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Contos-->Parte 1- Ganha 1 milhão e se suicida.TCHEKOV... -- 11/09/2018 - 17:49 (Cida Piussi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos





        - A rapa é minha!



        - A mão é minha!



        - ...Desisto!





         A primeira bolinha de gude, "emoldurada", melhor, guardada no cofre do único banco da cidade. Vez em quando, uma passada lá, amaciava a menina e seguia. Ninguém entendia...Tão pequena que a mãe se preocupava.



         - Se esse moleque coloca na boca morre sufocado...





         De bolinha em bolinha foi tomando  gosto pelo jogo. Rinha de galos ( muitas vezes só de ver o sangue dos animais ele corria...até a bile vir pra fora), corrida de jegues, mas o prazer da aposta,ah!...nem a melhor trepada dava aquela sensação de...por segundos, minutos, uma letargia, inconsciência, um despregar-se do mundo. Morrer...seria isso?





         - Antônio Ciço da Silva, sim senhor!




         - Cícero?




         - Ciço, seu doutor!




         - Você pensa que está falando com quem, recruta de merda?




         - Não sou de Merda, seu Doutor comandante. Sou da Silva. Aqui, no papel, Antônio Ciço da Silva.





        Ciço das Apostas, assim ficou conhecido. Das bolinhas de gude a melhor carteador do exército. Aprendia rápido, espírito desafiador. Criado na dureza do sertão, em tempo recorde as manobras táticas; falta d'agua, chão duro, sol a pino, comer cobra, moleza. E havia quem reclamava.




 



        - Ciço!



        - Tô dormindo.



        - Ciçooooo!



       - Estou dormindo,não ouviu?



        - O jogo tá rolando...




        Palavra mágica. Dois minutos, na mesa...ele, Tadeu,o Comandante, major Cebola, tenente Lúcio e um desconhecido. Como sempre, limpou todos. O dinheiro? Ficava com 10 por cento do que havia ganho ( pouco, o soldo era baixo) e o restante devolvia. Jogava por prazer, dinhero era proibido. Mas, como era com o comandante... Destino? O mesmo banco...ajudar a família e fazer uma poupança. Recrutas sem segundo grau, o máximo em 30 anos é o posto de primeiro sargento e isto com muito esforço, e a reserva é compulsória.




        Terminou o segundo grau no exército. Voraz por livros de ficção e tecnologia de computação. Passa o tempo de lazer estudando táticas militares e descobre que há mais coisas no mundo virtual: um quebra-cabeças ainda não revelado. Xadrez. Aprendeu pela Internet, participa de campeonatos internacionais. Seus feitos em campo e como representante do país como enxadrista, colocam-no degraus acima para o posto seguinte. O doutor comandante que o chamara de merda,não raro o convoca para uma conversa reservada. É o seu braço direito. Sabe que na cabeça do ainda humilde nordestino um computador e uma roleta trabalham afinados.



        Agem no combate à prevenção do tráfico, em regiões limítrofes internacionais, na secura do sertão e dão suporte a grupos que atuam em outros locais. Ciço, mapa na mão, faz um desenho dos possíveis espaços que as quadrilhas utilizariam. A mente de um jogador, não um mero apostador é disciplinada, cada lance pode demorar segundos ou horas.



        Aos trinta, Segundo Sargento. Agora esperar para chegar a primeiro e a reserva...mas isto nem pensar...reserva. Queria trabahar e muito ainda...                                                           



       Condecorado, passara a primeiro sargento ( e também para a reserva) na mais drástica operação que participa em toda a carreira. Durante  dois anos seguiram pistas de uma quadrilha que sequestrava mulheres grávidas, pobres, aparentemente saudáveis prestes a parir, e os bebês nasciam de cesariana emergencial. Se não nasciam mortos, eram.




       Bom jogador, jeitão nordestino, infiltrava-se nos botecos, no famoso quartinho dos fundos. Perdia, ganhava, ia mais perdendo...então outros surgiam. Cartas.  ESSE era o seu jogo. Sentava lá a mão suava. Doía perder. O coração, o de um alcoólatra ou de um drogado privado do seu único prazer. Mas era trabalho. E com trabalho, qualquer deslize...



    Jogava " distraidamente" quando uma risada abafada e "presuntinhos"...Firmou o olho nas cartas, propôs aposta alta e se havia homem pra jogar com ele. Sabia, dinheiro ali era buraco sem fundo...um movimento errado,xeque-mate. Viraria presunto. Pior. Pó.



    Os "presuntinhos".... Tinha que ser. Os olhos fixos no jogo, os ouvidos na conversa. Fingindo-se cansado, xadrez pronto para o xeque-mate, levantou, juntou o dinheiro,enfiou nos bolsos e virou-se para sair. Quando chegava à porta do quartinho, um leve tapa nas costas:




      - Ciço das Apostas, por aqui? Quanta honra!



      - Como?



      - Esqueceu do amigo assim tão fácil?



     - Desculpe, mas tô saindo!



     - Jogamos juntos, no quartel!




     Fez o relatório, convocou os mais confiáveis e juntou as peças. Não falou do tal sujeto. Não queria ou não podia aceitar isso. Pura coincdência. Muitos amigos em jogo para  a operação ser posta em risco. E se o comandante pudesse pensar que estava desconfiando dele. Logo ele que sempre o ajudou,sempre o manteve por perto,sempre quis estar ciente de tudo. Não! Não! Ponto final.



     Designaram os melhores homens para seguirem mulheres grávidas prestes a dar à luz.  Uma, que tivera um caso semelhante na família disse que ajudaria. Faria o maior escândalo quando chegasse ao hospital e deveriam ligar imediatamente para o marido. Era a senha. Hospitais de sobreaviso, os do submundo; o tal dia chegou. Prisão de três, coincidência ou não, um velho parceiro de jogo do sargento Ciço.



 




(CIDA PIUSSI /  02/2003)
Baseado no conto de TCHEKOV. " Um homem vai ao cassino joga na roleta e ganha um milhão, volta para casa e se suicida..."


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