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Contos-->Com que roupa eu vou? -- 05/05/2018 - 23:15 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos







Com que roupa eu vou?
 
Belas tardes de domingo velejam na lembrança de auroras que se foram: carreira meteórica (curta) e glamour explodindo na beleza seminua das passarelas. Era ela a mesma pessoa, mas os tempos, outros. Bons tempos... Lembranças do passado, que tão rápido, se foi. Raquel escolheu a melhor roupa, nem tanto glamorosa  como em seus tempos de estrela, nem de tão pequeno gosto. Cuidou ainda de não se dirigir a Ravenala, chamando-a de Nathalie. Com certeza, qualquer desalinho de raciocínio, causaria desconforto irreparável. Refez cenas e cenários, contemplou  cinco anos de glamour, somados a  meio século de  posterior anonimato: duas faces a vida lhe ofereceu: a primeira, tecida com fios  mágicos de encanto e beleza,  aplausos, fama e beijos; a segunda, indiferença, solidão  e desprezo.  No entanto, e apesar de tudo, ainda era seu o Cadilac vermelho-acetinado com o qual, no passado, esbanjara elegância e beleza na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. 

— A senhora guarda muitos traços de beleza e fino trato.
— Amão poderosa do deus tempo, triturou-me os ossos. Sou estrela que o vento soprou. O resto, bem o resto, é o que ficou de mim. 

As linhas do rosto revelavam as noites mal dormidas, jornadas de glamorosa fama que hoje Raquel  trocaria por uma velhice saudável. Para que lhe serviram os holofotes e as noites agitadas, se agora só tinha o negrume e a solidão? Não tinha sequer azeite para reacender a estrela que se apagou.





Após o tilintar de delicadas taças de cristal, Raquel retoma a palavra.

— Meus filhos! o amor é  brisa suave soprada pela boca de Deus. Forças adversas, no entanto,  podem transformar o amor em ódio  e a brisa em tempestade. Cuidado! Na vida a dois sai vitorioso o casal que aprende a transformar tempestade em ventos brandos.

Ravenala desconversou. Ou não quis entender.

— Canhoto,  Fernão? Não sabia que era canhoto!
— É impossível andar em linha reta, quando a estrada é curva. Nasci torto, por certo, tenho um anjo torto a guiar meus passos.
— Gauche — disse Raquel esboçando um sorriso drummondiano.
— Nem tanto sinistro — completou Ravenala.
— Pensei que o anjo torto fosse anjo do mau! Seria apenas um anjo canhoto?

— O homem deu  asa aos anjos, mesmo eles não precisando delas para se deslocarem  e como se  isso não bastasse, criou entidades que andam por aí com um arco, atirando flechas nos corações.  Que amor é este que transpassa o coração?

A noite imensa. Infinda. Seguia devagar como se as horas andassem a passos de tartaruga. No ar pairavam dúvidas e incertezas: alguma coisa Raquel escondia. Já Ravenala, deixou escorrer no canto da boca o suprassumo de sua alma, na esperança de que Fernão também fizesse o mesmo. Mas,  ele é  pedra de  areia, cimento e cal. Duro como uma rocha, manteve firme o propósito de não descobrir o véu, não revelar as sombras que pairavam sobre sua cabeça. Com certeza, suas queixas eram menores do que a dor. Fora casado no civil e no religioso, e pensava confessar tudo a Ravenala, mas,  o medo de perdê-la sugeria  que deixasse a sombra se  consumir à meia-  luz. Não era mais casado.  O defensor do Vínculo admitiu que, ele, Fernão, ocultara doença grave, para se casar com Nathalie. Só isso bastou para que  ela conseguisse a Declaração de Nulidade do Matrimônio. Então, Fernão era solteiro. Ravenala  também. Ele estava disposto a assumir novo relacionamento, desde que não dependesse de assinar papel nem no  cartório nem na Igreja. Trocaram olhares furtivos. Muita rosa e pouca prosa. Muitos afagos  e pouco daquilo que precisava ser dito e ouvido.

 — Queres me dizer algo?
— Não, não! Estou só pensando em uma viagem que preciso fazer à França, para concluir meu curso de aviação.
— E nem me convidas, talvez eu possa ir junto.
— Devo ficar por lá mais de um mês. Tens a loja de informática, e  o colégio que precisam de seus cuidados. Além disso, eu jamais  iria a passeio. Não tenho boas lembranças das tardes cinzentas de Paris.


Adalberto Lima, fragmento de "Estrela que o vento soprou."

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Adalberto Lima




Enviado por Adalberto Lima em 05/05/2018

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