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Contos-->Caldeirão Mineiro -- 24/03/2018 - 20:41 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Desceram a serra que guarda as águas das Sete Passagens. Venceram um morro alto. Adiante, um serrote, mais morro, outro serrote... E foram rompendo estrada, a caminho de casa. João Velho ia pra casa, mas a casa de Xandão  é o  chapéu. Sem família, sem emprego, a vida era  tudo que tinha de seu. Ele cansou de emendar ferro nas fábricas. Ganhou dinheiro em  Taubaté soldando turbina, torre de navio... Até a represa de Itaipu conhece seus feitos. Mas cansou de trabalhar com maçarico. Trocou o bico de fogo por um berrante. A mulher o desprezou, e Xandão se tornou vaqueiro errante. Onde encontra sombra, ele  desarreia a montaria. Faz da relva travesseiro, se deita e dorme. E vive feliz com a vida que leva, bestando atrás de boi dos outros ou  dizendo reza em romaria e procissão.
— Meu patrão carece de merecer força nova na fazenda. Pururuca é trapaceiro. Corrido no mundo. Não presta para vaqueiro. Dinotério, também  não tem dom, nasceu para bate-pau. Crescido nos morros do Rio de Janeiro saiu de lá fugido, depois de uma tentativa de assalto frustrada em que morreu seu parceiro. Tem cabeça oca. Vive falando em criar peixe-leiteiro.
— Preciso de trabalho e um lugar para descansar. Mostro serviço. Se o patrão agradar me contrata.
— Dino  era zelado em academia, quando morava no Rio, aqui não quer saber do pesado. É letrado. Diz que trabalhou no comércio muitos anos, vendendo peça de computador, na Rio Branco.
— Seu patrão tem muitos vaqueiros.
— Tem. Mas o Dino é o mesmo Dinotério da Silva Cavalo. Prefere ser tratado por Dino. Dizem que furou um bêbedo em Juramento que o chamou de Dinossauro.
— Cruz credo! Sou da paz.
— Se quiser comprar briga, chame Turíbio de soberbo. Mas Turíbio Soberbo Medonho é o nome que carrega arrastado em sua  certidão de nascimento. Isso é nome de gente? 
Outro sem valia é o Pururuca. Na fazenda tem serviço pra ele não!  Ganha a vida sem trabalhar, pois sim! Mesmo  trabalhando, não trabalha. Em campeio, para nada serve. Nunca laçou um boi. Toca boiada sem tocar, e a vaca que ele ordenha a cria engorda, porque ele deixa muito leite pro bezerro. Corrido no mundo, Pururuca passou apuros, quase foi cozido no caldeirão do Estado  mineiro. Ele sabia desde menino, que  Minas tem Ouro Fino, e Malacacheta... Mas foi em Diamantina que criou seu primeiro  negócio. Bem  na parte alta, próxima ao Passadiço onde outrora fora um convento de freiras, ele abriu uma loja para vender bicicletas, com o intento de ganhar muito dinheiro. Lá em baixo, no fim da mesma rua, interessado em pagar menor preço, comprava de um freguês cansado, que empurrava a geringonça ladeira acima, e dava  em paga nada além de metade do valor pelo qual há pouco lhe vendera. Do mesmo modo, entre uma e outra subida, para os mais insistentes em escalar a serra, a esses; o comerciante  dava como paga  um par de Alpercata. E assim, depois de alguns anos nesta lida, teve medo. A cidade era pequena e descobriu sua  Barbacena  por dinheiro. O povo lhe  deu o dedo. E para não desonrar Kubitschek ainda infante, Pururuca arriscou a sorte noutro Tabuleiro. Então,  veio-lhe   a ideia de fabricar cuecas para vestir olho nu. Mariana muito lhe comprava para vestir o marido, mas queria dar em pagamento beijos e alguns  queijos de minas. A Boa Esperança era mudar-se dali. E o aventureiro foi criar peixe-leiteiro em gaiolas, nas  águas do São Francisco. Já naquela idade de dezesseis anos, embalava leite de cabra com a indicação de conter ômega três e vendia como leite de peixe. Foi a última vez  que fez a Contagem das receitas e despesas. Faliu. Seu travesseiro não tinha mais as painas das  Paineiras. Nada na algibeira. Areado, totalmente perdido, não tinha reservas em dinheiro nem comida na geladeira. Foi aí que a Jacutinga gemeu no tronco do Juremal e ele comeu Periquito para sobreviver. Caçou Perdizes,  roeu Pequi em Mato Verde e  às vezes comia Manga, que em Romaria  de Nova União o  bom coração   do povo lhe oferecia. Não tinha sequer água no Pote. Precisava inventar outro Passa Tempo, que ao mesmo tempo, lhe rendesse dinheiro. Mudou-se para Formiga, e fabricou formicida dissolúvel em Água Boa, ou  mel de Arapuá. Acaiaca o pegou novamente. Albertina morreu e muitos outros filhos de Minas também morreram. Seu Comercinho chegara outra vez ao fim. O crime foi Descoberto. Governador Valadares, muito esperto, ficou neutro na questão, mas o Barão de Monte Alto queria trancafiar Pururuca no Curral de Dentro. O Capitão Enéas, bem como o Coronel Fabriciano, também não lhe desejavam Bom Sucesso e fizeram um Juramento que mandariam o trapaceiro para os fornos de Carbonita ou afogá-lo-iam  em Lagoa da Prata com uma pedra de moinho ao pescoço. Coronel Murta nem se fala!... Este queria fazer justiça com as próprias mãos e honrar Setubinha, a netinha morta envenenada pelo trapaceiro. O aventureiro ficou a contar Carneirinho, esperando a morte chegar, mas por sorte, tanto Frei Gaspar, quanto o Cônego Marinho, diziam preces em favor daquele que nascera fadado a se deixar queimar nas carvoeiras de Tremedal. Dona  Euzébia, por antecipação,   chorava. Pai Pedro lamentava o destino do filho e  seguia os  Passos da cria: “Passabem, meu filho...Passa Vinte pro Guarda-Mor, dá a ele um Patrocínio em dinheiro, uma boa Moeda de ouro ou de Prata, uma Pedra Azul, uma Esmeralda ou uma pepita de Ouro Fino. Assim, o Capitão Andrade terá Piedade das Gerais e ao  filho de outra terra  abrirá uma Porteirinha, para fuga do homem mais Bonito de Minas. Tu sabes que dinheiro Abre Campo e cria uma Ponte Nova para a vida, disse isso prostrando-se junto aos  Oratórios da Capelinha de Santa Cruz de Minas, rezou uma Ladainha às Três Marias e a Santa Luzia, pedindo misericórdia ao filho cego por dinheiro. Bom Jesus do Galho, o Nazareno, nascido em Nova Belém, veio enxugar  os  prantos da criatura que suplica. Felício Santos fica  em Extrema felicidade. Logo , encheu os Olhos-d’Água, quando viu abrir-se  o Quartel Geral  e o  sobrinho sair esgueirando-se Entre Folhas, adentrando a Mata Verde. Dali em diante, o rapaz teria Novohorizonte. Estava em Liberdade, afinal, no Coração de Jesus há sempre  Bom Repouso. Pai Pedro, Espera Feliz pela Consolação da família. Por sorte, o cangaceiro Antônio Dó teve pena e Grupiara  com o Juiz de Fora, um Bom Despacho ao processo. Agora livre, desembargado e protegido por Santo Antônio do Aventureiro, Cláudio Manuel, O Pururuca, nunca mais voltou ao seu Reduto. Sem-Peixe,  aportou a fazenda Campo Grande em Montes Claros. 
— Mil Perdões, Nhô. Você acaba de fazer uma Campanha contra Pururuca ou uma lista de cidades mineiras?
— Tem um pouco de verdade.
— Como o senhor consegue guardar tanta história na cachola? Inventou essa de Cláudio Pururuca?
— Não! Isso é resultante de uma vergonha que passei na escola. O professor me mandou dizer dez cidades de Minas. Só me lembrei de cinco.
— Aí o senhor ...
— Já disse, não inventei. Tirei nota baixa na prova oral e no outro dia, o professor trouxe a lista já contando a história. ‘Tome, esta lista vai lhe servir de mil candeias para iluminar seu mente. E assim ele acrescentou mais uma cidade mineira.
— Já conheço os vaqueiros de seu patrão, antes de me encontrar com eles. Mas a nova cidade que o professor...
— Candeias, Xandão. Candeias...
— Ah!
 
 ***
Adalberto Lima, trecho de "Estrada sem fim..."
Adalberto Lima
Enviado por Adalberto Lima em 24/03/2018
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