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Contos-->Festa de Vaqueiro -- 24/04/2018 - 17:41 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Festa de vaqueiro.
 
 
Mineiro gosta de queijo com goiabada, costela bovina com mandioca e vai comendo  pelas beiradas o arroz com pequi e feijão tropeiro. Padeja  mais uma colherada com uma lasca de boi assado  na brasa. Roía  o pequi. Lambe os dedos e recomeça a peleja para desbastar a montanha da  culinária mineira que transborda no prato fumegante.  A mulher do vaqueiro sopra a colher cheia. Faz ‘aviãozinho’ e põe na boca do mais velho. Três anos tem o miúdo... Dois menores espiam... Ela oferece o peito ao caçula. E ao outro, uma mamadeira de leite mugido, guardado no úbere da vaca mansa que deixa mamar em suas tetas. Mimosa é mãe-de-leite de toda a pirralhada nascida em Campo Grande, nos últimos três anos.
A multidão forma barreira quase intransponível, em torno do padre e do doutor que veio da cidade. De longe, doutor Guimarães acena ao anfitrião. O padre também se retira. A ciência  e a fé se abraçaram, e dois jipes pegam a  estrada que dá nos montes claros de Minas. 
— Não sei como te agradecer, Batista. Estou tão feliz!
— Se me falas de alegria, por que choras?
— Lembranças de nosso pequeno Ludovico.
— Ele está entre os anjos que assistem diante de Deus.
As lágrimas de Corina se transformaram em sorriso.
— Obrigado, meu anjo pela festa. Estou encantada.
— Luz de minha vida, agradeça primeiro, a Deus. Depois ao bezerro que morreu para dar vida à onça. Por causa dele, persegui a pintada. E ela mostrou-nos a índia. A índia nos trouxe o padre e toda esta multidão.
— Cruz credo! Que idolatria: agradecer ao bezerro! Nem que fosse de ouro, eu  cometeria tal adultério contra Deus.
— É modo de falar, minha Flor. Mas, a índia atraiu  todo esse povo.
— Nada disso! Quem atraiu foi Deus. Ele sabe, e pode extrair um bem, até mesmo do mal.
— Pois então! Está justificado o holocausto do bezerro e do touro.
— Que touro?
— O touro imolado para a festa do vaqueiro.
— E isso agrada a Deus?
— Não achas que Deus se compraz com nossa alegria?
— Sim! E também sofre com nossa dor.
Corina não cabia dentro de si. Há quanto tempo não ouvia ‘Saudade de Mirabela executada pelo próprio compositor, e  assim, no terreiro de casa é  algo, no mínimo,  inusitado.
— Manda mais um coco aí,  Zé!
E Zé debulhou um cacho de coco atrás do outro.
— O dia é quase amanhecido.
— Deixa a tanga rolar...
— Não estamos na praia, Cravo-vermelho!
— Queres dizer, meu escravo, não?
—Escravo livre. Somos livres escravos do amor. 
O sol já se levanta! Disse Corina.
— Todo dia o sol se levanta. Depois dorme,   minha Rosa! 
— Sim, mas o Cravo não vai brigar com a Rosa, vai?
— Nunca! 
— Batista!
— Diga, meu doce!
— Ouço barulho na cozinha.
— São os gatos comendo as sobras da festa.
— Guardei tudo.
— Não guardaste tudo... 
Corina sorriu.
— Vai dormir,  Batista!...
O dia avança. Outra vez, a tarde chega devagar e o sol brinca de esconde-esconde com a lua. A pintainhada se abriga nas as asas  da mãe. A natureza dorme. Tudo silencia. E novo dia se levanta.

***
Adalberto Lima, trecho de "Estrela que o vento soprou."
Imagem: Google

 
Adalberto Lima
Enviado por Adalberto Lima em 24/04/2018
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