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Contos-->Nas cinzas do meu espelho, tantos carnavais... -- 10/03/2019 - 10:11 (paulino vergetti neto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Nas cinzas do meu espelho, tantos carnavais...

 

 

Tudo se findou. Pareço leso e ileso ao mesmo tempo. Pernas fraquejando e a memória repleta de lembranças boas e outras nem tanto. O que fiz ou deixei de fazer ficaram para trás. O mundo continuará no pós Carnaval até o próximo, para tantos. Outros morrerão. Tomara que não sejam muitos!

Não me lembro de tudo. Marilia e eu subíamos uma íngreme ladeira em Olinda, quando nos puseram um pano ao nariz, com delicada força. Acho que apagamos porque acordamos sob a sombra imensa de uma copa de uma jaqueira. Ouvia pássaros cantando e badalos que não me traduziam onde estavam nem que os mexiam. Olhei para Olynda e ela me disse que estávamos na quaresma. Eu lá queria saber de nada a não ser onde estava e o que teriam feito comigo. Minha virilha doía um pouco. Tentei pôr uma das mãos nela, e alguém, por trás, não me permitiu. Olhei torcendo o pescoço e meus olhos não puderam enxergar. Mandei que as palavras me trouxessem a resposta. Quem está por trás de mim? Recebi um abraço fraternal e um beijo na nuca. Gostei, e em seguida senti um medo estranho, excitador. Coisa maluca, mesmo.

−Queremos nos divertir com vocês. Não lhes faremos mal algum. Acreditem. Já fizemos boa parte para o que nos propomos. Pode até parecer uma loucura de Carnaval, mas representa algo bem mais interessante.

Vi que Olynda arregalou os olhos e falou: “são lindos! ” Então seriam mais de um, Homens, bandidos? Conheci pela pegada firme e o cheiro de pouca higiene. Sudorese intensa e forte. Meu Deus! Minha saia estava rasgada. Não senti a calcinha no lugar apropiado. As costas doíam. Tentei levantar-me. Deixaram. Pude ver os três. Um parecia afeminado. Estava abraçado ao mais alto de todos. Olynda tinha razão, eram lindos homens, mas, traziam olhos estranhos, sempre arregalados e avermelhados. Pareciam ter espinhos no solado dos pés, não paravam de levantá-los. Entorpecentes? Pensei em tudo o que poderia estar de ruim entre eles e o perigo que corríamos estando ali em tais companhias. Muito medo, mesmo!

As cinzas daquele começo de quarta-feira transformaram-se em vivas brasas. Terror à vista. Gritei. Levei o primeiro tapa na cara. Chamei porra. Era outro, menos forte, do outro lado, quem havia me machucado.

− Acalme-se, amiga, tudo se resolverá. Paciência. Eles não nos matarão.

− Olynda, já fizeram tanto mal com nossos corpos que até´ nossas almas estão ardendo. Brasas miseráveis. Paciência? Onde irei arranjar um pouquinho sequer dela? Porra, amiga, tu estás é gostando desse inferno. Até desconheço a amiga de ontem. Deus meu!

A história começou a ser desvendada.

Fomos levadas por três marginais vestidos de marinheiros. Confundiram os foliões dizendo que éramos suas irmãs e tomávamos remédios controlados para sérios problemas mentais. Os estranhos até os ajudaram a pôr-nos no carro, distante de onde estávamos quase um quilômetro. A sombra pertencia a uma árvore do sítio alugado ao terceiro, o que achei com trejeitos afeminados. Perguntei o que haviam feito conosco. O mais alto e mais bonito, belo, respondeu dentre sorrisos mais que alegres, o que eu não queria ter ouvido. “ Fizemos o melhor amor do mundo com vocês. Quando perguntei se os três, ouvi que apenas o afeminado havia se deitado comigo. Cuspi nos pés do narrador e levei um chega para lá nem tão discreto. Aquietei-me. Não poderia estar dificultando. Era necessário sair viva daquele lugar, a todo o custo.

O que poupava o diálogo era irlandês. Não sabias mais nem o que era a palavra obrigado em português. Nem feio nem bonito, mas elegante. Estava menos mal-cheiroso e desarrumado.

Passava do meio dia quando pedi água. A ressaca estava mostrando as asas. Olhava para o homem que havia me usado e sentia vontade de matá-lo e fugir dali em toda a velocidade que as pernas permitissem. Era inviável. Pedi para conversar com ele a sós. Desejava fazer-lhe algumas perguntas. Negaram-me! Sempre o mais alto. Ouvi pela primeira vez a força que o meu tinha na voz. Gritou com ambos em inglês para que o outro entendesse. E em um balé sincrônico vi as duas cabeças concordarem. Levantei-me já com a ajuda do terceiro homem. Fomos para outra sombra próximo da que estávamos. Talvez 100 metros. Outra árvore de tronco ainda maior

Ele sentou-se entre as que emergiam da terra, duas grossas raízes, e pediu para que sentasse em seu colo,  me  acomodasse bem e não sentisse qualquer medo. Não me faria nenhum mal.

−Como posso ter essa certeza?

−Minha palavra.

−Vai, fala logo!

− O que queres saber?

Levantei meus pedaços de saia, vi que da calcinha nada existia e que estava com as carnes doidas. A vagina não me incomodava. Cheguei a pensar que não havia me estuprado. O que você fez comigo?

− Amor. Muito amor. Fui delicado. Não sou hetero. Fiz com você sem causar nenhum trauma.

− Quer dizer que eu fui usada por um veado?

− Calma. Nunca me relacionei com ninguém do mesmo sexo. Por isso tento me relacionar dessa forma para descobrir o que sou. Quebrei as portas do meu armário e as joguei no mar. Procuro decidir-me. Gostei demais de fazer amor com você. Gostaria de namorar e casar.  O que me diz?

O homem meio veado, meio homem era um empresário bem-sucedido em Dublin, onde residia há quase 25 anos. Estava de férias no Brasil. Sua família era de Bauru, São Paulo. Quando lhe indaguei sobre que qualidade de sexo havia feito comigo, a surpresa foi ainda maior. A droga que me fizeram inalar, era um sonífero de ação curta que continuava com uma amnésia e cerca de 3 a 4 horas. Eu estaria normalíssima na relação e o tempo todo o chamei de Hércules, o nome do meu último namorado. Havíamos rompido o namoro pelo fato de ter vindo com minha querida amiga Olynda para Olinda afim de brincar o carnaval.

Muito surreal para meu gosto. Não sabia como agisse. Se desse um chute nos seus testículos ou se pedisse para repetir a experiência.

Ouvi um grito. Ele disse que eu não olhasse para trás. Curiosa, quis saber o porquê, ao que me respondeu: ” logo você saberá. Sua amiga adorou o irlandês. Pedi que ele me beijasse. Foi o melhor beijo que recebi em toda a minha vida. Pedi o resto. Avançou sobre meu corpo com uma volúpia invejável. Era uma pluma. Fui ao êxtase e pedi que repetisse tudo.

Carnaval, um pouco mais do meio-dia da quarta-feira de cinzas. Imaginei-me à frente de um enorme espelho. Me vi nua, alegre e farta de amor, após ter sido sequestrada por três desconhecidos em pleno carnaval de Olinda, ao lado de Olynda, feliz e já a sentir saudades dos dias que passaram rápidos demais. E minha resposta, qual deveria ser? Claro que um não bem dado. Depois de um lindo carnaval, outro, tétrico? Levantei-me e pedi para ir-me. Para onde?

− Ao inferno!

− Avise aos meus que estou morando na Irlanda. Vou viver com Rusk e Fernão. Gostei de tudo o que vi e senti, até do jeito que nos raptaram. Excitante. Mas colocaremos você no hotel, eles pagarão tudo e você voltará caladinha para não os prejudicar com a PF.

−Imunda. Jamais pensei que poderias ser tão promíscua. Desato agora nossos laços de amizade. Que você seja muito infeliz!

−Pois o que te desejo de todo o coração é que arrumes outra amiga que se deite faça um sexo tão bom contigo quanto o que fazíamos.

−Cale-se!

Quatro anos depois eles retornaram ao Brasil. Dessa vez para São Paulo. Não nos correspondíamos. Casei com o Arthur, com quem vivo infeliz até hoje, mas construindo uma personagem de invejável verdade. Às vezes nem sei quem estar vivendo, se ela ou eu. Está bom assim. A vida é mesmo um louco carnaval. As máscaras nos conduzem aos frevos. Amar faz bem. Muito bem, mesmo.

O pequeno diálogo que tive com os três foi porque Olynda gritou do lado de fora do estacionamento de um shopping: matasse ele, viu?

E com muita tristeza pude saber que o tal afeminado com quem me deitei, após tatuar o corpo inteiro com o meu nome, suicidou-se. Aí minha vida passou a conhecer meu terceiro carnaval. Senti um frevo horrível na alma. Olynda não estava mais em Olinda, mas sim, em Dublin, de férias, tirando o meu juízo para retornar a fazermos as estripulias do ontem. Estava viúva. Essa foi a razão da ida de minha amiga até a Irlanda!

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