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Cronicas-->Se Fernão Voltasse -- 18/11/2007 - 22:01 (Ivan Guerrini) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Então não existe um lugar chamado paraíso? Não, Fernão, não existe esse lugar, pois o paraíso não é um lugar e nem um tempo. O paraíso é ser perfeito" (Richard Bach)

Fletcher conheceu Fernão Capelo antes dos seus 20 anos. Ficou encantado! Aprendeu que no original ou em algumas versões faladas, seu nome era Jonathan. Fletcher lembrou-se de ler e saborear cada detalhe de sua busca irreverente nas manhãs de sábado, meditando em locais que frequentava. Como Fernão, Fletcher se deixava viajar sem limites, sem precisar de nenhum tipo de droga. Nas viagens, percebia que ficar repetindo padrões não era o caminho da verdadeira evolução. Comer era necessário, por exemplo, mas viver para isso era um disparate. Sabia que isso era verdade, mas tinha medo de por em prática. Seus lemas combinavam muito com o "olhai os lírios dos campos" que Fletcher trazia dos seus estudos bíblicos e que faziam todo o sentido. Deixar de procurar restos de comida para aprender a voar mais alto era um tremendo de um desafio, jamais entendido pelos mais velhos. Afinal, todos sabem que é preciso ir, antes de mais nada, em busca do alimento concreto, diziam eles, mesmo que fosse carniça. Na profunda inquietação do coração de Fletcher, entretanto, algo gostoso e inebriante despertava com mais força. Não sabia bem porque, mas intuía que Fernão tinha razão: ficar buscando o padrão antigo só porque sempre se fez assim é inócuo, além de ridículo. As regras mais rígidas que moldavam a vida de Fletcher na época, bem que tentaram dissuadi-lo, vindas da escola, da família e da igreja. Aquelas mesmas que, no curso de sua vida teriam seu valor, mas somente para subir os primeiros degraus. Para aprender com Fernão, todavia, era preciso ter paciência e esperar pelos degraus mais elevados que, ao seu tempo, viriam. Buscar dimensões espirituais além do escopo da religião formal ensinada era, por exemplo, inadmissível para os velhos da ocasião. Ainda é! Assim como buscar dimensões do ser humano além das tradicionalmente encontradas pela ciência clássica é uma loucura para os velhos rabugentos da academia de hoje. E isso vale para velhos de 50, 60 ou 70 anos, mas para também para outros, tão ou mais velhos, que só tem pouco mais de 20 ou 30. Passaram-se ciclos do tempo com inúmeras dobras. Pensou, então, Fletcher por momentos: ah, se Fernão voltasse... Veria esses velhos convocando-o ao centro do grupo e querendo bani-lo novamente. Se Fernão voltasse, pensava Fletcher, veria essas velhas gaivotas, cheias de cargos e títulos, buscando ainda as suas migalhas podres de cada dia, fazendo de conta que estão vivendo. Veria velhas e caducas gaivotas chamando Fernão de utópico, esotérico e charlatão, pois, o ato de denegrir, no fundo, indica que gostariam de ser como ele, sem conseguir. Se Fernão voltasse, veria ainda gaivotas velhas e rabugentas insistindo na visão estreita da vida e ensinando seus pupilos sobre o pessimismo. Saberia que, para essas gaivotas enrugadas no espírito, só o tempo faria surgir o despertar. Muito tempo, talvez muitas vidas! Mas também, se Fernão voltasse, ainda pensa Fletcher, encontraria, para desespero dos pretensos poderosos, jovens gaivotas conspiradoras, revolucionárias, querendo aprender a voar além dos limites impostos. Se Fernão voltasse, veria com orgulho que não há mais tão poucas gaivotas voando longe das mesmices. Que já há muitas que insistem em crer na plenitude interior, nas canções que transportam para outras dimensões, longe dos restolhos de comida podre. Um bater das asas de uma borboleta ao seu redor e Fletcher percebe que não mais precisa ansiar pela volta de Fernão. Descobre que ele já está de volta, mesmo que em diferentes níveis. E já estando, propõe aos que o percebem, experimentar algo além do possível, além do ditado pelo chronos. Sussurra que é preciso se deixar encantar de novo, como naqueles tempos, voar e viajar sem limites. E que um dos maiores desafios da vida é, quebrando o paradigma das velhas gaivotas, buscar o paraíso para além do espaço-tempo.
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