A farrá do boi
Moacir Rodrigues
No ano de 1962, vinha eu da Fazenda das Canoas para a cidade de Montes Claros, nas Minas Gerais, quando me deparei com um quadro muito interessante. Um cidadão ia de fusca numa estrada encascalhada e desenvolvendo uma certa velocidade e, de um momento para o outro, surgiu à sua frente um boi que atravessava a estrada. Como não deu tempo de frear o carro, o boi assustado tentou dar um coice no veículo com os dois pés. Neste momento, ao tocar os dois pés no pára-brisa do fusca o vidro dianteiro quebrou e as duas pernas do boi penetraram para dentro do fusca e ficaram agarradas no carro, levando o motorista a ficar preso entre os dois pés do dito boi. O animal muito assustado, passou a andar com as mãos, como se tivesse nadando, e a arrastar o carro, sendo que suas pernas não se liberavam da frente do automóvel. Como o boi fazia muita força, passou também a fazer cocô na cabeça do motorista, que, com o corpo preso, virava o rosto para um lado e para outro, principalmente quando o estrume do animal caia quente, quase fervendo, na sua cabeça. Como foram reunindo vários motoristas e passageiros que chegavam de um lado e outro da rodovia, juntamos um grupo para esticar as pernas do boi para que o animal se liberasse do veículo. Ao ser retirado do carro o cidadão nem mesmo agüentava a ficar em pé. Estava tonto e muito aborrecido com aquele maldito acidente. Você já pensou a situação do pobre do motorista. Depois de liberados o boi e o motorista, fomos forçados a arranjar água em um córrego ali próximo para lavar o estrume que caiu na cabeça do infeliz. Você já viu uma tragédia igual ?
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