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Contos-->Trilha da Morte -- 15/03/2018 - 23:31 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Trem da Morte abalou o céu e desapareceu na vicinal que deságua na Praia de Copacabana. O som se perde na distância e dá lugar a  uma equipe de reportagem que estaciona nas proximidades da orla marítima. A repórter parou diante da estátua do homem de ferro. Ela poderia cumprimentá-lo em qualquer um dos nove idiomas que fala, mas preferiu dizer em Português: ‘Ele é poeta. Eu faço rimas’. 
Maravilha! Isso é que é definir poesia — disse Robert   em alta voz: ‘Não se faz poesia apenas com rima. É preciso melodia, e compasso...’ Há quanto tempo se conhecem o Poeta e a Estrela? A Rosa do Povo nasceu em 1945. Também nasceram em 1945 a Rosa de Hiroshima e a Estrela de Leningrado.  Duas estrelas cruzam os céus de Itabira. Faz tanto tempo...
A estrela acha que pode conversar como os mortos: ‘Não há criação nem morte perante a poesia’...  Não há guarda-chuva contra o amor que castiga João Cabral.’   ‘ Não há guarda-chuva contra o mundo que tritura as quatro estações da vida...’ 
Um bando de pombos passa em vou rasante sobre cabeça da repórter. E ela pensou: Ela sentiu alguma coisa morna escorrer em seu  rosto. E disse pra si mesma: “Não há guarda-chuva contra as pragas do Egito. “ Não há guarda-chuva contra pombos que sacodem as penas do leme sobre a cabeça do poeta e despejam nele saraivadas de excremento...”
camera mam corre para pegar melhor ângulo do homem acariciando a estátua de bronze do poeta mineiro. 
— Lá vem outra saraivada de excremento caindo  do céu.
O assistente desliga a câmera. 
Elke abaixa-se, curvada diante de sua impotência, ante o bombardeio aéreo. Interrompe a gravação e foge esbravejando ameaças contra os pombos. 
— Imundície. Praga, isto é uma praga!
—Não chames de impuro o que Deus purificou.  — disse Robert —  A pomba branca é símbolo da paz. 
— A branca — disse um transeunte — mas a pomba  com uma ramo no bico é símbolo da Nova Era.
A repórter e o câmera afastaram-se. Retirado uns cento e vinte  metros do local do bombardeio.
— Quem aquele homem? Quis saber Elke.
— Morador de rua. Deve ser. Quem passa por aqui, certamente, já o viu limpando com uma flanela a estátua de Drummond, como se polisse a imagem de um santo ou acariciasse o próprio santo, respondeu o câmera.
— Parece ter sido uma pessoa importante! Vez por outra, tem pelo menos cinco minutos de lucidez e faz poesias bonitas, bem elaboradas. E declama de cima de um banco qualquer em Copacabana. Depois, não fala coisa com coisa. Cai em si novamente e declama poemas...E caminha na orla até desaparecer de vistas.
— Há muitos mistérios  na vida de um morador  de rua. 
— Cada um tem sua história. Conheci uma mulher que tocava piano e dizia ter morado ricamente em Petrópolis. 
— Verdade. Este era no campo. E dizia ser Lampião, o rei do cangaço.
— A cidade está cheia de personagens sem nome, sem mais nenhum papel importante na sociedade, verdadeiros zumbis que vagueiam; mariposas que se deixam aprisionar em qualquer teia de aranha.
— Pode ser! Talvez  tenham escolhido um caminho sem volta. Embrenharam-se no submundo das drogas, do crime e da prostituição. E se acham no direito de culpar a família e a sociedade.
—  Ninguém pode ser totalmente, dependente, disto ou daquilo.Vai chegar o dia em que a pequena águia precisa abandonar o ninho e voar com as próprias asas.
— Assistencialismo. Estás falando de benefício social.
— Não quero fazer um julgamento coletivo. Mas não consigo entender porque razão o governo de nosso país dá uma bolsa ao usuário de drogas.
— São as águas de Março fechando a temporada  de Jobim.
 
É pau, é pedra, é o fim do caminho...
 
Perguntado sobre o que queria ser quando crescesse, um morador de favela respondeu: 
— Quero ser bandido.
Naturalmente porque viu ou ouviu o bandido sendo transformado pela mídia em herói.
— Quero ser preso, disse o menor.
— Preso pra quê. 
— Pra engordar. Ficar famoso e aparecer na televisão.
***
Adalberto Lima, trecho de "Estrela que o vento soprou."
Adalberto Lima
Enviado por Adalberto Lima em 15/03/2018
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