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Cronicas-->Cachorro da vizinha -- 10/02/2001 - 16:07 (Mastrô Figueyra de Athayde) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


De longa data, sempre fui boêmio. Adoro a noite, ou melhor, acho que sou uma parte dela. Uma parte que é adepto ao bom e velho chapéu panamá, que usa o tradicional terno de puxador de bateria de escola de samba carioca e é fanático por futebol. Não dispenso uma cervejinha bem gelada e a tradicionalíssima roda de samba, tendo sempre ao meu lado lindas mulheres. Loiras, morenas, ruivas, mulatas e japonesas. Uma vida digna de rei, para um mero trabalhador que `rala´ todos os dias para que possa ao menos ter um momento de alegria próximo aos seus amigos e amores.
Mas como tudo na vida não são flores, Biriba Bandeira, este é o meu nome, após mais uma das minhas tradicionais noites, eu caminha tranquilamente pelas `sossegadas´ ruas do centro campineiro. Passei pela Avenida Francisco Glicério, indo em direção à Vila Industrial. Não há mais ónibus, mesmo assim a distància não é mais empecilho. Vou embora ainda cantarolando e imaginado a próxima noite. Ao se aproximar de sua rua, construída por velhos paralelepípedos, boêmio que sou, vou prestando a mais que cuidadosa atenção, para que não passe do número 69. Este é o número da minha residência.
Neste clima de seneridade que paira no céu campineiro e pela mais que provável embriagues de Biriba, não encontrava a chave do cadeado do já enferrujado portão de ferro com detalhes em mosaico. No `catar´ das chaves, um barulho interrompe a paz tão almejada. Na verdade não era um barulho, mais um latido do cachorro da vizinha. Biriba havia acordado Sebastian, um pequeno baset de cor marrom. Sebastian começou a latir de uma forma descomunal, incomodando o mais pacato dos boêmios campineiros e toda a vizinhança da Rua Santos Dumond. O latir persistiu até o pobre do Biriba conseguir encontrar a maldita chave, entrando para casa. A partir deste dia, o `pequeno´ Sebastian começou a fazer ponto todas as noites em frente ao portão esperando pelo Biriba, para que pudesse fazer a sua tradicional seresta em `Dog Maior´, com sustenido agudo. Este `cantarolar´ do `pequeno´ Sebastian animava os outros cachorros da vizinhança, tornando-se uma verdadeira orquestra, comandados pelo maestro de origem Baset.
Nem os gritos do boêmio intimidava o bendito cachorro. Essa rotina durou exatos dois anos, até a noite em que Biriba retornou para a sua casa. Ao chegar não escutou a tradicional seresta em `Dog Maior´ com sustenido agudo. Velhaco que é, resolveu dar uma espiada no quintal da casa da vizinha. Nenhum sinal do Sebastian, mas Biriba reparou um pedaço de papel, embolado entre o muro e o portão. Era uma carta e nela dizia que o `pequeno´ Sebastian havia sido atropelado na manhã de hoje, morrendo no caminho do veterinário. Neste momento seus olhos enxeram de lágrimas. Biriba em uma profunda melancolia acabou passando a noite sentado na sarjeta da rua.
Ao amanhecer, Juliana, a dona do Sebastian abre o portão para ir na venda da esquina para comprar pão e vê o pobre Biriba sentado na sarjeta desolado. Juliana se aproxima e pergunta para o boêmio o que aconteceu, para que ele ficasse neste estado. Biriba se levanta, abraça calorosamente a bela jovem de cabelos loiros e diz apenas uma frase: "Nunca será como antes..." e sai em seguida ladeira abaixo pelas ruas inclinadas da Vila Industrial.
As palavras de Biriba retrata principalmente as muitas lembranças. A roda de samba, o futebol, a cerveja, as mulheres e o cachorro da vizinha, que ao longo dos tempos ele aprendeu a respeitar e admirar e que nunca mais escutaria o seu latido batizado por ele de `Dog Maior´ com sustenido agudo. Algumas coisas nos incomodam e, não damos a sua devida importància, mas quando caímos na real, aquilo que muitas vezes incomodam são muitas vezes para o bem, basta esperar, sonhar e acreditar.

Mastró Figueira de Athayde é cronista e estivador no Porto de Galinhas
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