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Contos-->Espinho na carne -- 03/04/2018 - 19:20 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
No silêncio de seu coração,
ecoava a voz da Madre de Calcutá: 
 Ensinarás a sonhar... Mas não viverás teus sonhos.
 
 
O Auto da Alma se lhe passou na mente. Lentamente, a respiração diminuía, e as batidas do coração se tornavam menos frequentes. Ouviu  o  rufar de asas: ‘Venha!’  E quando percebeu estava voando em direção  às sombras. A luz sumia na distância, cada vez mais longe. Até que, na última hora, abraçou  a Cruz. Venceu o abismo e viu o anjo negro desaparecer na escuridão. Sobrevoou  a montanha santa e sem temor nem medo, escarneceu do anjo negro e voou para a Luz. Padre Davi  viu ainda cenas de seu  juízo particular:  São Miguel tentando resgatar sua alma e o Diabo querendo arrastá-la para as trevas.
Persignou-se.
Selou com o sinal dos cristãos a testa, a boca e o peito.
Levantou-se.
Tomou a porta de saída, e  foi seguido pela voz que brotava de seu interior:
 
A muitos, ensinaste,  deste força a mãos  frágeis. Tuas palavras levantavam aqueles que caiam. Agora tu mesmo enfraqueceste. E em lugar do pão tens o soluço. 
 
Fechou a igreja, andou a passos largos até o beco dos aflitos e entrou na tenda do pecado.
Era dia de finados do ano que já passava de dois mil.
— Bom— dia, minha filha!  O padre não tem quem lhe faça o almoço hoje — disse ele ao deparar-se  com Chanana a recolher, apressadamente, as calcinhas estendidas no varal — desculpe-me por não anunciar minha chegada.
— Entre.
— Os cães não pedem permissão para comer as migalhas que caem da mesa do rico.
— Bem vindo homem de Deus.
— Não tenho mais certeza se estou a serviço de Deus. Eu bem sei que tu és Clara, e eu, um cisco na casa de Assis.
— Clara, eu? Sou uma nesga de Sol, tentando rasgar o negrume das minhas noites de insônia.
— Se falas dos espinhos da carne, eles me ferem, mortalmente, nas poluções noturnas que tenho. Dormindo ou em vigília, meus pesadelos me acompanham.
— Evite pensar na pessoa que tem sido a causa de suas elucubrações.
— Não consigo vê-la sem que me venha o desejo de tocá-la, sentir a maciez de sua pele, acariciar suas mãos e cabelos. E porque não posso fazer corporalmente,  meu pensamento vai aonde a mão não alcança.
— Espinhos da carne.
— Sim. O homem que mortifiquei em mim, quer ressurgir das cinzas. E essa chama que arde sem queimar tem nome.
— Amor platônico?
— Não. Chanana Tupixá.
— Cruz credo. Não quero ser motivo de escândalos. Se alguém se perder por causa do meu pecado, serei culpada de morte, e ambos iremos para o inferno.
— Somos   pedra que anda. E mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos de Abraão.
— Queres dizer: pedras que se consomem?
— Sim.  Que se consomem de amor, como gelo que derrete na presença do fogo.
— Ai daquele que for motivo de escândalo para o semelhante.
—Tu podes ser o atrativo que Deus quer usar para revelar minha vocação.
— Podemos ser amigos na fé. Contanto que sejamos prudentes.
— Sinto restauradas minhas forças, quando estou em tua presença. Vais me negar isso?
— Não sou deusa do amor. Se me conheceres melhor, quebrará teu encanto por mim. 
— I love my life, because…
— Vi o filme. Não precisa concluir a frase. Nem traduzir.
 — Gostaria de ter sido eu  o autor desta obra.
— É uma Linda história de amor escrita por Erich ....Podemos ser amigos, contanto que respeites minha condição de casada. Sejamos prudentes. Se for vontade de Deus, seremos como Clara e Francisco.
— Agostinho viveu a concupiscência da carne, depois se  converteu.  Queres viver agora o processo inverso?
— A vida parece eterna aurora que anoitece num piscar de olhos.
Caiu sobre ele o peso de longa batalha: aquilo que parecia até então, já acabado e pronto, como a vida, ressurgia das cinzas... Davi tinha mais de quarenta anos vividos, dos quais,  quase metade fora  de luta  com a própria carne.
Travara uma luta de vida ou morte com um inimigo invisível. Mas isso é comum a todo vivente. Todos precisam lutar contra a morte,  logo no primeiro segundo de vida.   É  preciso ouvir o ruído do silêncio, conhecer o melhor momento de falar,  de fechar a boca e abrir o coração

 Não sejamos  para o mundo, motivo de escândalo -- Concluiu ela.
 Chanana sempre desejou s
er mãe. Ser mãe era seu sonho, mas nunca tendo um padre por marido.
Adalberto Lima
Enviado por Adalberto Lima em 03/04/2018
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