SEU CUPIM NO MEU BERIMBAU
Paccelli M. Zahler
Pois é, meu berimbau era tão bonito, grande, lisinho e roliço. Não havia quem não apreciasse meu berimbau.
Quando eu passava pela praia de nudismo com o meu berimbau na mão, as pessoas deixavam de lado as suas atividades só para vê-lo passar. E exclamavam um “oh!” como que extasiadas.
Os rapazes da maromba baixavam a cabeça e ficaram chutando a areia. Às vezes, dava até para ouvi-los reclamando através dos dentes semicerrados: “Temos que reconhecer, o dele é maior que o nosso!”
As meninas corriam para a minha volta e ficavam observando o meu berimbau lustroso, brilhando ao sol e diziam coisas sensuais como: “Ai, que lindo! Dá vontade de morder! Posso tocar, posso?”
Eu ficava um pouco receoso e pensava comigo mesmo: “Meu Deus, o que faço? Essas meninas vão acabar estragando meu berimbau!”
Mas elas insistiam e eu acabava deixando que elas manipulassem o meu berimbau. Vocês não vão acreditar, mas algumas até desmaiavam de emoção, reviravam os olhos. Outras mais salientes e exageradas queriam colocar os dentes. Neste caso, eu as advertia: “Se quiserem passar a mão, tocar, tudo bem! Agora, morder, convenhamos já é demais, não?”
Depois de um dia inteiro na praia, meu berimbau ficava sujo de areia e, freqüentemente, com alguns resquícios de sal. Para que ele não perdesse a forma, eu o limpava com bastante cuidado ao chegar em casa. Passava uma toalha bem macia e um pouco de óleo para que ele recuperasse o brilho.
Foi então que conheci Marcela. Ela foi a maior paixão da minha vida e a perdição do meu berimbau. Aliás, foi graças a ele que Marcela se aproximou de mim.
No dia dos namorados, Marcela pediu-me de presente o meu berimbau. Relutei um pouco, pensei, ponderei e acabei cedendo: “Tudo bem, mas só se você tratar dele com o mesmo carinho que eu!” Ela disse que sim.
Passado algum tempo, terminamos o namoro. Marcela devolveu todos os presentes que lhe dera, inclusive meu berimbau.
Além da decepção com o fim do namoro, tive outra maior ainda com o meu berimbau. Ele era grande, bonito, lisinho e roliço, causando inveja nos rapazes e cobiça nas meninas e agora estava alquebrado, desanimado, bichado.
Não me contive e falei: “Marcela, você prometeu cuidar do meu berimbau! Marcela, você não me disse que no seu quarto tinha cupim! Por que você deixou passar seu cupim pro meu berimbau?”
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