Pode ser que a minha voz você jamais escute, pode ser que os meus olhos você nunca fite, talvez nunca sentirei a textura do teu abraço e você nunca saberá a temperatura do meu corpo e mesmo assim de mim, você tudo vai saber, porque me visto de palavras, desnudo os meus meandros, mancho o papel com meu sangue, faço dos meus olhos a tua visão.
Porque quando escrevo quase me esqueço de respirar, minha boca fica na ponta dos dedos, transformo o meu chumbo em ouro, faço do átimo entre as piscadas dos meus olhos meu reino da imaginação, meu pensamento é feito terra fértil onde se plantando tudo dá.
Preciso escrever tanto quanto preciso ler o que as pessoas me escrevem, porque a sua maior
certeza talvez seja a minha mais perfeita dúvida e a minha pequena dúvida talvez seja a sua maior certeza.
As tuas repostas talvez sejam as minhas perguntas e as minhas perguntas as tuas respostas...sem essa troca, sem esse carinho, jamais vamos saber de mim ou de você.
Quero ser vago, feito onda no mar sem praia pra quebrar, quero ser metafórico feito à morte em busca de um pouquinho de vida, quero ser preciso feito chuva em dia de verão, quero ser subjetivo feito uma opinião.
Quero ser denso feito os mistérios de uma esfinge que se eu não decifrar irá me devorar pedacinho por pedacinho, quero ser leve feito grão de areia voando no vento sem saber onde vai pousar.
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