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Cronicas-->O resgate da onça-parda. -- 24/03/2008 - 10:02 (Giovanni Salera Júnior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O RESGATE DA ONÇA-PARDA

Hoje, toda a comunidade de Aliança do Tocantins, sul do Estado, ficou assustada quando viu uma onça-parda (Puma concolor) correndo bem no centro da cidade. Isso aconteceu bem cedo, por volta de 7:00 horas da manhã.
Parece brincadeira, mas os moradores de Aliança foram despertados com o alvoroço dos cachorros e das crianças correndo atrás de uma onça-parda fêmea.
Para fugir dos cachorros da vizinhança, a onça-parda procurou abrigo pulando os muros da Escola Estadual Anita Moreno e se escondendo no meio das folhagens de uma árvore situada no pátio da escola, bem próximo a quadra de esportes.
Nesse momento, os funcionários da escola que estavam fazendo a faxina semanal saíram correndo.
"Muitos de nós, quando vimos a onça, saímos gritando e pedindo clemência a Deus, pois ninguém em sã consciência espera ver uma onça adulta correndo pelas dependências de uma escola", desabafou uma das funcionárias.
Após terem evacuado o local, o vigia da escola, com o apoio de outros cidadãos da cidade, entrou em contato com a polícia militar e com os órgãos de meio ambiente (CIPAMA, IBAMA e NATURATINS).
Imediatamente, uma equipe da policia militar foi ao local, e, em seguida, por volta de 9:00 horas, chegou uma equipe da CIPAMA de Gurupi. Alguns minutos mais tarde chegou uma outra equipe de funcionários do NATURATINS de Gurupi. E, por volta de 12:00 horas, chegou uma caminhonete com servidores da CIPAMA de Palmas que traziam uma grande jaula que poderia ser usada para transportar o animal. Para completar, uma viatura da Polícia Rodoviária Federal chegou um pouco depois, por volta de 14:00 horas.
Vale destacar também que a chegada da imprensa ao local serviu ainda mais para que inúmeras pessoas da comunidade se dirigissem para as cercanias da escola.
"A cidade toda parou para ver a onça-parda, pois nunca antes havíamos visto tantos policiais reunidos aqui para resolver um problema assim" declarou um morador do local. E, completou dizendo: "tantos policiais assim, só quando há um comício de grandes autoridades em tempo de eleições".
Nesse momento, não havia dúvida que o número de pessoas disponíveis para capturar o animal era suficiente, mas ainda assim faltavam equipamentos necessários para a captura da onça.
Segundo informações dos policiais e ficais que estavam ali, para capturar uma onça adulta como aquela (que pesava em torno de 70 kg) seria necessário a utilização de dardos tranquilizantes, que poderiam ser disparados por uma arma (espingarda ou pistola) de ar comprimido, ou por uma zarabatana, que é um instrumento de sopro, fácil de ser manipulado, que ainda hoje é empregado por diversos grupos indígenas do Brasil para caçar, principalmente, pássaros e macacos.
Os servidores do NATURATINS, do IBAMA e da CIPAMA estão bastante habituados à captura de cobras, tamanduás, macacos, raposas, porcos-espinhos, quatis e diversos outros animais em áreas urbanas. Para verificar isso, basta ver os registros das ações desses órgãos e as diversas matérias veiculadas nos últimos anos na imprensa escrita e falada. "Mas, não há dúvida que ver e capturar uma onça adulta em pleno centro da cidade é algo bastante fora do comum para todos nós", afirmou um dos policiais presentes.
"Capturar animais pequenos e inofensivos é fácil, pois podemos chegar perto, laçá-los com cordas ou capturá-los com redes e puçás, mas no caso de grandes animais como onças, queixadas, lobos e antas, a situação é bem diferente", completou um fiscal do NATURATINS.
Foi por isso que eles foram buscar ajuda contactando diversos profissionais da Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal, Centro de Controle de Zoonoses, Corpo de Bombeiros, donos de clínicas veterinárias, professores universitários da UFT e da ULBRA. Mas, após tudo isso, eles não encontraram ninguém que disponibilizasse uma arma com dardos tranquilizantes que pudesse servir para capturar a onça-parda que estava acuada na escola.
Pesquisando em diversos sites na internet, vi que há uma grande variedade de armas desse tipo, com preços bem variados. Vi valores que íam desde R$ 450,00 (para armas usadas) até cerca de R$ 5.000,00 (para armas importadas da Europa e Estados Unidos). Mas, no geral, os valores giram em torno de R$ 2.500,00 que, conforme acredito, são compatíveis com os recursos que podem ser disponibilizados pelos órgãos ambientais para adquirir três unidades, sendo uma para Palmas, outra para Gurupi e uma para Araguaína.
Ao consultar os valores de zarabatanas, fiquei ainda mais surpreso, pois a diversidade de preços desses instrumentos é impressionante. Só para se ter idéia, é possível adquirir uma zarabatana de produção caseira por menos de R$ 30,00; e as mais caras podem ultrapassar facilmente R$ 1.000,00.
Da mesma forma, os valores dos dardos tranquilizantes são bastante diversificados também. É possível fazer um dardo caseiro usando duas seringas descartáveis por um preço inferior a R$ 5,00; e os mais caros chegam a R$ 50,00. Um kit contendo 10 dardos de produção nacional equivale a R$ 300,00; e um kit equivalente de dardos importados pode chegar a R$ 500,00.
Não sei ao certo o que é melhor para nós tocantinenses, se são as armas de ar comprimido importadas da Europa ou as zarabatanas de fabricação caseira vindas do Nordeste, mas uma coisa eu sei: "numa situação assim, não é admissível que alguém da sociedade ou mesmo um dos servidores dos órgãos ambientais se machuque por falta de equipamentos".
Ao final de tudo quero esclarecer ainda que (por volta das 16:00 horas) a onça-parda se cansou de esperar a chegada dos dardos tranquilizantes e desceu da árvore, saiu correndo pelas ruas, pulando muros, atravessando quintais e, é claro, gerando muito susto e gritaria por onde passava. Enquanto a onça corria, uma parte dos espectadores fugiu para se salvar e uma outra parte composta, principalmente, de crianças seguiu atrás do bicho atirando pedras e fazendo algazarra.
Depois de uma longa jornada cruzando o centro da cidade, causando sustos, arrepios e choros, a onça-parda resolveu ir em direção à periferia da cidade. Assim, ela voltou para o mato, onde terá que sobreviver dividindo seu espaço com os caçadores, os desmatamentos, as queimadas e as áreas de pecuária e lavoura.

Publicado no Jornal Mesa de Bar News, edição n. 251, p. 04, de 07/03/2008. Gurupi - Estado do Tocantins.

Giovanni Salera Júnior é Mestre em Ciências do Ambiente e Especialista em Direito Ambiental.
E-mail: salerajunior@yahoo.com.br
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