Oralidade reprimida
Maria da Graça Almeida
A emoção distraída,
na caneta, de saída,
flui bem devagarzinho
e nos despe aos pouquinhos.
A boca, largo orifício,
desnuda, enquanto veículo,
a emoção que em amplo espaço,
tropeça nos próprios passos.
Assim, prefiro escrever,
uma vez que o leitor-
tão discreto esse ser-
oculta-se atrás do escrito,
quando disposto a saber.
Dificulta-me falar,
tendo logo e à frente,
olhos que fitam a gente
e ansiosos só aguardam
por dizeres indulgentes.
Falando, faço-me breve,
escrevendo, mais me estendo.
O som esvai-se ao vento,
mas as letras no papel
seguras vencem o tempo.
Maria da Graça Almeida |