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Teses_Monologos-->Monólogo de Jorge Bush -- 31/01/2004 - 12:52 (José J Serpa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Caramba! Mas que enorme confusão!
Bush a querer que a NATO se apetreche
para a guerra, e Chirac nem se mexe:
só diz que não... e não, e não, e não!

E Bush fica fulo, zangadão,
quer guerra, e já! E, para que não deixe
dúvida alguma, apronta outro escabeche.
Quer levar tudo ao berro e ao empurrão!

E vem de lá Putin e diz que Iraque
se desarme sem guerra. Jiang Zemin
também acorre a apoiar Chirac,

e o Papa, para mostrar do que é capaz,
envia Laghi a tentar, por fim,
pôr cobro no ianque ferrabrás.



Mas Laghi, como amigo pessoal
do fundador da nobre dinastia
dos Guerreiros do Golfo, já sabia
que a ida era mero ritual:

« Allea jacta erat...» (General
do Rubicão, perdoa a ousadia
de te mudar o tempo)... a hipocrisia
é que o tempo não muda... O Cardeal

sabia que era tarde, e a bizantina
solicitude, com que vai, evoca
queixumes de Las Madres de Argentina

que o acusam de vil cumplicidade
-por omissão, ao menos - no que toca
ao ditador Galtieri e à crueldade



Com que mandou milhares para a tortura
e para a vala comum: filhos, maridos...
(são trinta mil os desaparecidos)
e as mulheres tocadas de bravura,

querem desmascarar a ditadura,
querem os seus abusos conhecidos
e não poupam nenhum dos envolvidos...
Laghi que chefiava a Nunciatura

não lhes escapa: acusam-no de ter
conhecimento íntimo de tudo
o que se estava então a suceder,

e de calar horríveis perversões,
como se fosse cego, surdo e mudo.
Mas voltemos a Bush e aos seus falcões:



Não há quem o demova, o desempaque:
o gosto de mandar subiu-lhe ao caco
e, com a ideia de meter no saco
os poços de petróleo do Iraque,

anda insofrido e pronto para o ataque.
Se lhe pedem motivos, o velhaco,
num despudor de quem vira o casaco,
põe-se a inventá-los, e se o bom Chirac,

o russo ou o chinês, o alemão...
insistem em saber bem a razão
para se ir fazer por guerra o que se faz

muito melhor na paz das inspecções:
Aqui só manda eu, ó seus poltrões!
E não me venham cá falar de paz!



Paz!?.. Mas que paz? A paz não dá petróleo.
Lançar em paz as bases dum império?
Já se ouviu tamanho despautério?
Por paz não me metia eu neste imbroglio...

De que servia ter o monopólio
do poder militar? E este critério
(é por este que Blair me leva a sério)
de ser herdeiro, filho... sucessório...

do Império Britânico?... Esta herança
é que me faz quem sou - ser e poder
- foi nisto que falhou Napoleão.

Napoleão... mas isso é lá com a França...
Chirac não me grama... está-se a ver
porquê, não é? Mas vamos à questão.



Querem vocês saber porquê a pressa
em atacar: Sadam é Satanás!
Ao vivo... encarnado (?...) tanto faz:
incarnado... encarnado, pouco interessa...

Há doze anos já que aquela peça
engana toda a gente. Agora é zás,
tiro-lhe o folgo, ao grande machacaz!
Quero vê-lo esticado numa essa!

Exposto ao mundo inteiro... O meu velhote,
grande palerma (eu cá não vou no bote)...
não chegou a Bagdad, que a ONU...

Eu cá não vou no bote, é já para a frente...
que bem me importo eu que morra gente...
e a ONU que vá levar no ... sinsenhor.



Meu pobre velho! Que ele até perdeu,
por causa disso, o último mandato
da sua presidência, enquanto o rato
do Sadam desfrutava o apogeu

da sua fama... E disso não culpo eu
Sadam. Dessa vergonha e desacato
ao meu velhote acuso o povo ingrato,
e falso que o não re-elegeu...

Mas deixa estar que se hão-de arrepender:
os milhões que o Clinton cá deixou
hei-de gastá-los todos no Iraque.

É a minha vingança! E hei-de fazer
a dívida maior que já constou
e há-de constar do World Almanac!



Shock and awe... nation building: rebentar
tudo primeiro – assolação total !
Então, para recompor o arsenal,
ponho a indústria da guerra a trabalhar...

Depois escolho quem vai consertar
o que lá se partiu... É fatal:
dois dedos de invenção contratual
e põem-se os amigos a chuchar

no erário presente... e no futuro...
Não há melhor processo, mais seguro
para transferir riqueza para os falcões

que as guerras de arrasar e refazer...
Passa-se tudo o que há e o que há-de haver
por duas, três, ou quatro gerações.



And time is running out! É agir!
É para o Iraque, em força, e sem demora!
E se a França quiser ficar de fora,
pois que fique que bem se há-de carpir.

Mais dois ou três discursos, depois ir
aos Açores a dar o bota-fora...
e, a partir daí, fica traidora
qualquer pessoa que queira impedir

a nossa guerra... e há legislação
que nos deixa prender seja quem for
por terrorista, ou colaborador...

que a lei de Segurança da Nação
que cá temos agora até consola...
uma suspeitazinha - para a gaiola!



E parem de pedir razões! Já chega!
Que eu não preciso delas, e a vocês...
isso até me parece estupidez:
só geram confusão... ninguém sossega.

Nem é preciso ser grande estratega
para ver, pelo que eu faço, os porquês
das minhas intenções. Vejam os três
tratados que eu guardo na gaveta...

nem os assino nem se ratificam:
proibição de minas, de arsenal
de armas biológicas, Quioto ...

e se for preciso até se desassinam
alguns, como o do tribunal penal
internacional que eu não adopto.



Razões? ĹÉtat ćést moi, meus parvalhões!
Isto é francês e quer dizer que a gente
é que faz as razões daqui para a frente!
God save America! Que mais razões

querem vocês que o medo em que as nações
todas do mundo vivem... iminente
massivo e grave... que o maldito atente
contra os seus indefesos... cidadões...

Razões! Razão maior do que esta ânsia?...
...E quem não quer perder a relevância
na nossa nova ordenação do mundo

é melhor aderir - e já - senão
perde o comboio... e perde o avião...
não vai connosco, e fica vagabundo...



Ou vai de pé-coxinho ou de jumento...
que é como se vai na velha Europa,
aquela que não quer mandar a tropa
para mudar o regime do nojento...

Bom... já chega de ralhos para o momento...
para quê lançar no lume mais estopa?
Vai outra de Sadam, a ver quem topa:
ele mandou para cá um documento

com milhares de páginas... o camelo!
E julgava talvez que eu ia lê-lo...
Tenho mais que fazer, vai tudo ao lixo!

Nada daquilo passa de patranhas...
já lhe conheço muito bem as manhas,
não leio relatórios desse bicho.



Doze mil páginas! Como é que eu vou
ler uma coisa destas, estupor!
Se nem tempo há prò meu Louis ĹAmour:
The Broken Gun, Crossfire Trail, Killoe,

The First Fast Draw, Matagorda, Shalako
e outros livros pelo mesmo autor,
que mostram bem a têmpera e o valor
desta grande nação de quem eu sou,

pela graça de Deus, o presidente
(mais ou menos eleito)... e consciente
do meu dever de sumo guardião

da paz universal... E o relatório
daquele diabólico simplório
fica sujeito à minha interdição.



Ninguém o lê... sobretudo o jarreta
do Chirac, esse símio orelhudo...
Um relatório assim pelo miúdo
há-de ter coisa que nos comprometa...

melhor é não deixar que ele se meta.
Havia de vir logo contar tudo,
exagerando, claro, o conteúdo...
Dizendo, se lhe desse na veneta,

que ajudámos Sadam e que, aliás,
as armas biológicas, o antraz
e outras, de que ele é acusado

foram de cá para lá, e com factura...
que apoiámos também a ditadura...
Não! Ninguém o lê! É arriscado.



Ninguém o lê! Ninguém! Porque o segredo
é a alma do negócio... E o saber
(fingindo) o que se sabe não poder
ninguém saber, a alma deste enredo

que põe o mundo a tiritar de medo
e aumenta imensamente o meu poder!
Nem preciso ser mau... é só dizer
e ir sempre repetindo este arremedo:

Sadam tem armas de destruição
em massa, e está prontinho para lançar,
se não houver alguém que lho impeça,

um ataque de grande dimensão ...
Dizer e repetir... depois tornar
a repetir... para que não se esqueça.



Mentira repetida, meus senhores,
é como a água mole em pedra dura,
que tanto vai batendo até que fura...
Disse-me isto o Durão, lá nos Açores.

Disse também “Jorginho, quando fores
Imperador, e toda esta aventura
for acabada... e aquela tosadura
que a Europa reserva para os traidores

me estiver caindo sobre o pêlo,
não te esqueças de mim, faz um apelo,
exige que me surrem devagar...

e poupem a verdasca para o castigo
a dar ao Sílvio, teu burlesco amigo,
e ao asno aqui do lado, ao Aznar”.



Durão... que homem! Hei-de recebê-lo
aqui na Casa Branca, porque quero
agradecer-lhe aquele amor sincero...
toda a dedicação, todo o desvelo

com que me apoiou no meu duelo
contra o Chirac, pondo o mundo ibero
todinho do meu lado contra o zero
da velha Europa... E deu, ao fazê-lo,

de grande homem de Estado grande prova:
do mesmo lado Portugal e Espanha?!
é caso raro este... é de excepção!

E Olivença?... E... Ná! Esta é nova,
e a sova que o espera foi bem ganha...
impõe-se consolar o bom Durão .



Durão! Que nome! Como eu lho invejo!
Duro, sonoro, um pendão de glória
para ilustrar as páginas da História
que hão-de arguir o velho percevejo

francês que se opôs ao meu desejo...
...E foi aquela carta promissória
que me ajudou a alcançar vitória
e a fulminar num raio, num lampejo,

a frágil união dos europeus.
« Divide et impera» é dos meus
princípios o mais forte, e complemento

do acusar os outros da trapaça
que para atingir o fim a gente faça:
Não fui eu, foi Chirac, esse jumento...



Quem dividiu a Europa, e quem a fez
irrelevante aos olhos deste mundo!
Não fui eu não! Foi o gaulês imundo
que teve a ousadia e a sordidez

de se me opôr. O pobre português
nada mais fez do que aceitar a fundo
a nova ordenação que eu difundo
e imponho ao mundo todo, duma vez...

Durão e Berlusconi e... Aznar
e os outros que tiveram de assinar
a carta promissória são pegões,

pilares, deste império renascido,
e têm lugar na História, garantido...
Os outros são patifes, rufiões!



E assim se tece, enquanto o mundo observa
e ouve, inerte, a teia universal
do novo império; o polvo colossal
e voraz que o futuro nos reserva...

Nem é Bush sozinho...à caterva
que o rodeia, o ajuda, e que afinal
o guia, chama o bom Gore Vidal
de Junta usurpadora que conserva

em si todo o poder... e que converte
num arraial de loucos este povo
que de tão bom e sábio se perverte...

É o pesadelo antigo que retorna
a visitar, a afligir de novo
a pobre humanidade e que a suborna....



Mas passará também mais este engano...
O novo império esboroar-se-á
por dentro, como os outros. Ficará
reduzido a memórias e ao dano

que infligir... ao embuste e ao desengano
amargo dos que o creram. Delir-se-á,
sem remissão, nalgum velho alvará,
desfeito em pó, o nome soberano

imperial... Vaidade do império!
Não há maior vaidade... o rol confere-o
dos que passaram já ao esquecimento:

De muitos - quase todos - nem lembrança
nos resta já... e doutros a herança,
se alguma existe, é só de sofrimento.



E aqui fica, em forma de soneto,
como eu vejo esta imensa confusão
do que devia ser a ordenação
do mundo... se o seu cómico arquitecto

fosse capaz de outro e melhor projecto
que querer levar tudo ao empurrão
e ao berro, pondo um ar de rufião
que ora o faz trágico ora o faz faceto.

É triste ver esta Nação caída,
assim sem esperança de encontrar saída,
nas mãos dum tagarela, dum inapto!

E ainda mais triste ver-se o mundo inteiro
conduzido por este aventureiro...
Onde nos leva este mentecapto?

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