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Cronicas-->Bilhete na Garrafa -- 29/10/1999 - 07:46 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Outro dia eu andava por aí e encontrei uma garrafa no chão. Era uma garrafa de vinho, já velha. O rótulo escrito em algum idioma estranho. O próprio alfabeto eu desconhecia. Não sei bem porque me chamou a atenção, mas como não fico chutando garrafas, parei para olhar. Dentro parecia ter um bilhete, como aquelas garrafas que se jogam ao mar para ver onde vão chegar. Não resisti e abri. De fato, tinha o que parece ser um bilhete , ou talvez uma página de um diário. Papel muito fino, mas resistente, letra muito pequena. Não sei, mas parece ser só um rascunho pois estava todo amassado. Não tenho idéia como isto veio parar aqui, tão longe do mar, mas considerando a autoria provável, e que o mar fica a mais de mil quilómetros, imagino que tenha caído por descuido na última chuva. Não sei se devia, mas vai aí a transcrição do bilhete, pelo menos a parte que consegui decifrar:

"O ano 2000 está chegando e, confesso, está dando uma moleza. Outro milênio, tudo de novo. Reformar tudo o que se fez no último e foi tanta coisa, só para falar no século XX. Mas de que adiantou se tem que consertar tudo agora? Todo milênio é a mesma coisa. Novas invenções, mas acabam se matando por causa ou através delas. Agora veja só, deu no que deu. Toda essa gente passando fome, esta seca que não termina em tempo. O desemprego. Não conseguiram o penta, sem falar a quantidade de propaganda que há nos canais da TVA. E agora a CPMF que vai entrar milênio a dentro.

Não sei, talvez seja melhor um dilúvio. Assim o pessoal se acalma e pára um pouco para pensar, esfria a cabeça e, quem sabe, no próximo milênio não repete esta porcaria toda. Assim, até o pessoal se refazer eu posso descansar um pouco sem todo este barulho que vem lá de baixo, sem todos estes pedidos, estas lamúrias todas, este chororó interminável.

E este tal Bug. Dizem que é coisa do demo, mas coitado, ele nada tem a ver com isto. O pessoal lá é que achou que tinha que economizar memória e fez esta porcaria toda. Só Eu sei a ladainha que vai ser, uma chatice. São Pedro vai ficar no meu ouvido dizendo que o pessoal que mal tinha ido já está voltando dizendo que tem mais que cem anos. Quando eu mandar chamar o pessoal que não veio na hora combinada, vai ter gente dando desculpa furada e colocando a culpa no tal bug. Que confusão, que chatice. Como diria o Outro, assim não pode, assim não dá, é um nhenhenhem.

Sei não, talvez degele os pólos e espero que tudo comece de novo. Água fria parece melhor. Eu sei que é uma desgraceira, mas já tentei de tudo. Dilúvio, terremoto, vulcão, já petrifiquei uns e outros, até o meu principal assessor eu mandei lá para ver se consertava. Em vez de ouvi-lo, acabaram machucando o rapaz.

Mas se faço isto estrago a festa em Copacabana e aí vão dizer que eu não sou mais brasileiro, que eu nunca fui, vão ficar reclamando mais ainda. Vão lembrar, de novo, que deveriam ter sido penta no século XX, que vem o dilúvio antes do penta, pedir para esperar até 2002. Vão ficar dizendo que ganhar Roland Garros não foi uma compensação e nem bi conseguiram lá. Já sei. Vão dizer também que não deu nem para comemorar os quinhentos anos e que a Globo gastou muito na festa. E tem o pessoal que já fez reserva, vai querer ir no Procon e mais ladainha, mais choradeira.

Bem, pra encurtar a história, deixa Eu fazer o seguinte. Também não sei porque esta minha fixação por enchente. Vou marcar um prazo, mas olha lá, é o último. Mais quinhentos anos".

Ainda bem, mas sempre é bom lembrar que o bilhete estava amassado.

- Escrito em 17.06.99


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