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Contos-->Minha luta pela São Bento -- 04/06/2001 - 13:04 (Peterso Rissatti) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Acabo de cair na São Bento. Exatamente na Praça do Patriarca. Estranho como desconhecemos os porquês da nossa cidade. Rua Direita, só se for da Quitanda, pois está a esquerda da José Bonifácio. Tudo complicado. Mas a São Bento é aquela que dá acesso à Catedral, ao mosteiro, ao colégio do homônimo santo. Preciso chegar lá mesmo, na Catedral. Vontade, não sei. Sei que é um desafio para alguém que acaba de cair por acaso na Patriarca, junto da barraquinha do senhor paralítico que vende pilhas. Aliás, barracas com camelôs vendendo milhares de bugigangas é o que não falta aqui.
Eles se transformam em um desafio também. Todos temos que nos torcer e contorcer para passar pelas milhares de pessoas e dezenas de vendedores ambulantes, ou fixos praticamente, que estão nesta rua. Sem contar os “propagandas”, aqueles meninos que ficam horas em pé distribuindo panfletos e tentando levar você para um empréstimo ou para o dentista, ou para comprar ou vendar tíquetes nos escusos prédios com elevadores bonitos e decoração suspeita, janelas anti-furto etc. Ainda há um ar de antigüidade nesses prédios, algo que remonta décadas passadas. Passo por entre as pessoas apressadas que acabam me levando em várias direções, até naquela que planejei por toda minha existência. O vento me leva, o cheiro me leva, as pernas e braços numa dança sem fim me levam.
O Largo do Café, a Bolsa. O velho relógio da Botica Ao veado d’ouro do começo da São João, um santo que cruza o outro. Aliás, pouca gente sabe que ali é o começo da tão famosa São João. E que a esquina com a Ipiranga está a dez minutos dali. Voltas e rodopios por entre as carroças que vendem amendoim, doce de coco, chicletes e chocolates. Frutas da época também têm vez nas barracas dos camelôs da São Bento, além de novidades tecnológicas, como o tirador de bolinha de casaco, eletrônicos, perfumes importados, capas para celulares, enfim, tudo o que você acha que precisa mesmo sem precisar. Convivemos quase pacificamente as lojas, os ambulantes, a população que perambula pelas novidades nada brilhantes da ruela e eu. A música alta dos vendedores de cds e de iogurte se confunde com o barulho do fliperama agora instalado na esquina da Bolsa, quase em frente do Banco do Brasil. As velhas casinhas de engraxate ainda funcionam e o espaço a sua frente serve de palco para estátuas vivas, religiosos argentinos de seitas estranhas, tocadores de flauta colombianos e para o show a parte dos “meninos” tão comportados da Bolsa de Valores.
Chego à parte dos bancos, o último quarteirão até o meu destino. Ainda rodo meio tonto, sem saber bem o que faço ali. Acho que todos se sentem um pouco assim nesta rua com nome de santo, mas que não tem nada de pacífica. Se há um lugar onde o tráfego humano se mistura ao tráfico de mercadorias é ali. O caminhar lento das pessoas por essa rua, hora do almoço, engravatados e rapazes com pastas coloridas, uniformizadas ou executivas com seus coques e taileurs, tudo rodando, tudo. O metrô São Bento e o Girondino lotado de gente bonita e bem vestida. Do outro lado a galeria e o Pedrinho, o cachorro-quente mais conhecido de São Paulo. Paro na faixa para cruzar a Boa Vista e chegar ao meu destino. Mas sinto uma vassoura me carregando e uma imagem laranja passando por mim. Caio num cesto de lixo. Nunca mais realizarei meu único e real sonho desde o momento no qual fui tirado da minha perpétua inanição para ganhar o mundo. Infelizmente, esse é o triste destino de um papel de bala.
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