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Artigos-->DÓLAR VERSUS ALAH -- 19/03/2003 - 21:30 (Márcio Abreu de França) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
(16/10/2002)



Na semana passada, soldados ingleses desembarcaram nos Estados Unidos com o objetivo de realizar treinamentos conjuntos com o exército norte-americano. Esta união de forças militares visa uma possível invasão das Forças Aliadas ao Iraque, já que o FBI declarou recentemente ter evidências do envolvimento do ditador Saddam Hussein na tragédia de 11 de setembro, quando aproximadamente 3.000 pessoas morreram.

Desde que assumiu o poder, depois de um conturbado processo eleitoral, o atual presidente norte-americano, George W. Bush, havia se comprometido à nação a combater a recessão econômica naquele país, que ali já apresentava sinais de desgastes. Em certo momento, declarou que ignoraria o protocolo de Kioto, se preciso fosse, para manter a estabilidade econômica de seu país. Agora pretende invadir o Iraque e depor o ditador Saddam Hussein.

O motivo oficial da investida militar são as evidências de que o Iraque apóia organizações terroristas ao redor do mundo (principalmente na venda de armas), inclusive para a Al Quaeda. E Saddam Hussein, ao que parece, nunca escondeu isso de ninguém. De fato, após os atentados terroristas de 11 de setembro, quando Bush declarou inimigo do povo norte-americano aquele que se opusesse a ajudá-los na luta contra o “eixo do mal” (“ou estão conosco, ou estão contra nós!”, foram suas palavras), a busca de apoio internacional para desmantelar organizações terroristas pelo mundo e, agora, para invadir o Iraque tornou-se uma obsessão de seu governo. Isso porque o motivo oficioso da invasão, todos sabem, é o riquíssimo patrimônio petrolífero que aquele país representa. Além disso já se fala de que isso representaria uma vingança de família, já que George Bush, o pai, vem sendo constantemente considerado culpado por não ter deposto Saddam em 1991, quando os E.U.A. venceram a Guerra do Golfo, e George Bush, o filho, como bom menino, estaria disposto a honrar seu pai. Mas isso é apenas um boato.

Um outro fator extra-oficial para a possível invasão seria a busca de apoio nacional para as ações do atual presidente, já que ele ainda procura colher os frutos da tragédia do World Trade Center, quando 80% da população norte-americana apoiaram investidas militares do governo no combate ao terrorismo. Contando com apoio popular, os planos expansionistas do atual governo norte-americano tornam-se mais próximos de saírem do papel, pois devido a essa pressão da população, o Congresso, teoricamente, se apressaria em aprovar ações bélicas de revide ao “eixo-do-mal”.

Com seu governo sendo periodicamente mal avaliado pela população e também por empresas e órgãos internacionais diversos, uma possível prisão de Bin Laden, e agora uma deposição de Saddam Hussein, poderiam significar uma elevação no nível de coesão nacional, o que aliviaria as críticas, se tornaria uma importante bandeira para seu partido nas eleições para senadores e deputados que se aproxima, além de fazer a população voltar a ter confiança no governo e menos medo ao sair de casa, movimentando o mercado consumidor e até, quem sabe, acalmando o mercado especulativo, dando um novo gás à economia daquele país. Pelo menos é nisso que acredita George W. Bush.

Seja qual for o verdadeiro motivo da invasão, o atual momento das relações humanas no planeta, ou, para ser mais específico e menos pretenso, das relações entre Ocidente X Oriente, não pode ser avaliado apenas por análises de conjuntura. Antes de se tomar uma posição sobre este assunto, uma analogia histórica, em casos como esses, se faz necessária. Isso porque não foi com os atentados de 11 de setembro que se evidenciaram as diferentes idéias de cada cultura. O que a derrubada do World Trade Center representou foi uma conseqüência natural, e até esperada, do expansionismo ocidental, seja ele físico, ideológico, econômico ou cultural, que há muito tempo se tornaram visivelmente brutais (isso não significa que não se deva lamentar as milhares de vidas civis que foram roubadas naquele dia). Ainda se poderia ir mais longe: em que proporção a cultura de determinado grupo étnico pode influenciar outros grupos, de modo a causar, por uma lado, total aceitação no estilo de vida, e por outro, rejeição e guerra?

Grande parte do aparato ideológico ocidental atual descende do Iluminismo, corrente filosófica concebida na Europa aproximadamente no século XVII. Foi assim que surgiram as primeiras idéias sobre direitos humanos universais¹. A democracia, como a vemos hoje, também é fruto do Iluminismo (apesar de seu berço ser mesmo a Grécia antiga, onde, de certa forma, já era praticada entre as elites sociais). O liberalismo econômico, pregado por Adam Smith, também nasceu do Iluminismo.

Tudo isso são apenas alguns exemplos de idéias surgidas no ocidente e que, a principio, se enquadrariam em nações cujo contexto social e cultural se mostrassem ocidentalizados. Apenas isso já seria controverso, pois tudo aquilo pregado pelo Iluminismo era, de certo modo, imposto pelas nações dominantes da época. Nações que detinham o poder econômico e militar. Vide o caso das seguidas independências nas Américas, onde o que estava em jogo era a quebra do monopólio econômico das metrópoles em relação às suas colônias, processo patrocinado de modo decisivo pela Inglaterra, verdadeira beneficiada com as revoluções americanas. Outro exemplo é o instrumento político adotado em praticamente todos esses países americanos: a democracia. Ou as Constituições Nacionais, todas influenciadas pela norte-americana e pela francesa, que por sua vez, sofrem influência direta do Iluminismo.

No Oriente, o imperialismo ocidental, agora representado pelos Estados Unidos, começou a colher os frutos no século passado, com o desenvolvimento tecnológico e econômico do Japão, Coréia do Sul, Tigres Asiáticos, e, recentemente, parte da China. Além disso, as drásticas mutações políticas e econômicas ocorridas no Leste Europeu, com o apoio dos E.U.A., também são um exemplo de força política e ideológica. Nesses países a influência ocidental é profunda. Seja no modelo político e/ou econômico, seja na maneira de se vestir, de comer. Seja na música, na cultura “pop”, nos fast foods, nos shoppings, etc (e muitos eteceteras!). Deu-se um nome (globalização) a esse processo de aculturação, e, posteriormente, interação econômica, política e cultural entre as mais diversas nações.

Embora seja o principal, a globalização não é o único fator de interação entre Ocidente e Oriente. Essa interação, aliás, sempre existiu, desde os primórdios da Antigüidade, passando pela Idade Média e suas Cruzadas, Eras das Navegações, etc. O que nunca havia acontecido era uma aculturação de modo tão rápido e violento como estamos presenciando atualmente.

A resposta oriental tardou, mas chegou, e de forma violenta. A interferência das Nações Unidas e dos E.U.A. no oriente médio para criação do Estado de Israel (visando abrigar os judeus perseguidos durante a Segunda Grande Guerra), foi considerado a gota d’água entre os povos mulçumanos. A religião transformou-se numa arma política extremamente importante para unir etnias dispersas entre o mundo islâmico contra os “inimigos de Alah”, e desde então, organizações terroristas se espalham pelo globo com essa finalidade. Líderes e ditadores utilizaram-se (e ainda hoje utilizam) de aparato ideológico para obter apoio popular e alcançar objetivos próprios². Saddam Hussein é só mais um exemplo disso.

Voltando a discussão inicial, está o mundo diante de um possível ataque norte-americano ao Iraque. Mais uma vez, o choque cultural e ideológico entre ocidente e oriente (com fins econômicos e políticos, diga-se de passagem) resulta em atritos externos. Bush quer envolver seus aliados na sua investida contra o terror, apesar de o primeiro ministro Gerhard Schroeder ter se reelegido na Alemanha utilizando um discurso antiguerra e Putim, desde a caçada ao terror no Afeganistão, procura manter a Rússia longe de conflitos bélicos. Ao mesmo tempo, Saddam conta com simpatizantes islâmicos, principalmente organizações terroristas, dispostos a ajudá-lo em caso de guerra.

Em meio a tudo isso, apenas uma verdade é absoluta: as investidas terroristas contra alvos ocidentais não terá fim com a prisão de Bin Laden ou deposição de Saddam Hussein. Enquanto o imperialismo ocidental não respeitar fronteiras e culturas distintas, outros Bin Ladens e Saddans continuarão surgindo, para enfrentar o “grande mal” que vem do ocidente. Mesmo que esse mal seja combatido para realizar desejos pessoais de líderes ditadores (que é o que parece estar acontecendo hoje). O “terror” ocidental, silencioso e lucrativo, que há séculos vem sendo vendido como a melhor forma de padrão de vida, parece ter encontrado um adversário à altura, menos discreto, porém não menos danoso ou covarde: o terrorismo armado. Quando isso terá fim? George W. Bush acha que tem a resposta e quer envolver o mundo no erro norte-americano que representa a guerra ao Iraque. Ao que parece, ela não tardará a chegar. De novo.



Márcio

16/10/2002





NOTAS



1. Apenas uma curiosidade: os direitos humanos são considerados “inalienáveis” pela Declaração dos Direitos Humanos da ONU. Ou seja, não se pode abrir mão deles.

2. Reconheço que, ao fazer essa afirmação, fui fortemente influenciado pelas idéias de Nietzsche.



Comentários, críticas, sugestões: marcioasis@msn.com - macioasis@bol.com.br

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