"E se o meu país for um jardim?" (Francis Hime e Chico Buarque)
E se à luz da letra da canção "E se..." eu começar a imaginar coisas impossíveis? E se a escolaridade trouxer cidadania, por exemplo? E se os políticos tiverem que ser eleitos sem propaganda? E se as "tartarugas" do trànsito forem multadas? E se não houver fábrica de multas? E se o radar for educativo? E se a cúpula da igreja não for conservadora? E se não houver monopólio das grandes empresas de ónibus? E se o maior latifúndio não for eclesiástico? E se o cidadão não gostar de fila? E se as motos seguirem as mesmas leis dos demais veículos? E se o guarda de trànsito multar por poluição sonora? E se o Protocolo de Kyoto sair do papel? E se o transgênico for identificado nos supermercados? E se o gostosão não usar a faixa do deficiente para estacionar? E se o social democrata for social e democrático? E se outdoor de político não for propaganda enganosa? E se a revista semanal for honesta e imparcial? E se a população puder confiar na grande mídia? E se o lucro dos bancos for normal? E se o profissional liberal der recibo? E se pedágio abusivo não for redundància? E se o cartel do combustível for balela? E se o alimento contiver o que diz o rótulo? E se a universidade ensinar cidadania? E se Deus conseguir ficar acima do médico? E se a cpmf acabar? E se a reunião do colegiado universitário for rápida e eficaz? E se congregação for só um nome de igreja? E se a novela for edificante? E se a televisão não condicionar o povo? E se o povo não gostar de falar de doenças e tragédias? E se partido político for diferente de sociedade esotérica? E se a noviça puder concordar com o Código da Vinci? E se a igreja tiver ombudsmann? E se Bento XVI condecorar Boff? E se o conhecimento não tiver donos? E se os evangélicos souberem da subjetividade? E se a morte for uma escolha? E se Fritjof Capra tiver razão? E se a Profecia Celestina não for ficção? E se os anjos não forem uma invenção infantil? E se o político for honesto? E se o voto não for obrigatório? E se muamba no serviço público der cadeia? E se o funcionário público for promovido por mérito? E se os bens tiverem que ser coerentes com os contra-cheques? E se nas rodinhas de funcionários medíocres houver algo mais que fofoca e futebol? E se os pareceristas de órgãos de fomento tirarem o rei da barriga? E se quem é obstinadamente contra o governo tiver espelho em casa? E se o fumante souber que a fumaça não é sólida? E se a filosofia da Física Quàntica não for ignorada por medo da própria ignorància? E se a ciência clássica descobrir que tem mais crenças que as igrejas? E se a espiritualidade fora da igreja não for pecado? E se o professor doutor repartir o conhecimento com a população? E se acabar a inquisição na academia? E se os pesquisadores com bolsa não forem os donos do mundo? E se os consultores de periódicos forem humildes? E se o relator inquisidor tiver seu relatório julgado da mesma forma? E se a extensão tiver o mesmo peso da pesquisa? E se o professor souber falar e escrever? E se a universidade considerar a qualidade das aulas? E se o professor não educador for demitido? E se o professor atualizado que cativa os alunos ganhar bem mais do que os medíocres? E se a escolha de paraninfo e patrono não for política e abjeta? E se os concursos "para inglês ver" forem extintos? E se o dirigente entender de liderança? E se o assessor não for aspone? E se o aluno descobrir que a média 4,9 não é significativamente diferente de 5,0? E se o diplomado lavar as mãos depois de usar o banheiro? E se a medicina privada apoiar o SUS? E se o enfermeiro ganhar igual ao médico? E se a homeopatia for água só para os cegos? E se os fariseus do sinédrio não puderem mais reencarnar na academia? E se dentistas, médicos e advogados tiverem que fazer PG para serem doutores? E se o cachorro for passear com coleira? E se a festa da república respeitar o vizinho? E se o professor com recalques da infància não descontar nos alunos e nos colegas menos graduados? E se o aluno puder estar sem medo nos colegiados? E se o ser humano for livre? E se o inferno for um estágio de evolução para quem não quer evoluir? E se quem se omite for conivente com a lambança? E se a doutora troglodita gostar dos meus escritos? E se cair neve no sertão? E se o meu país for um jardim? E se eu escrever sem indignação?
