Tolo amor
maria da graça almeida
Em meio à multidão,
que tenta tua renovação,
obstinado, segues.
Vens de um caminho
desencontrado e sob a língua
trazes ditos que te minguam.
Das águas espraiadas,
carregas nas pálpebras
-pelos resquícios do sal-
a gota petrificada.
Do próprio corpo,
és o peso mais pesado
e na velhice da mochila
levas o azinhavre do troféu
dos derrotados.
Ao invés de um coração,
tens no peito
o elástico da forquilha
que derruba a pomba
do céu de desânimo azul
e afoga o cisne da água,
antes, esmeralda.
No horizonte,
a mesmice do refrão;
no destino, o tatear da cegueira.
Na sina, a palidez do profeta
e o anonimato dos maltrapilhos.
No riso falso, a face dos mascarados.
No choro, a valia dos vagões
descarrilados.
Sob olhares que te reprovam,
alardeias que já não te sirvo.
E eu, do quanto te amei,
tola, inda te dou provas,
ao dispor-te o melhor
do melhor que de mim
salvaguardei.
maria da graça almeida
fevereiro/ 2004
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