Fecho os olhos. O mundo de fora se apaga. Suavemente uma imagem aparece: uma figura ímpar - meio gente, meio neblina, como se fosse sonho.
Essa figura começa a passear pelos meus olhos e passamos a passear juntos. Atravessamos uma rua muito escura e longa, assustadora, mas há uma música no ar que não nos deixa entrar em pànico. Caminhamos. A caminhada é longa, mas não há canseira. Quanto mais caminhamos, mais energia podemos despender. Não precisamos falar, pois nossos olhares se entendem, numa conversa onde não há perguntas, nem respostas, muito menos as emboscadas das entrelinhas. Há apenas a plenitude do entendimento humano.
Abro os olhos. O mundo se apresenta, novamente, em um momento de crise em todas as instàncias. Matar e matar-se parece normal. Tragédias, dores, fome, roubos, falcatruas, etc, etc, etc... Há uma comoção, depois tudo vira comum, porque no dia seguinte tudo acontece outra vez. E assim vai: diz-que-diz daqui, diz-que-diz de lá, e ninguém diz mais nada que valha a pena. Que mundo será esse?
Torno a fechar os olhos e esse mundo some. Retomo o passeio. A mesma figura passeia pelos meus olhos. Ainda temos uma longa caminhada pela frente. Porém há outras pessoas e, imediatamente, percebo que todos nós estamos olhos nos olhos e plenos de energia para seguir em frente. Entendemo-nos perfeitamente. Não há mentiras, não há intrigas, não há tapetes a se puxar, não há atrocidades... Apenas olhares que querem se ver claramente, ver o outro e perceber que somos um todo. Assim, cada olhar, que é parte de outro, de outro e de tantos outros, pode compor uma nova cidade, um novo país, um novo planeta.
Abro os olhos. Abra os olhos! Vamos abrir os olhos?
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