Toninho - Escuta lá: que opinião tens tu do ofício de bobo na idade média?
Tadeu - Ora... Em princípio, eram uns gajos engraçados que tinham a missão de manter o rei bem disposto. A seguir e como objectivo essencial, colocar subrepticiamente a maralha toda em transe para que logo adiante tivessem lugar os bacanais...
Toninho - Muito bem, Tadeu. Mas não está tudo, quiçá o fundamental...
Tadeu - Bem, assim de repente, não me ocorre nada mais...
Toninho - Pois... A missão crucial do bobo, nos momentos azados, era tornar ridículo e rebaixar quanto possível um caso sério que ao rei se deparasse...
Tadeu - Ah... Por isso alguns deles, faziam o que lhes apetecia e ainda lhes sobrava tempo para envenenar o rei...
Toninho - Conheces alguma coisa de bobos hodiernos, por exemplo, no Brasil?...
Tadeu - No Brasil? No Brasil, francamente, não. Do que só ouço falar, não me basta para afirmação. Mas em Portugal, sim. Sim, conheço.
Toninho - Posso saber quem é?
Tadeu - O nome não digo, mas tu conheces, caraças, um grandessíssimo "paneleiro-rancheiro". É um gajo que aprecia enrolar-se com garotos. Já foi citado judicialmente, mas os reizinhos por trás da cortina deitaram-lhe a mão. Mas, ó Toninho, isto, tem alguma graça?
Toninho - Tem e muita. Eis a utilidade da bobagem: ridicularizar e rebaixar os casos sérios, os ímpios casos...
Tadeu - Se estás a chamar-me bobo, tu, tu és o rei!...
António Torre da Guia |