- Ele não está - respondeu a voz do outro lado da linha. Foi viajar.
Logo pensei que fora a Paris, local onde, segundo uma das lendas a respeito do LFV, ele se sente bem. É compreensível. A Cidade Luz que hospedou alguns dos grandes nomes da literatura mundial. Sossego, comida e vinho. É tudo o que ele gosta. Dizem também que Paris inspira os já inspirados e até os desatentos. Não tenho curiosidade de conhecer Paris, a não ser que me paguem a passagem de ida e volta e que me ensinem a chegar até a Itália de trem, a partir da capital francesa. Mas LFV estava no Brasil.
- Está em São Paulo.
- Sou de São Paulo.
- Ah, sim, São Paulo... Posso ajudar em algo?
Bem que o Pedro podia ajudar sim. "Fala pro seu pai me dar um pouco de inspiração. A propósito: sabia que eu gosto mais do seu pai do que do meu? Pelo menos na literatura. Meu pai escreve como se fosse um advogado. Vira e mexe parece o Odorico Paraguaçu em seus discursos extensos e fervorosos. Seu pai é mais sucinto." Fãs são exagerados. E, invariavelmente, pentelhos. Pedro me disse que o LFV voltaria na segunda-feira. Sou um fã de meia tigela, pois tenho vergonha de perturbar a tranquilidade dos meus ídolos. O único autógrafo que tenho é do Wladimir, lateral-esquerdo do Corinthians nas décadas de 70 e 80. Ainda assim porque foi um amigo quem pediu, só para constatar a minha cara sem graça diante da inusitada canetada na minha camisa 9 do Timão. Então não quis ligar na segunda. Mas a ansiedade tomou conta de mim e mal dormi naquela noite. Resisti terça e quarta-feira. Na quinta não deu.
- O Sr. Verissimo, por favor.
- Quem deseja?
Pensei em dizer que era o Éfe Agá e queria tomar satisfações. Não, não daria certo. Talvez devesse me apresentar como um repórter de um grande jornal. Mas quando minto gaguejo e perco o rumo. Então disse que era o Luís. "Só um momento, vou passar a ligação." Não acreditei. Pra ser bem sincero, liguei por ligar. Nunca imaginei que fosse realmente falar com o Verissimo, que atendeu prontamente.
- Pois não, o que deseja?
O que eu desejava? De verdade? Que ele escrevesse um livro e me vendesse o texto para eu registrar os direitos autorais. Ou, ao contrário, que por sobrecarga de trabalho, comprasse minhas Cronicas e as repassasse para o Estadão. Aposto que os seus fãs de carteirinha nem sentiriam a diferença. "Magnífico o texto do LFV de hoje, não?" Este é outro problema do fã. A cegueira pode chegar ao cúmulo de não perceber embustes deste tipo. Quem sabe não é uma de suas filhas ou mesmo o Pedro quem escreve alguns dos seus textos? Sei não...