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cronicas-->A gemada de Araxá -- 05/03/2008 - 19:56 (Jader Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A gemada de Araxá
Gemada de Araxá

Estive muitas vezes trabalhando em Araxá, MG, mas sempre achava um tempinho para fazer turismo. Conheci o Hotel do Barreiro, um cassino onde Getúlio Vargas e Juscelino passavam suas férias de fim de ano e mergulhei na lama negra e milagrosa dos seus famosos banhos medicinais. Fui ver o museu da dona Beija, aquela mesma dama que tornou popular o então obscuro costureiro Clodovil. Entrei na agência chique do Banco do Brasil, cujo piso é todo feito em ardósia polida, rezei do meu jeito nas igrejas seculares e riquíssimas da cidade, bebi da água sulfurosa local, de supostos poderes miraculosos. Uma coisa, porém, me ficou gravada na memória para sempre: A gemada dourada, de insuspeitos poderes afrodisíacos, que tomei "sem querer querendo", num tradicional bar da cidade.
Era cedo, um pouco antes das seis da manhà, o meu vendedor ainda dormia no hotel e eu já descia a rua do museu, fazendo a minha caminhada matinal e rotineira. De repente, senti um aroma delicioso. O cheiro vinha de um bar simples e simpático onde vários senhores idosos conversavam e aparentemente tomavam café em enormes xícaras grossas de louça. Entrei para conferir. Não era café, era uma gemada que saboreavam, gemada diferente, feita com canela, folha e casca de limão e baunilha. Atrás do balcão havia um tacho de alumínio enorme, de paredes altas e grossas, cheio de um líquido amarelo e fervente. Era dali que brotava o perfume delicioso que eu sentira de longe. O dono do bar era um cara legal e comunicativo, um sujeito magro de meia idade, muito alegre. Quando meu viu entrando, sorriu e pegou uma enorme concha de alumínio e mexeu o líquido amarelo, encheu uma xícara igual ao dos demais fregueses e, sem me perguntar nada, ofereceu-me dizendo a frase terrível: "Temos mais um brocha novo no pedaço...", e caíram todos na gargalhada. Fiquei injuriado com a liberdade deles, meio cismado com a brincadeira, tentei recusar a oferta e escapar, mas acabei aceitando a xícara perfumada e fumegante. Era uma brincadeira do simpático mineiro que afinal não estava totalmente errado no seu diagnóstico a respeito da minha virilidade. Bebi e gostei.
No dia seguinte e no resto da semana voltei lá com cara de besta para repetir a dose. Quanto às virtudes afrodisíacas do produto não posso dizer que notei alguma diferença significativa, mas o sabor era uma verdadeira perdição. Hoje, muitos anos depois, quando escuto falar de Araxá, lembro daquela gemada feita com ovos de ouro e me recordo muito mais dela do que de qualquer outra coisa que tenha visto por lá. O "bar dos brochas" ficou para sempre gravado na minha memória. A cidade, bem grande, para mim virou apenas um enorme tacho amarelo recendendo a canela, limão e baunilha. Se um dia eu criar coragem e perder a preguiça mórbida que peguei das estradas, juro que volto lá. E levarei comigo os amigos da minha Taubaté querida. Um ónibus talvez seja pouco.





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