Usina de Letras
Usina de Letras
186 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62215 )

Cartas ( 21334)

Contos (13261)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10357)

Erótico (13569)

Frases (50610)

Humor (20029)

Infantil (5430)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140799)

Redação (3304)

Roteiro de Filme ou Novela (1063)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6187)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->A VIDA TEM QUE SER VIVIDA -- 17/06/2001 - 15:50 (Fernando Tanajura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A VIDA TEM QUE SER VIVIDA

Hilda. Hilda não era seu nome?, quer dizer, você não gostava de seu nome e preferia ser chamada de Hilda, que muitos escreviam Ilda e você sempre dizia que era escrito com H e não com I?, ora, você era registrada na classe como Crenilda e não gostava do nome e a gente lhe chamava de Iuda, há quanto tempo, não é?, como o tempo passa ligeiro e a gente não tempo de viver a vida, você não mudou nada, conseguiu terminar o curso?, depois que fui expulso nunca mais voltei lá no colégio, também a minha vida deu uma guinada de noventa, noventa não, cento e oitenta ou trezentos e sessenta graus, girou, girou tudo em torno de mim e hoje estou numa boa, você continua linda, linda e cada vez mais pura, que coincidência a gente se cruzar no shopping em pleno dia de semana!, venha comigo, tem um tempinho?, venha comigo quero lhe mostrar minha vida, quero que veja minha casa, estou morando numa cobertura bonita, duplex, quase triplex pois fiz umas obras e levantei um terraço que descortina toda a Baía da Guanabara, vejo o Cristo, vejo o Pão de Açúcar, vejo os morros, as favelas, vejo Copacabana, Botafogo, Flamengo e Niterói, que vista!, tem dias que fico só olhando os navios chegarem e partirem carregando não sei o quê, fico imaginando as embarcações cheias de mercadorias e de marinheiros rodando por esse mundo à fora, nunca viajei, nunca saí do Brasil, fico aqui, aqui tem de tudo, pra que sair?, tem praia, tem carnaval, festival de roque, escola de samba, tem do bom e do melhor, tem sol o ano inteiro e no inverno o frio não é frio como dizem que faz em São Paulo ou pros lados da Europa ou Nova Iorque, ali, bem ali, o meu carro está estacionado bem ali, comprei aquela porchesinha na semana passada, comprei não, tomei como pagamento de uma dívida, comigo é assim, me deve tem que pagar, ela me devia o dinheiro, chorou, chorou e não teve outra alternativa a não ser me dar a carroça, dar não, me vender ou melhor me pagar, aqui, aqui, deixe eu abrir a porta para você, mas que coincidência lhe encontrar numa manhã dessas depois de tanto tempo!, em quinze minutos estamos chegando em casa, você vai ver que casa linda, a minha mulher deve estar em casa, não tive filhos, não quero consumições, filho dá muito trabalho, quero dizer, dizem que dá muito trabalho, novinha não está, ainda cheira a fábrica, acho que a emergente nunca saiu por aí com esta máquina, talvez com medo de assalto, comigo não, não tenho medo de assalto, qualquer coisa enfio o carro em cima e mato, sem pena, mato mesmo, também carrego um 38 no porta-luvas, escreveu não leu o pau come, tenho outro que carrego aqui do lado esquerdo, disfarçado, escondido por baixo da camisa folgada, se brincarem comigo atiro pela direita e pela esquerda, antes de ontem mesmo atirei em um, se morreu não sei, deixei o malandro estendido no chão, não li os jornais, não tenho tempo de acompanhar os que morrem ou ficam feridos, se engraçou comigo leva chumbo, chegamos, vamos por aqui pelo elevador privativo, vamos direto sem parar, parece que vamos pro céu sem falar com São Pedro, por aqui, não disse?, é rápido, Hilda esta é Hilda que a gente chamava de Iuda no colégio, o nome dela mesmo é Crenilda mas ela não gostava do nome, a gente sentava juntos e ela sempre se perdia quando o professor de Matemática ensinava problemas de trigonometria, não se lembra que sempre falava dela e contava as histórias?, não se lembra que sempre quando lembrava dela você tinha ataques de ciúmes?, era só coincidência de nomes, vocês têm o mesmo nome e ter ciúmes é bobagem, tem pra todas na hora certa, ficar com história de ciúmes é perder tempo, é não saber viver, a vida é feita para ser vivida, veja que vista, veja que espaço maravilhoso, o Rio de Janeiro continua lindo já dizia o poeta, foi o poeta que disse isso ou foi o Chacrinha, nem me lembro, talvez tenha sido o Silvio Santos, tem uma música assim, não tem?, não sei se é o Caetano ou o Djavan que canta, sei lá, essas coisas de poetas, de poesia..., nunca entendi muito de poesia e não sei como tem gente que perde tempo escrevendo essas coisas, mas é bonito dizer que o Rio de Janeiro continua lindo, quer um uísque?, Hilda, sirva um uísque pra Hilda, ela deve estar com sede, sente aqui, sente aqui na varanda, temos tempo de sobra para apreciar esta maravilha, você vai ficar para almoçar conosco, ah, vai ficar sim, depois de um encontro desse!, que coincidência!, hoje é o meu dia de sorte, olhe a cidade aos nossos pés, a cidade maravilhosa, cheia de encantos mil, Ary Barroso, Ary Barroso, foi ele quem escreveu isso, foi o Ary Barroso quem escreveu isso sim, grande poeta!, essa eu acertei, foi o Ary Barroso quem escreveu isso, esses poetas são do caralho, escrevem cada coisa!..., e fica na cabeça da gente a musiquinha: cidade maravilhosa, cheia de encantos mil..., isso aqui é o coração do Brasil, veja que céu, veja que mar, os morros, o Cristo, o Pão de Açúcar, olha lá, lá vem outro navio chegando, deve vir carregando muitas coisas, assim tem mais pra repassar e a gente ganha mais dinheiro, ontem repassei um bom carregamento e o dinheiro já entrou, viu Hilda, não precisava ter ciúmes da Hilda, sempre divido com todos e não precisava ficar puta da vida quando lhe contei a história do quadrado da hipotenusa, lembra Hilda que você não entendia que o quadrado da hipotenusa é igual a soma dos quadrados dos catetos?, era um bloqueio, somente um bloqueio que você tinha em chamar cateto de Catete, cateto é uma coisa, Catete é outra, é o palácio no bairro do Catete, é onde os presidentes moravam, hoje é um museu, como você não podia enteder isso?, meu Deus do céu!, tirei seu bloqueio e você ficou chocada mas se curou quando lhe disse que cateto não é cacete e lhe mostrei meu cacete duro por debaixo da carteira, diga, diga que não gostou de ver meu cacete duro e passou a entender que a soma dos catetos era igual ao quadrado da hipotenusa?, você se curou, tirou o bloqueio e até teve uma nota maior do que eu, ora, foi uma bobagem, errei na multiplicação e tirei uma nota menor que a sua, devia ter colado, devia ter verificado o resultado, devia ter comparado as minhas contas com as suas, não faz mal, você ganhou, você venceu, mas sempre lhe bati em tudo e você ficava zangada, às vezes puta da vida sem razão, Hilda veja a porta, estão batendo na porta, você está esperando alguém, tem algum cliente hoje?, eu não marquei com ninguém, passei a mercadoria toda ontem e já peguei a grana, quem é?, como, quem são?, como?, PF?, os tiras?, como descobriram?, ah, sim, posso ler em sua carteirinha CRENILDA, a famosa Hilda cu-de-ferro, Ilda dedurona, Iuda, sua filha da puta, filha-da-puta!


© Fernando Tanajura Menezes
(n. 1943 - )
http://tanajura.cjb.net

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui