Só hoje, em uma sala de espera, li o artigo com o título acima, do historiador e professor da rede pública estadual de ensino de Pernambuco, José Ricardo de Souza, que passo para os leitores da Usina de Letras:
"A segunda intervenção Americana no Iraque, após a investida de 1991, a "Operação Tempestade no Deserto", é uma prova incontestável da política imperialista efetuada pelo presidente George W. Bush. Sob o pretexto de derrubar o ditador iraquiano Saddan Russein, os Estados Unidos abusam da prepotência e do autoritarismo para desencadear um novo conflito numa das regiões mais explosivas do planeta.
Como se não bastassem as divergências entre israelenses, palestinos e árabes,os Estados Unidos levam para a região mais um espetáculo de dor e sofrimento. Desta vez, os americanos, que se dizem defensores da democracia, foram longe demais, passaram por cima até das resoluções da ONU, ignoraram os protestos contra a guerra que ocorreram em todo o mundo(inclusive dentro dos EUA), e invadiram um país que praticamente
se desarmou para atender aos pedidos dos inspetores da ONU.
Se o Iraque fez o possível para evitar um conflito bélico, se foi benevolente até demais em abrir para as missões da ONU, se chegou a destruir mísseis, então por que essa nova guerra? Para agradar ao povo americano é que não é. A própria população dos EUA se mostrou contra esse ataque. A comunidade internacional, em sua maioria, também demonstrou seu repúdio contra as ações militares americanas. Não faltaram protestos dos mais diversos meios: religiosos, sindicalistas, ONGSs. enfim um monte de gente que pediu pela paz. Nada adiantou para aplacar a sanha belicista do Sr. Bush.
A indústria bélica aproveita a ocasião para mostrar suas novidades, top de linha na arte de destruir e matar pessoas inocentes, com suas armas modernas, sofisticadas, poderosas e milionárias. O custo de um míssil, por exemplo, que mata centenas daria para matar a fome de milhares de pessoas espalhadas pelos países subdesenvolvidos. Infelizmente, a indústria da morte teima em ganhar da indústria da vida, pondo em risco o futuro da própria humanidade. A vontade de vender armas supera o desejo de promover a vida digna nos países empobrecidos. Sem lembrar que os mesmos Estados Unidos que agora destroem o Iraque de Saddam com a mais alta tecnologia militar são os mesmos Estados Unidos que oprimem as nações subdesenvolvidas com o peso da dívida externa que provoca miséria e fome nos quatro cantos do planeta.
Não que Saddam Hussein seja um exemplo de governante para o mundo, muito pelo contrário, ele é um ditador cruel. que governa seu povo com mãos de ferro e condena à morte qualquer opositor do seu regime;mas ser obrigado a entregar seu país para os norte-americanos, aí já é demais. Bush faz seu papel de mocinho, mas é público e notório que ele quer mesmo é controlar os poços petrolíferos do Iraque e impor os interesses estratégicos dos EUA na região.Neste duelo de titãs quem perde mesmo é a população civil que fica exatamente na linha de fogo entre americanos e iraqueanos. É quem vai ter suas casas destruídas, vai abandonar seus bens, virar refugiados de guerra, chorar pelos seus mortos, etc.
Aqui entre nós, brasileiros, a guerra vai servir de pretexto para futuros aumentos dos combustíveis, além, é claro, da expectatitva quanto ao desenrolar dos acontecimentos. Ainda é cedo para arriscar algumas previsões, mas pelo mmenos uma coisa é certa, os Estados Unidos poderão vencer a guerra, mas perderão a paz. O medo de um atentado em território americano será onipresente, de modo que, nenhum cidadão poderá dormir sossegado sem o receio de uma bomba explodir em seu quintal.
Os Estados Unidos sabem porque temem tanto o poder do Iraque de Saddam, pois foram eles mesmos quem armaram o Iraque há décadas para enfrentar o hostil Irã do Aiatolá Khomeini, em tempos de Guerra Fria. O perigo de que Saddan tenha em seu poder armas químicas, biológicas ou até mesmo nucleares, não pode ser descartado, o que confere a esta nova Guerra no Golfo uma aventura arriscada e sob certo ponto de vista suicida para os norte-americanos, uma espécie de Vietnam programado.
Os desdobramentos práticos deste conflito ainda estão por serem desenhados. O novo perfíl geopolítico e porque não dizer estratégico do Oriente Médio vai depender e muito da correlação de forças que se estabelecerem na região após o fim das hostilidades. Se os Estados Unidos conseguirem derrubar Saddan Hussein, saem fortalecidos o Kuwait, Israel, e a Turqua; em caso de derrota, poderá haver uma coalizão de países árabes que imporão sua hegemonia sob os interesses americanos, principalmente na questão da produção e distribuição de petróleo;
Em qualquer das hipóteses acima, fica reforçado o medo de atentados terroristas, como já mencionei. Impérios, Sr. Bush, a História comprova isso, surgem, dominam povos e terras, mas também desaparecem, nunca são eternos. Assim foram com os Babilônicos, com os Persas, com os Romanos, com Alexandre Magno e Napoleão Bonaparte; com o III Reich de Hitler, e assim será com os Estados Unidos da América também. É apenas uma questão de tempo, ou - quem sabe? - de escolher o inimigom errado, no momento errado e de forma errada.
Folha de Pernambuco - Recife, 24-03-2003(Fl. 8) |