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Contos-->A DAMA DO METRÔ -- 20/02/2018 - 22:24 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


 



 Transeuntes num vaivém  vão, outros vêm.

 Apressados, correm. Seguem assustados. 
Aflitos como galinha  em território de gavião.
   Como minhoca correndo debaixo do asfalto, o trem metropolitano parece parado. Vultos  velozes de homens e de mulheres passam voando, penduradas como blusas em movimento. Não dá tempo de  reconhecer  as bonitas que se misturam com as dentuças, banguelas, brancas, pardas, e amarelas... Homens de toda estatura: sérios,  grandes, pequenos, negros e branquelos, corados, e  amarelos. Boas e más  criaturas voam vestidas  de muitas cores e  etiquetas: panos finos ou grosseiros, mulheres, homens e meninos, cobertos com etiquetas   famosas, também as baratas compradas na feira livre viajam no metrô. Gente que tem pressa de chegar, outros tardios. Lentos corsários tomam de assalto uma presa. Apressados leopardos, trombam na calçada. Na plataforma é o trem que corre nos trilhos levando mulher, marido e filho nem sempre para o mesmo lugar. O trem chia, chegado.  Fernão ocupava uma cadeira no primeiro vagão. Ravenala  desembarca na Estação Carioca. O passageiro segue viagem. Nunca lhe dirigira a palavra senão, quando a perna da moça ficou presa no vão entre a plataforma e o trem.
—Você se machucou?  
—Não, não. Apenas arranhões...
—Mas está sangrando... 
—Sangra pouco. 
Passou o número do telefone, anotado num pedacinho de papel da agenda. Acompanhou-a com o olhar e despediu-se, tão logo o enfermeiro limpou os ferimentos e entregou a ela  um pacote com mercúrio e algodão: ‘Repita este procedimento amanhã. Não é nada grave, requer apenas higienização, uma vez por dia. ’ Ela desejou vê-lo novamente. Não o enfermeiro. Mas o passageiro cortês e delicado que a socorreu. Seria como encontrar uma agulha no palheiro. O Rio de janeiro é grande e movimentado em qualquer estação. Pôs a melhor roupa, soltou o cabelo, passou maquiagem e ligou para o número recebido. O celular tocou, até cair na caixa postal.  Apressou-se para pegar o metrô e ocupar o primeiro vagão. O trem chiou a um palmo de distância de seus pés. Lembrou-se da perna presa no vão da plataforma e entrou com cuidado. O primeiro vagão estava cheio de gente vazia, duas velhinhas conversavam em pé, porque as cadeiras reservadas aos idosos estavam ocupadas por jovens, que sorriam zombeteiros. Muitas pessoas penduradas nas barras de ferro  disputavam um lugar para colocar as mãos. Olhou atentamente. Com certeza, não era ele. Aquele homem não usava terno. Não era, portanto,  o cavalheiro que a ajudara no dia do acidente na plataforma.  Letreiros do túnel passam em película acelerada. O maquinista puxa as rédeas do cavalo de ferro e aos poucos, a  máquina perde velocidade: 
 
Próxima estação, Estação Carioca. Desembarque pelo lado direito.   Next stop Carioca station, landing on the right side. 
 
Mal parou, sai o trem, imediato, e vai.  Repete a manobra, descreve todo dia o mesmo circuito. A moça tenta desembarcar, mas  não cabe entre os passageiros. Fica presa antes do vão da porta. Passou do ponto de descer. Na estação seguinte, arrastou a bolsa de uma senhora que se pôs a gritar: ‘Larga...larga...larga minha bolsa...’ A alça se rompe. A bolsa fica. Ravenala sai. Sentiu-se só. Sozinha  na movimentada Barão de Rio Branco. Transeuntes vinham e outras iam, como rebanho de ovelhas sem pastor.  E cada rosto que passa, não deixa rastro da fisionomia. Ninguém conhece ninguém. Não sabe o nome que o outro  tem, nem onde mora. Tanto o nobre, quanto o pobre, não  tem nome. É apenas passageiro. Passageiro é seu nome.  Desceu do trem.
 Percorreu o desconfortável caminho do anonimato e  entrou na loja de informática. Tudo organizado. Funcionários a postos e sorridentes esperando pelo  freguês. Ela usava uniforme da loja e se misturava no meio dos empregados. Não se sentia  dona de nada, apenas administrava aquilo que lhe fora confiado por empréstimo. Agradecia a  proteção divina, e ao mesmo tempo, questionava no silêncio de seu coração: ‘O Senhor tem muitos filhos!  Por que não me emprestar um deles? Prometo devolver multiplicado. 

***
NA

Este acidente inspirou o livro "A dama do metrô" mais tarde denominado "Estrada sem fim" e por último: "Estrela que o vento soprou." A obra teve início em 2008., chegando a alcançar o total de 512 páginas. Submetida ao processo de enxugamento, restam 280, e até sua  publicação, deverá estar com apenas 220 ou 180 páginas..
Imagem: Isac Kempim2018-02-14




Adalberto Lima


Enviado por Adalberto Lima em 20/02/2018
Reeditado em 20/02/2018

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