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Contos-->A paisagista -- 13/03/2018 - 22:28 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
 
A hora era de lançar azeite sobre suas feridas. E cada um deles tinha a sua. Robert temia que algum assunto por ele levantado, pudesse trazer à tona sua história ou a história de vida dela. E assim, consentiram que seus olhos se encontrassem olhando na mesma direção. Sem perceber, ele deixou escapar a voz contemplativa de sua alma: ‘A tarde que finda é uma benção que chega e jamais outra igual será vista...’ 
—Fazendo poesia para nuvens roxeadas?
— Não! Estou pensando por que elas estão assim, apressadas.
—Ora! É porque o sol vai se pôr,  daqui a pouco.
 O sol pendia envolto por um manto de nuvens coloridas. E em pouco tempo, desapareceu.
‘A tarde que finda é uma benção que chega’... uma bela tarde, pensou Bob.
Precisamos ir — disse Morgana, fixando os olhos em Gabriela.
— Mais um cerveja,  senhor?
— Não. Por favor, traga a conta!
O garçom afastou-se, e sem demora trouxe a conta numa pequena bandeja de aço inoxidável.
— Vamos dividir a despesa.
— Ora, Morgana! Sou do tempo em que o homem pagava sozinho a conta...
Robert   arquitetava planos para outro encontro, es não via como fazer a proposta  de forma indireta. Então disse sem rebuscar palavras:
— Podemos nos ver amanhã?
— Amanhã... amanhã não sei. Talvez não consigamos vaga nas palhoças. É preciso chegar cedo. Hoje o irmão de Gabriela, assegurou-nos esta vaga, mas por causa do acidente com o filho, provavelmente, não virá amanhã.
— Darei um jeito, disse Robert  .
Nunca um dia de domingo demorou tanto a render o posto de serviço do sábado... Robert   chegou antes das nove e acomodou-se. Ocupou uma mesa à sombra de uma palhoça ao lado de uma grande amendoeira. Morgana não tardou. Teve vontade de enfiar os pés na areia. Esconder o pezinho quente e delicado para ser encontrado pelo dele. Sentiu-se uma tola.
— Lembra-se de Sivory, disse ela, finalmente.
— Sim!
— Pois é. Estava no avião que caiu na Costa do Senegal.
Robert   reviveu a cena do beijo ingênuo que Morgana dera no rosto de  Sivory, quando o menino fizera o gol decisivo do campeonato Marista nos anos noventa. Quanto tempo! Ela agora tão linda quanto antes, carregava os mesmos traços exuberante beleza de outrora, acrescidos pela pródiga mãe  natureza de melhores contornos na cintura e seios medianos. Pontiagudos. Entumecidos. Róseos...palpitantes... Teve dúvidas se estava diante de uma sereia, uma mulher ou uma deusa.  Ele teria a paciência que fosse necessária e a coragem que precisasse para conquistá-la. Não era sonho. Era Morgana o sonho capaz de apagar seus pesadelos. Robert   não queria pensar no casamento desfeito, nem na saudade do pai que mal conhecera. A vida lhe dera um poema de sete faces. Não só a ele, também a muitas pessoas que por sorte ou azar, morrem sem conhecer a primeira face do poema.  As faces mais cruéis que conheceu foi o rosto da mãe, desfigurado pelo câncer, o casamento dele que não aconteceu, e o pai que nunca esteve no álbum de família. Eram tantas faces: rostos de luz,  e rostos  de sombras, faces brancas, pretas, amarelas e até um anjo azul soprando cinzas sobre suas lembranças: o Marista, a Quinta da Boa Vista e a menina linda que Morgana sempre foi.  Já naquele tempo, Morgana revelava que, em crescida, seria uma das mais belas criações da mão divina. Isto posto, se fosse descoberta pelos caçadores de talento, alcançaria um cachê mil vezes maior do que o salário percebia como paisagista da Prefeitura de São Luís do Maranhão.
***

Adalberto Lima, trecho de "Estrela que o vento soprou."
Adalberto Lima
Enviado por Adalberto Lima em 13/03/2018
Código do texto: T6279097 
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