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Artigos-->Saúde também pode contagiar -- 18/03/2003 - 19:01 (WASHINGTON ARAÚJO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Século XXI deverá, certamente, ser o século da integração e da solidariedade. Em vinte séculos de história a humanidade como um todo pôde constatar que a ausência de uma compreensão adequada da natureza humana, que é essencialmente cooperativa e fundamentalmente solidária, levou a intermináveis conflitos e guerras fraticidas que foram se avolumando no leito da História como tragédias que poderiam ter sido evitadas.



Toda a energia nelas despendidas poderiam ter sido canalizadas para a criação de um meio-ambiente sustentável, de uma cultura planetária sólida onde o que infelicita a parte infelicita o todo. E onde a diversidade racial e étnica, a diversidade social e cultural e a diversidade de crenças e de filosofias antes de serem vistas como barreiras e obstáculos ao estabelecimento de um mundo possível seriam vistas como características distintivas do apreço e do valor que cada indivíduo e cada nação podem dotar a história, a sua história universal.



A interdependência entre os povos e nações do planeta é já uma constatação por demais eloqüente para ser novamente enfatizada. O que ocorre em um subúrbio de Shangai é tão importante quanto o que, no mesmo momento, está ocorrendo nas proximidades do Quartier Latin, no coração de Paris. As fronteiras foram encolhidas pela multiplicidade de infovias conectando corações e mentes e anunciando uma nova estação do poder humano: a unidade do gênero humano é não apenas possível, como também, inevitável.



As idéias centrais acima apresentadas são facilmente identificadas em uma leitura rápida sobre os ensinamentos e princípios defendidos por sete milhões de bahá´ís, residindo em praticamente todos os países e territórios independentes do mundo. Foi no século XIX que o filho de um nobre persa, de nome Mirzá Husayn Ali (1817-1892), depois cognominado como Bahá´u´lláh, proclamou três verdades fundamentais: a existência de um Deus, a existência de uma Verdade religiosa, a existência de uma mesma e única espécie humana. Recepcionado pela sociedade persa da época, hoje Irã, com hostilidade e indiferença, a vida e os ensinamentos trazidos por esse nobre persa podem bem retratar o grito primordial de uma nascente ordem mundial. Um grito que proclama a igualdade de direitos entre homens e mulheres, que acende a chama do amor e da compaixão entre os seguidores das diversas denominações e experiências religiosas. Um grito também que anuncia o fim de uma história marcada pela divisão e o sectarismo econômico e social que cinde o tecido social da humanidade entre um pequeno número de ricos e as multidões de pobres e miseráveis do planeta.



Aqueles que professam os ensinamentos bahá´ís continuam fazendo ecoar esse grito primaz. De uma perspectiva podemos nos ver como sendo “as folhas e os ramos de uma mesma árvore”, como sendo “as flores coloridas de um único jardim” e é inegável a visão que o olho e o coração humano podem ter ao contemplar um pomar e um jardim multifacetados.



A cooperação é fruto do amor divino no coração humano. Quando lançamos a vista sobre o grau enraizado de conflitos que assolam 2/3 das nações do mundo e deixamos nosso pensamento vagar por lares destruídos da Faixa de Gaza, na antiga Palestina, hoje Israel, ou quando visitamos mentalmente planícies antes tão belas da Bósnia Herzegovina, hoje campo semeado de minas a detonar vidas humanas, ou quando circulamos, com pés de pombos, na extensa fronteira que separa a Índia do Paquistão e podemos ouvir os gritos de mentes assustadas ante a evidência de catástrofe nuclear, temos aquele aperto no coração como a nos colocar contra a parede com essas palavras que se recusam a calar: onde foi que erramos? Uma resposta possível está na ausência da cooperação.



Foi no vácuo criado pela falta de cooperação que vimos nações africanas inteiras serem subjugadas quando não pelas epidemias que grassam o continente, pela fome que interrompe milhares de vidas diariamente, mas também por intermináveis guerras e conflitos tribais de tristíssima recordação. Somente a cooperação entre as nações ricas e desenvolvidas visando ajudar as nações pobres e em baixo estágio de desenvolvimento poderá ensejar o estabelecimento de uma nova ordem mundial, justa, equânime, pacífica e solidária. Sem esta cooperação inadiável entre organismos internacionais do porte das Nações Unidas e do Parlamento Europeu, e também de países individuais que compõem o Grupo dos Sete-G-7, estaremos decretando a morte por inanição e omissão de milhões de seres humanos que na longa noite do tempo têm entrado na História pela porta dos fundos.



Uma compreensão de que o meio-ambiente necessita do nosso cuidado para que possa continuar cuidando de nós é, provavelmente, um dos exemplos mais concretos do que a cooperação humana pode gerar e produzir. Nos últimos anos, um exemplo concreto foi a existência do Protocolo de Kioto. Este protocolo internacional, que lamentavelmente não tem ainda a adesão dos Estados Unidos, trata da limitação de emissão de gases por países e a observância de suas cláusulas por parte de nações soberanas buscam proteger a atmosfera não de um país ou de um bloco de países, mas sim, do ar que se respira em todo o mundo. Para que chegássemos a este protocolo, a humanidade trilhou uma promissora estrada de cooperação internacional que, apenas para citar as últimas décadas do século XX, ensejou a existência da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Declaração dos Direitos da Criança, a Declaração da Terra e outros importantes diplomas legais que buscam beneficiar todos os que são herdeiros da experiência humana.



A cooperação de quase duas centenas de países membros da ONU tornaram possível a realização de uma dezena de conferências mundiais que trataram do estabelecimento da paz, dos direitos da mulher, do meio-ambiente e desenvolvimento auto-sustentado do planeta, da habitação mundial, da alimentação, dentre outros temas de grande relevância e que culminaram em setembro de 2000 com a realização em Nova Iorque da Cúpula do Milênio.



Esta Cúpula reuniu não apenas Chefes de Estado, Presidentes de Repúblicas, soberanos coroados, mas também representantes de muitas das religiões professadas em todo o mundo. O objetivo maior: criar pontes de diálogo entre governos e religiões, e entre poder, autoridade e influência.



Os bahá´ís acreditam que através da conjunção dessas forças poderemos trazer à existência um novo modelo de vida cooperativo que por sua vez irá avalizar um novo período da história humana, caracterizado pela paz e pela convivência pacífica entre os povos, as raças e os credos do mundo.



É difícil discorrer sobre um mundo cooperativo sem antes discorrer sobre a necessidade de termos indivíduos cooperativos. A cooperação é uma virtude que deve ser cultivada desde a mais tenra infância. Assim como as crianças aprendem desde cedo a praticar jogos competitivos, a lutar por conquistar o primeiro lugar em jogos e brincadeiras, a se esforçar por demonstrar maiores aptidões em certames e gincanas de conhecimentos e habilidades, assim também as crianças necessitam aprender jogos cooperativos , dentro de uma nova pedagogia que privilegie o trabalho em equipe em detrimento do trabalho unicamente individual, que fortaleça o apreço pela diversidade dos membros do grupo ao invés de realçar as características das personalidades individuais.



A cooperação pode e deve ser estudada ao longo da vida cultural de nossas crianças e jovens. Textos inspiradores podem ajudar os educadores a terem uma visão transdisciplinar desse tema. Neste contexto, não será muito difícil observar o poder da cooperação na descobertas de importantes vacinas e tratamentos médicos eficazes, no desenvolvimento de meios de locomoção em massa, na construção de ícones da arquitetura contemporânea, na produção de projetos cinematográficos audaciosos e assim por diante.



Uma fonte inesgotável tem sido e continuará ainda a ser os textos sagrados revelados pelos expoentes da religião mundial. Nesses textos a cooperação assume a forma do amor entre a criatura e o criador, do amor aos semelhantes, do amor que incendeia a imaginação criadora e se compraz em ver quão inumeráveis são os resultados de uma cooperação altruísta.



Bahá´u´lláh traçou as linhas básicas para a construção de um novo mundo, alicerçado na cooperação entre todos os seres humanos. Ele deixou como modelo decisório infalível a prática da consulta. A consulta é então praticada em todos os níveis da vida administrativa e comunitária bahá´í. E consiste no exercício de alguns pressupostos básicos, quais sejam:



As pessoas diante de um problema se reúnem, apresentam todos os fatos relacionados com o problema em si, observam as motivações, buscam determinar quais os princípios éticos, morais e espirituais ligados ao problema.



Cada participante da reunião deve então se expressar com total liberdade, com cortesia e com veracidade. Suas opiniões devem ser ditadas unicamente pela voz de sua consciência.



Um dos participantes da consulta pode oferecer sua contribuição como coordenador, aquele que delega a palavra a um ou a outro, que esclarece algum ponto nebuloso, que facilita que esta conversação possa fluir.



Os envolvidos no processo decisório da consulta bahá´í devem se livrar de qualquer forma de preconceito, de algum traço de qualquer forma de superioridade.



Ao final da reunião, quando todos sentem que disseram o que sentiam ser oportuno dizer, o coordenador pode colocar em votação para os presentes uma ou mais alternativas para a resolução do problema específico que estiveram consultando.



A alternativa que teve a anuência unânime dos participantes ou aquela que teve o assentimento da maioria dos participantes da reunião passa a ser a decisão a ser implementada por todos. Obviamente que estas poucas linhas acima oferecem apenas um pálido reflexo das implicações que esse ensinamento bahá´í traz para a vida ordenada da sociedade humana.



Imaginemos, então, a prática em grande escala de apenas esse ensinamento. Que sociedade humana teríamos? Que economia de recursos humanos poderia ser gerada? Quão forte seria o tecido social a nos unir e galvanizar? E quanto a lealdade entre governantes e governados, como seria diferente essa sempre, muito delicada, relação?



O fato é que a história está repleta de tragédias que se abatem sobre a sociedade humana apenas porque alguma qualidade ética, moral ou espiritual quando da resolução de conflitos não foi observada ou assimilada e assim, inexistindo um método eficaz para a tomada de decisões cruciais, crescem enormemente, desaguando em carnificinas amparadas unicamente pelo preconceito insidioso e na falta de intenções puras e sinceras entre as partes envolvidas.



Há que se acreditar que não apenas doença contagia. Saúde também pode contagiar. E o contágio da saúde se dá através da cooperação.





Washington Araújo é membro da Comunidade Bahá´í do Brasil e da Academia de Letras do Distrito Federal. É autor de uma dezena de livros, dentre estes, “Nova Ordem Mundial, Novos Paradigmas” (Editora Planeta Paz, 1995), “Liderança em Tempo de Transformação”, com Roberto Crema (Letrativa Editorial, 2002). Tem livros publicados no Brasil, Argentina, Espanha, Cuba e traduzidos para o inglês, alemão e italiano.

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