Andei por todos os cantos para aprender, muitas escolas, muitos educadores. Estudei prá caramba! Mesmo antes da idade escolar, com quatro anos de idade, minha querida avó já havia me ensinado a tabuada completa e a ler horas nos relógios. Não é fácil de crer, bem sei. Tirei as melhores notas na escola primária e secundária, sempre com muitas medalhas de desempenho escolar. Estudava bastante, mas tinha facilidade de entender as matérias. Nunca precisei de ninguém me puxando a orelha do lado. Fiz cursinho junto com o terceiro colegial e passei muito bem no vestibular, sétimo lugar dentre mais de uma centena. Na faculdade, curso de Física, fui um dos melhores também, apesar da Álgebra Moderna, ápice do determinismo. Fiz um belo estágio, sem bolsa, e consegui ser expoente numa área aplicada da moda: a nuclear! Fui tão bem que assim que me graduei, fui convidado a ser professor na faculdade onde me formei. No Mestrado e no Doutorado, apesar dos professores exageradamente cartesianos, sempre tive bolsas de estudo e obtive ótimos resultados. Galguei a carreira de professor universitário aos 23 anos, imaginando-me um mestre de currículo exemplar conseguindo o estrelato acadêmico tão sonhado. Ali estava eu no meio de gênios e sábios, pensava eu. Aqueles que olham o mundo de cima de suas montanhas sagradas. Esforcei-me cada vez mais nesse meio para ser o melhor, como sempre. Tanto que continuei a ter bolsas de estudos por muitos anos para desenvolver minhas pesquisas e participar de inúmeros congressos dentro e fora do país. Fui ao exterior duas vezes por longos períodos para desenvolver pesquisas de pós-doutorado, sempre apoiado por bolsas de pesquisa, aquelas tão sonhadas por muitos que, ao meu lado, não conseguiam. Sempre fiz bem o que devia fazer, cumprindo minha missão de professor e pesquisador. E na vida pessoal, idem.
Aos poucos, porém, elas foram se achegando. Sem grandes alardes. Sim, elas, as dúvidas, os medos, as aflições, os desapontamentos, as desilusões, os desencantos. Ainda fiz de tudo para manter as aparências, e o que mais consegui foram paupérrimos anos de desesperadas tentativas infrutíferas. Adiei as transformações, mas não as evitei. Já havia estudado tanto, como poderia ainda ter coisas tão profundas para aprender? Pois é! Quando mais pensei que não tinha mais quase nada de grandioso para aprender, eis-me como mero aprendiz novamente. Como a Bíblia diz que ouro e prata são provados pelo fogo, me confortei. Foram sete anos de purificação mais intensa. E eis que no meu sétimo setênio me vi às voltas com o novo em minha vida, como se tivesse nascido de novo. Comecei a entender melhor Nicodemos. Despertei para uma vida que não conhecia, ou que havia deixado no meu sótão como peça preciosa, mas não usada. Hoje aprendo com o novo, com a nova concepção de educação e vida. Agora, mais do que nunca, é a educação para o ser. Aprendo que o tempo não é reversível como as leis da Física Clássica tanto me ensinaram, mas que guarda uma flecha que determina a evolução dos sistemas. Aprendo, agora, sobre a Física do não-equilíbrio, dos fenômenos não-lineares. Aprendo que, exceção feita aos sistemas simples e lineares que não existem naturalmente, não posso usar as trajetórias lineares para fazer previsões como querem os mecanicistas. Em sistemas naturais, complexos, só posso falar em rede, interconexão e formação de padrões, os charmosos fractais. Aprendo que ensinar é se abrir à possibilidade de aprender, sempre. Aprendo que a Física Quântica funciona na prática e não apenas nas equações de Schrodinger para partículas confinadas numa caixa, como aprendi na graduação. Compreendo que a telepatia nada mais é que uma das possibilidades do emaranhamento quântico e que isso funciona com qualquer ser vivo. Compreendo que a comunicação entre seres pode se dar independentemente de tempo e espaço e que, portanto, a conversa com os espíritos não é coisa de outro mundo. É do nosso próprio. Vejo que a verdadeira educação, sem barreiras, é libertadora, fazendo do ser humano senhor de seu próprio destino. E que só assim se constroem sociedades e nações que sabem o que querem para construir sua história de evolução. Pena de não ter aprendido isso antes? Claro que não! É agora a hora, o momento em que me encontro aberto a essas novidades que os três dias no ventre do grande peixe me ensinaram a enxergar. Três dias que para mim foram sete anos. Penso que passei por mais um teste, aquele para se conhecer a Deus na vida adulta, segundo palavras do próprio Mestre ao falar do sinal de Jonas. Que bom poder se sentir novo e acolher palavras e atitudes dos filhos e dos alunos como caminhos de realização, de plenificação do ser. Dogmas que castram e limitam ficaram para trás. Que bom poder ouvir as músicas que elevam o ser e buscam a espiritualidade, essência do ser humano, e poder me sentir em paz. Que bom poder me mirar nos espelhos e cantar: “When you look at yourself, do you like what you see? If you like what you see, you´re the person you should be”. E sorrir por dentro, feliz, em companhia de meu anjo da guarda...
Ivan Amaral Guerrini
Professor Titular
Departamento de Física e Biofísica - IB
UNESP - Botucatu - SP
e-mail: guerrini@ibb.unesp.br
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