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Artigos-->O Milagre do Aprender -- 25/03/2003 - 17:02 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A Cartilha da Infância

(por Domingos Oliveira Medeiros)



Inesquecível o meu primeiro livro. O primeiro livro escolar. “A Cartilha da Infância”. Não me lembro o nome do autor. Mas conservo a sua imagem gravada na mente. A capa era de um verde garrafa. Um verde claro. Desbotado. O titulo era em preto. Um preto forte, que formava um belo contraste com o verde fraco. E tinha uma foto de um menino e de uma menina. De corpo inteiro e de mãos dadas. Eram parecidos, respectivamente, com o Pedrinho e a Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo.



Nas primeiras páginas, os primeiros ensinamentos. O contato com as letras, vogais e consoantes, nesta ordem. Depois, com as sílabas evoluindo para as palavras. Do meio para o final, textos pequenos e simples. Quem chegasse por lá já teria sido abençoado com o milagre da leitura. Um mundo novo ali começava.



E foi desse jeito que comecei a conhecer melhor um mundo novo . O mundo que se descortinava para mim. A historinha estava lá na cartilha. Seu título era “Os soldadinhos de Chumbo”. Contava a história de dois irmãos. João e José. De idades aproximadas. Por volta dos oito a dez anos. João ganhara de Natal um conjunto de soldadinhos de chumbo. Com formatos diferentes. Uns com rifles , outros agachados, rastejando, prestando continência, marchando; e diversas outras posições militares. Este presente era o cerne da história. Na verdade, uma fábula. Naturalmente, com tempero brasileiro.



O José, que era bastante invejoso, certa noite, sorrateiro, foi ao quarto do seu amigo e irmão e roubou alguns soldadinhos de chumbo. Com pressa, colocou no bolso da calça e foi dormir. No outro dia, acordaram cedo e, como de costume, foram para o quintal da casa brincar de subir em árvores. Uma das brincadeira preferidas.



José, o mais ousado, subiu primeiro. Enquanto o João ficou aguardando sua vez. De repente, começaram a cair do bolso do José os soldadinhos de chumbo. José desceu da árvore envergonhado. Sem saber o que dizer para o irmão. E o João também não sabia o que dizer para o José. Calado, recolheu os soldadinhos, e foi guardá-los na caixa de presente. Nesse dia os dois irmãos não mais brincaram e nem se falaram. A história terminava com uma frase que expressava uma mensagem contra o ato de furtar. Sugerindo que o crime jamais compensa.



Foi a minha primeira experiência de vida com atos delituosos. Com as nossas imperfeições.

De lá para cá tenho visto muitos soldadinhos de chumbo e de outros metais bem mais preciosos serem roubados. E nunca são encontrados.



Aos roubos e furtos agregaram-se as mentiras e a hipocrisia. Ambas apelidadas de “alibis”. E a gente vai perdendo, até mesmo, o sentimento de indignação. Tantos são os casos de corrupção, roubos e furtos. Cada vez mais banalizados. Agravados, muitas vezes, pela sensação de impunidade.



Sensação que , de fato, tem contribuído para a quebra de conceitos éticos e morais. Destruindo crenças e valores. Destruindo pessoas. Destruindo famílias. Desmoronando instituições e autoridades. Implantando a descrença. Acabando com o convívio sadio em nossa sociedade. Que está de pernas para o ar. Onde o que mais se vê são soldadinhos - civis e militares -, caindo de bolsos os mais diversos. Inundando o nosso chão de uma sujeira que gruda na alma e no corpo e parece que não tem mais fim. Sujeira de cor preta, que já ameaça a própria natureza. Tal como o petróleo que é derramado nos oceanos. Tal como o desmatamento e a indiferença para com o verde de nossas matas. Sujeira, aliás, de todas as cores. De todas as bandeiras. De todos os lugares. Do mundo inteiro. Sujeira globalizada.



Domingos Oliveira Medeiros

28 de novembro de 2002





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