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Cronicas-->Olhos Bicolores -- 04/12/2007 - 18:48 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
No começo, a espera. Me diz que vem, jurou de sete pés juntos que vem. Estou eu, aqui, na espera, neste calor de fazer água ferver, na praça do fim do mundo. Mudo de estação, a música inicialmente agrada mas lá vem o baticum, mudo de novo. O cigarro queima azulado, a fumaça me mata aos poucos, eu sei disto, mas ela diz que vem.

Se ela diz que vem, eu acredito, se jurou de pés juntos é porque não fui feito para a mentira, se ela jurou não vai ser na desonra que ela irá falhar e eu, metido neste carro velho, agradeço a consideração e espero, crente, suando aparvalhado de calor, a brisa criando miragens, será ela que assoma? Não, é outra! Mas ela vem, eu espero.

Ela é exótica, tem olhos de duas cores e um cabelo meio aloirado, quase da minha altura mas suave como gata borralheira. Nos achamos na praia, me enganou direitinho, fui fisgado devagar e totalmente, eis-me aqui, sedento de amor e crente na espera de horas.

Mas ela...Diz que vem, "posso demorar um tantinho de nada, um tiquinho de coisa pouca, posso demorar assim bate e volta, mas vou" e eu, quem sou eu de duvidar, deve de estar nos preparativos, a luz do sol já faz a curva nas copas das árvores da praça, tem gente ali que começa a pensar que sou louco; que faz um qualquer aqui, meio de fora, estrangeiro se vê que é, desses filhos de uma égua, aqui na praça que é nossa, veio tirar o sossego, as crianças podem perceber, que é deste rapazola de ficar na maciota assim, só de papo para o ar?

Se ela diz que vem, viria, ora, eu olho num desafio franco as caras das babás assustadiças, o rosto afogueado do padeiro levando a encomenda, fixo o olhar na bochecha do gordo chofer que me aponta ao longe para os colegas e murmura entre dentes o que eu posso não querer saber, mas que permeia minha mente lenta e vagarosamente, enquanto o sol antes no zênite já se põe, rindo junto com os sabiás que piam de minha desgraça:

--Corno...!

Já os postes ligam as luzes, choferes vêm e vão da praça. Um dos mexeriqueiros do ponto se aproxima qual guarda de polícia rodoviária, meio de lado, enquanto mais um cigarro queima em minha mão, no desespero de quem, apaixonado, já não sente a dor de tudo.

--Moço...!

Finjo que não é comigo.

--Moço! Olha, eu vou te avisar...
--O quê?
--Sai daí, menino. Vai embora porque os homens daqui a pouco vêm te checar. Vai embora e em paz, porque ela...

...Ela não vem. Eu já sabia, esperei por horas e por crédito de minha paixão desmedida, ela disse que vinha e sua honra desapareceu, resolveu me dar um tempo e se esqueceu de quão distante eu vim, se esqueceu de que seus olhos bicolores fosforesciam em minha alma. Esqueceu de tudo que passamos, resolveu por si própria que não valia a pena. Sorvo a fumaça do último cigarro, no breu da noite que me envolve, o chofer preocupado comigo, sinceramente contristado, ele vê que o que cai de meu rosto não é gota de suor.

Dou partida. O carro dá um tranco, fiel companheiro de tantas eras. Ela não veio?

Foda-se.

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