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Contos-->Sem permissão para voar -- 07/05/2018 - 14:21 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos











O curso para obter licença de pilotar avião que concluiria na França, completava as horas mínimas de voos necessárias à conquista do seu  brevê. O candidato não desejava apenas uma carta para voar. Queria ingressar na Esquadrilha da Fumaça, fazer acrobacias assustadoras diante do olhar  atônito   de Nathalie. Mais que isso: Sua coragem e habilidades em voos colocariam  Hemor na reles condição de um velho atobá com os pés presos na areia da praia.  

Distraiu-se divagando em mil pensamentos, e quando entrou na aeronave, os demais passageiros já estavam sentados e os comissários de voo, preparavam-se para a demonstração de uso dos equipamentos de segurança. Abriu o livro com avidez; aguçou a imaginação e foi engolindo cada página como se nunca houvesse lido  Capelo Gaivota,Fernão também queria ser diferente dos outros seres de sua espécie: superaria suas próprias forças, quebraria as barreiras e limites individuais, dominaria o céu. Sentiu-se uma gaivota nas mãos de Richard Bach: Não seria mais um ser qualquer à procura de ração. Executaria voos acrobáticos que deixariam Nathalie  encantada e  arrependida de tê-lo trocado por Hemor. Aperfeiçoaria sua técnica de voo, de modo que nenhum piloto voasse tão bem quanto ele. Poderia até simular um acidente aéreo, destruir a Casa Rosada ou o Castelo Branco, e retirar sua amada dos braços do aviador Hemor. Enquanto divagava, um comissário apresentou os equipamentos de segurança, e uma voz suave descrevia o modo de usá-los.  

Sucessivas descargas elétricas dispararam flashes na janela,  o ribombar tardio do trovão fez tremer a fuselagem. Fernão já não tinha certeza se se tratava apenas de um vácuo ou de queda livre. Rostos nervosamente amedrontados trocavam olhares de espanto. Ele lera Capelo Gaivota,  com a intenção de  aprender a superar  seu próprio limite. No entanto, sentia-se derrotado pelo ciúme, este mau sentimento era o  grande obstáculo a transpor. Precisava estar aberto de corpo, e de  mente, quando desembarcasse em Paris para conversar com Nathalie.  Sabia que o  desejo pela coisa proibida,  tinha-se tornado o vulcão aceso com a tocha do diabo, que induziu Siquém a sequestrar Dina, o mesmo sentimento que levara Páris a raptar Helena, e o mesmo vulcão que ardeu na alma de Hemor quando tomou Nathalie.  Fernão  decidiu-se: pousaria no coração da amada para  nunca mais decolar. Queria superar os limites de suas forças; rasgar as páginas  que registram a vida de um homem traído e não esconder de si mesmo o segredo que muitos já sabiam: sua mulher o trocou por um piloto que voava sem licença para voar. Pobre diabo este Capelo. Não tinha boas lembranças de Paris: as tardes  frias tocavam folhas secas no outono de seu coração.
Tremeu e suou.

Leu novamente o recorte do bilhete que a mulher deixara no criado. Seria uma forma de abordá-la: ‘Vim te devolver isto’. Dobrou-o cuidadosamente e o guardou outra vez na carteira. Entregaria a Nathalie, assim que desembarcasse  em Paris. E reprisou a cena do abraço com a mãe no Aeroporto. As preocupações dela sobre um sonho que tivera com o filho, navegando sem timoneiro a chocar-se com o paredão da encosta. Fernão tinha certeza de uma coisa: quando retornasse da França contaria tudo a Ravenala. Se nada conseguisse com Nathalie, não poderia perder a oportunidade de construir novo lar com outra pessoa. Pelo sim, pelo não, Ravenala  sabia de sua viagem apenas para concluir o curso de aviador.  Ele, Fernão,  estava em um isolamento de quatro paredes de ferro e sequer ouvia o ronco das turbinas, tal sua compenetração na leitura de Bach. 

Tudo estava silente, até que de repente, uma voz se fez ouvir em toda a aeronave: ‘Senhoras e senhores, estamos sobrevoando a costa Sul do Senegal. Temos nuvens pesadas em rota de colisão... Haverá mudança no plano de voo e atraso de trinta minutos na hora prevista para o pouso em Dakar. A temperatura externa  é de quarenta e sete graus negativos. Boa noite e boa viagem!’

— Aceita um suco — disse sorridente a aeromoça.
— Sim. — respondeu Alice.
— Acho que nossos companheiros de viagem confirmaram presença na Convenção Internacional para as Artes e Literatura da França. Aquele não é o Arnaldo?
— É ele. E com o notebook aberto. Com certeza fazendo o enxugamento do poema que vai inscrever  no Salon Du Livre.
— Será autobiográfico? Arnaldo pediu demissão do Marista e dizem que se separou da mulher...
— Autobiográfico? Isso é polêmico, polêmico demais — disse Solange — não leste as últimas postagens da Vania Lopes no Portal Literal? Pessoalmente é uma pessoa bem resolvida, mas sua poesia transpira  desassossego da alma, inquietude e solidão. Ela consegue materializar seu estilo poético de forma, sui generis, principalmente, neste momento de convulsão por que passa o Gigante, que outrora deitado em  berço esplêndido, se contorce agora, sobre o  frágil assento de vidro do Congresso Nacional. 

— Desculpe-me amiga. De que mesmo falas? Não consegui ler as entrelinhas.
— Comunismo, minha filha: uma bandeira de sangue foi hasteada no palácio do grande reino do Maxixe.
— Agora não é mais reino das bananas?
— Banana é doce e macia. Não pode ser comparada a este abacaxi que nos é empurrado de goela abaixo. Mas, no caso de Arnaldo, creio que sejam arranjos articulados, ele é especialista nisso.
***
Trecho de "Estrela que o vento soprou."

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Adalberto Lima






Enviado por Adalberto Lima em 07/05/2018

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