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Contos-->Autoestima em baixa. -- 05/04/2018 - 04:29 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ramayana escreveu com mão canhestra a história de sua vida e deixou sua imagem gravada em monumento de cera. Dividiu com outra prostituta, as imundices e depravações de uma cafua de bordel na Vila Mimosa, comeu do fruto proibido e bebeu água do Nilo, ferida pela a vara de Moisés.
A noite cai como uma sentença sobre sua cabeça. Os dias passam, meses, anos, até que também um dia a casa cai.

A  viatura avança o sinal vermelho. 
A rua Ceará se agita, um velho grita: Mataram uma mulher na Vila Mimosa. Afastando-se da cena do crime, Conchita e Leonardo caminham ocultando seus vultos cambaios. A noite era escura como o negrume de suas almas.

A notícia da morte de Ramayana  foi divulgada na “Folha da Madrugada”, um periódico  de poucas páginas, vendido nos semáforos por um quarto de real. Robert ficou sabendo  do falecimento da colega do Marista, por meio de Ravenala, que ao noticiar o fato fez-lhe um convite:

— Quero que venhas  comigo a um sarau!
— Sarau?
— Uma tertúlia. Tenho um projeto literário e gostaria que você  o examinasse.
—Bem, então este é o sarau?
— Não exatamente. O sarau acontecerá na chácara de Alice em Petrópolis. Ela vai lançar um livro.
— Alice? Nossa  antiga professora Marista?
— Sim, ela mesma!
– Menina, veja para onde está me levando...
— Por quê?

— Ora, eu como livros. Fico horas na biblioteca, só olhando livros lidos, marcados, rabiscados com anotações, e data da leitura. Muitos deles com releitura e data. Os bons livros que leio,, tornam-se livro de consulta.

Ficava olhando, e às vezes ria. "No ano de mil novecentos e pedrinhas que estava eu a fazer na vida? Onde eu estava, quando li este livro?"  Revivia momentos de boas lembranças, e até mesmo de más recordações, mas tudo faz parte da história, da trajetória descrita pelos erros e acertos da vida.


— Então, és tu o verme gordo que roeu os sete livros do Velho Testamento?
Riu.
— Não sou nenhum Lutero!
— Brincadeira.
— Eu sei.

A semana passa devagar, os escorrem os dias numa ampulheta do tamanho do mundo. Horas, minutos e segundos, escorregam  lentamente. O tempo caminha devagar... Não há pressa. No relógio da vida, a contagem é regressiva. 

— Estás pronta? Telefona ele para Ravenala.
— O sarau é amanhã, menino. Parece que nasceste de sete meses!

Chegado o momento  Robert   toca o interfone, Ravenala, já o esperava. Surpreso, viu o livro de Alice.

— Que privilégio é este?
— Amizade, meu caro! Amizade. Alice goza de minha amizade e conhece meu projeto. Sabe que me acompanharás na empreitada do livro que devemos produzir juntos. Isto é, se aceitares minha proposta.

— Como não aceitar tamanho desafio. Tudo novo me encanta. Sou dado a aventuras que não põem em risco minha pobre alma. Não posso perder esta grande oportunidade...

Foi reticente na fala para não deixar ler seus projetos de tempos que já iam longe. Agora perto, passarem ao seu alcance, em cavalo encilhado.

— Alice ofereceu a chácara. O lugar é  bonito e sossegado.

Chegada que foi a hora.

Sentou-se ao volante. Estendeu a mão e destravou a porta do carona. ‘Entre.’
Ravenala esperava por gesto mais delicado. Mas não estranhou muito, acostumada que era de ver seu pai agir do mesmo jeito com a mãe dela.
Silenciosos e sem diálogo algum, seus pais conviviam como se cada um fosse uma pedra.

Robert  liga a  setas para a esquerda. Engrena a marcha e pisa leve no acelerador. Afastou-se cuidadosamente da cidade grande, e meia hora depois, já estava na estrada que leva ao sítio de Alice. 


Na aba da serra, orquídeas e bromélias, modificam o tom verde da paisagem com arranjos florais de variadas cores. Cai do galho que avança a faixa asfáltica, um minúsculo sagui. Atropelado, agoniza. Grita. E seu grito não alcança os ouvidos da floresta.

— Devagar. Pegue a vicinal. Faltam só três quilômetros.
—  O sítio de Alice é perto assim?
— Hora e meia de viagem, apenas.

A casinha branca no pé da serra guardava uma ponte, bem no pongo do córrego, onde a princesa Mariana, outrora se banhava. Lá embaixo, lambaris deslizavam nas águas cristalinas do ribeiro. Fora da baia, o garanhão negro cobre uma égua no cio.

 — Linda! Disse Robert..
— Obrigada. Ouvir um elogio com o Sol ainda baixo eleva a autoestima.
— Estou falando da chácara, bobinha!

Ficou sem resposta. Sentiu a mão dele fazendo gracejos na bochecha dela, e pensou no garanhão negro que vira na manga, roçando o pescoço na crina de uma égua. Correu-lhe um calafrio. Ravenala procurava descobrir outras verdades. E se Robert   for seu irmão? Em alguma coisa se parecia com ela: nariz curto, olhos amendoados e cabelos negros... Será que ele também briga com o espelho?

Ela possuía dois espelhos em seu guarda-roupas:  um na porta da direita, outro na porta da esquerda. Em um deles se via bonita, mas no outro... E reclamava apontando o dedo para a própria imagem refletida naquele  espelho:  ‘Menina, você está péssima hoje!’ A autossugestão penetrava profundamente no espelho de sua alma. E naquele dia, tudo se tornava feio para ela. 

 ***
Adalberto Lima, trecho de "Estrada sem fim.."
Adalberto Lima
Enviado por Adalberto Lima em 05/04/2018
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