Tadeu
- Toninho, o que significa o triângulo imagético aqui por cima?...
Toninho
- Então... Não és capaz de discernir?...
Tadeu
- Ora, um lauto túmulo interior, para o morto não apanhar frio nem chuva... O gajo era rico pra caraças. Uma campa rasa, de um pobreta qualquer. Um magnífico pôr-do-sol... Bem, pá, que tens a mania que és poeta, explica lá...
Toninho
- Pois, ó graçolas, eu explico: no espaço, que no caso está em fase magnífica, flutuam todos os mortos...
Tadeu
- Alto lá... Não estou a ver nada...
Toninho
- Não, não vês nada, mas estão lá todos, quer fisicamente, nas partículas que dos seus restos mortais se evaporaram e ascenderam ao espaço, quer espiritualmente, como é o meu caso, sempre que penso nos meus queridos mortos...
Tadeu
- Quer dizer, quando venta ou quando chove, estou a apanhar com bocadinhos de mortos em cima?...
Toninho
- Estás, não tenhas dúvida...
Tadeu
- Apre, de futuro, vou passar o mais longe possível dos cemitérios e já não quero ir para o céu...
António Torre da Guia
O Lusineiro
|