PARA OCUPAR O PODER
(Por Domingos Oliveira Medeiros)
O Brasil não tem mais jeito
Até pra ocupar o poder
A coisa vem piorando
Não há mais o que fazer
Pra todo cargo indicado
Assim que é nomeado
Começam a aparecer
Dentro do pão bolorento
Os podres do indicado
As ligações perigosas
Escondidas no passado
Além da imaginação
Escandalizam a nação
Os erros do anunciado
Alguns demoram bastante
Disfarçam bem a jogada
Até recebem ajuda
De toda a companheirada
Mas não resistem a pressão
Acabam pedindo perdão
Com a cara mais lavada
São atores talentosos
Já vem de berço o passado
Simpáticos e bem falantes
Se dão bem em qualquer lado
Na esquerda ou na direita
Trazem a medida perfeita
Do sucesso planejado
São fieis e são cordeiros
Não se metem em confusão
Humildes e bem discretos
Ninguém lhes presta atenção
Até que um dia a revista
Investiga e dá a pista
De mais um provável ladrão
Ou de um simples sonegador
O crime mais corriqueiro
Que geralmente se dá
No sistema financeiro
A porta do paraíso
Pra ficar rico é preciso
Transferir todo o dinheiro
Pra longe de nossas vistas
Qualquer ilha é ideal
Na Suíça ou na França
Qualquer paraíso fiscal
Não precisa nem de mar
Pro tesouro enterrar
Basta ter o capital
Preencher o formulário
Aquele do Banco Central
Tudo de conformidade
Sem o ilícito penal
Pelo menos aparente
Para que ninguém atente
Que o ato é ilegal
E assim a nossa pátria
Coleciona amargura
Água mole bate em pedra
De vez em quando ela fura
E á tona aparece
A reputação que apodrece
A ferida que não cura
São vampiros e morcegos
Rosário de corrupção
São amigos de bicheiros
Não têm medo do Leão
Quase tudo é perfeito
Sempre arranjam jeito
De ganhar a licitação
E o mais interessante
É que a pessoa indicada
Para cargo importante
No Congresso é testada
Sua notoriedade
Bem como a veracidade
De reputação ilibada
Mas pelo jeito, parece
Não haverá mais solução
Ou se acaba a exigência
Ou não se faz indicação
Pois quase todo indicado
Traz no presente o passado
É freguês de outra eleição
Amigo do candidato
Já trocaram confidência
Até um dia sonharam
Em galgar a presidência
Ter um cargo ocupado
Esconder o seu passado
Reformando a Previdência
Fazer o seu pé-de-meia
Vingar-se do assalariado
Que nunca teve dinheiro
Para lhe ser emprestado
Por isso hoje a vingança
Vou fazer minha poupança
Às custas do aposentado
O dinheiro do orçamento
Vou deixar bem separado
Para agradar meus amigos
E outro qualquer deputado
Que queira ficar comigo
Ainda que por castigo
Tenha que mudar de lado
O resto é café pequeno
Adeus para a pobreza
Vou curtir o meu churrasco
Com vinho de sobremesa
Esperei por isso bastante
Uma luta incessante
Ta tudo bem, ta beleza!
Viajando de avião
Conheci o mundo inteiro
E vi como é difícil
Arranjar muito dinheiro
Por isso joguei a toalha
Ninguém mais me atrapalha
O mundo é meu parceiro
Jogo, fumo, danço e bebo
Como qualquer ser normal
Sou muito bom de improviso
No discurso sou “animal”
Dou as minhas cacetadas
Faço minhas enroladas
E me dou bem no final
Não me meto em intrigas
Meu projeto é alongado
Penso muito a longo prazo
E tomo muito cuidado
Pois não quero ver o dia
De acabar a fantasia
E eu ser aposentado