Ana Paula:
Li algumas das suas poesias e gostei. Especialmente da Renúncia. É muito sentida, clara, cristalina. Há por aí tanto trecho de sentido misterioso, publicado sob o nome de poema, que até sabe bem ler uma poesia assim límpida e escorreita no que diz.
Quanto aos seus padecimentos amorosos, aí também gostei de como você os exprime. Foi o próprio Fernando Pessoa que disse:
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Eu, pobre de mim, também quis dizer de minha justiça, e então fiz-lhe este soneto. Espero que ache engraçado.
Ana Paula, você não renuncia,
você só se resigna... O seu destino
é ter de novo, o doce deus-menino
brincando no seu colo... qualquer dia...
O nené de Afrodite (que Maria
não ia consentir que o pequenino
Jesus andasse em tanto desatino)...
não renuncia, não! Você adia...
Renunciar, renunciou Elisa
que não pôde, coitada, resignar-se
a aceitar um novo amor traído...
Mas você, Ana Paula, é poetisa,
«poeta é fingidor», pode lograr-se
de todo o fingimento de Cupido...
Um grande abraço do Zé Serpa que gostaria de ser seu amigo. |