumento de que alguns médicos ou “parapsicólogos” comprovaram as operações. É necessária uma investigação apurada e minuciosa em laboratórios universitários de Parapsicologia. Os olhos se enganam com a mágica e o ilusionismo.
Nas fotografias, um conhecedor das trapaças de curandeiros logo descobre os clássicos e antigos truques.
Só que estes truques, apresentados com um traje de operação transcendental, em que o médium incorporaria o espírito de um médico falecido, impressionam muito. Não só ao povo simples, mas também à chamada classe mais culta. Muitos sábios ficaram desconcertados vendo um médium extrair tumores!
Por Luiz Roberto Turatti, aluno do Centro Latino-Americano de Parapsicologia, CLAP (www.clap.org.br), dirigido pelo Prof. Dr. Padre Oscar González-Quevedo, S.J.
Esse artigo já foi publicado em:
- “Tribuna do Povo”, Araras/SP (Brasil), sábado, 13/8/1994;