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Infanto_Juvenil-->BOLA E CARAMBOLA, 1 - Caramba, Carambola! -- 29/03/2005 - 07:27 (ADELMARIO SAMPAIO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
BOLA E CARAMBOLA
Caramba, Carambola!



Bola e Carambola eram os dois porquinhos de barro, que enfeitavam a estante da sala do seu José e dona Maria, por muitos anos. Foram feitos por um artesão muito hábil quando os dois donos da casa eram ainda crianças...

Os enfeites estavam já muito cansados de ficarem ali parados o tempo todo, por anos e anos seguidos, esperando uma oportunidade para fazer aquilo para quê eles tinham sido preparados. Ouviam quietos as raras conversas que surgiam na sala nos pequenos intervalos que as atenções não estavam voltadas para a televisão.
Um dia, finalmente aconteceu algo que mudou a angustiante rotina de suas vidas: Léa, a netinha do casal, veio visitá-los enquanto sua mãe fazia compras, e a avó estava na cozinha preparando um bolo para o lanche, quando o assunto surgiu. A menina de repente ficou como que encantada e não tirava os olhos dos porquinhos. E foi assim sem desviar os olhos que disse para o avô:
_ Vovô, se eu te pedir uma coisa, você me dá?
Os porquinhos gelaram de medo, porque viram pra onde a menina estava olhando e sabiam o que é que ela iria falar.
_ Se o seu vovô puder, dá sim... – ele disse.
_ Aqueles porquinhos...
_ Dou sim. São seus, mas só vou deixar levá-los, quando você estiver um pouquinho maior, e souber cuidar deles direitinho, está bom?...
A menina sorriu satisfeita, e recostou-se com carinho no colo do homem, mas ainda olhando os enfeites. Ele afagou a cabeça da neta, enquanto seus pensamentos voaram para o tempo de criança. Lembrava-se da história que se passou com ele e sua companheira. Desligou a televisão com o controle remoto e falou com a netinha:
_ Esses porquinhos, filha, não são enfeites comuns. Já notou que eles parecem vivos? É que eles têm um segredo que somente os que têm os corações puros podem saber.
Os porquinhos suspiraram aliviados. Tinham medo de que a menina os quebrasse se fossem dados a ela.
_ Que segredo, vovô?
_ Quando eu e sua avó éramos crianças como você conhecemos um oleiro que morava num sítio vizinho aos que nós morávamos. O nome dele era Cassiano. Vivia sozinho, e tinha alguns costumes estranhos que não eram compreendidos pelos que moravam por perto, e por isso, era tido como um louco. E nós, as crianças que morávamos na região, ouvíamos os adultos dizerem que o homem era perigoso, e que ninguém podia ir até lá, que era isso e aquilo...
Seu José contava, mas enquanto narrava, parecia que era para si mesmo que falava. Mas a menina estava atenta a todas as palavras, e apesar da sua pouca idade, jamais se esqueceu por toda a vida, do que seu avô contava. Ele continuou:
_ Numa tarde saímos, a sua vovó e eu, para brincar num bosque perto do riacho que havia no quintal da casa do vizinho. E envolvidos que estávamos com as brincadeiras não percebemos que preparava um temporal. E a chuva nos pegou do outro lado do córrego, e ficamos com medo de atravessá-lo de volta enquanto chovia, e nos abrigamos em um galpão que estava a pouca distância. Assim que entramos, vimos encantados, muitos bichinhos de barro, arrumados em umas prateleiras rústicas que havia em todas as paredes. Todos pareciam ter vida... Nossos olhos foram acompanhando os enfeites muito bem feitos, enquanto se acostumavam com a pouca luz do ambiente, e só então, foi que avistamos o homem que estava assentado em um canto pouco iluminado. Ficamos um pouco assustados, e já íamos correr para a chuva, quando ele nos falou: "Olá crianças, não se assustem... Podem ficar à vontade enquanto a chuva não passa."
_ Mas o homem não era bravo, vô? – perguntou a menina.
_ Não filha, não era... Sua avó e eu nos entreolhamos, e sem dizer nada um com o outro, resolvemos ficar. Não sentíamos medo do homem. Ele nos pareceu simpático, e não malvado como diziam. E além de tudo, estávamos encantados com os enfeites lindos que havia em todos os cantos. O homem percebeu, e disse:
_ Querem ganhar uns bichinhos desses?
_ Nós balançamos as cabeças em resposta. E o homem falou novamente:
_ Vou dar para vocês aqueles dois. Eles são os meus preferidos, e não quero que sejam destruídos quando eu morrer. Quero que prometam cuidar deles por toda a vida. Vejam que eles parecem vivos. E na verdade são mais ou menos vivos. Não tenho a quem dá-los, e eles precisam ser cuidados. O nome de um é Bola, e do outro, Carambola. E é justamente nos nomes deles, que está o segredo... Entendem tudo o que se passa no lugar onde estão, e alegra as vidas de todos onde estiverem...
Seu José parecia sentir-se emocionado ao contar a história. Léa estava muito interessada, e não tirava os olhos do rosto do velho. Ele continuou:
_ Então seu Cassiano tentou se levantar para pegar os porquinhos, e percebemos que ele estava doente e fraco. Ele nos disse: "Estou doente, e queria que me ajudassem. Se vocês puderem, estou precisando de um chá de uma planta que conheço."
_ E ele não tinha nem filhos nem ninguém para cuidar dele, vovô?
_ Não filhinha, não tinha. Vivia sozinho com os seus bichinhos... Então ele nos disse qual era o chá, e prometemos levar no outro dia, e o homem prometeu que nos contaria como é que fazia com as palavras dos nomes dos porquinhos, para que eles desencantassem, e ficassem vivos. Conseguimos as folhas que ele nos encomendou, e fomos levar no outro dia assim que pudemos. Quando chegamos, chamamos mas não ouvimos resposta. Entramos então, e os nossos olhos demoraram um pouco para se acostumarem com a escuridão, e só então vimos o homem no mesmo canto do dia anterior. Falamos novamente, mas ele não respondeu. Chegamos mais perto, e vimos que estava morto. Parecia ter morrido ainda no dia anterior.
"Pegamos os porquinhos que tínhamos ganhado, mas não ficamos sabendo qual é o segredo que existe escondido no nome deles. Mas de uma coisa, temos certeza: Fomos felizes todos os dias das nossas vidas juntos com esses dois bichinhos. Eu se sua avó jamais tivemos uma desavença sequer... Parece que temos as almas como as dos bichinhos, e sentimos uma alegria muito grande em conviver com eles. Pena que não pudemos saber qual é o segredo que existe nos nomes Bola e Carambola...
"Quando você os levar, saiba que eles não podem viver separados um do outro. Se forem separados, a vida se torna um tormento onde eles estiverem."
Seu José parou de falar, e acariciou a cabeça da menina. Depois, falou com os porquinhos, como se eles estivessem mesmo vivos:
_ Quando nós não estivermos mais aqui amigos, quero que vocês cuidem muito bem dessa menina, e façam da vida dela como fizeram com as nossas, que vivemos como se os nossos dias fossem de descanso, e as nossas noites de festas...
Léa perguntou:
_ Eles escutam a gente falar, vô?
O velho balançou a cabeça sorrindo.
Mais tarde, quando a televisão tinha sido desligada, e todos dormiam na casa, os dois porquinhos começaram a conversar como sempre faziam:
_ Você ficou com medo hoje, Bola?
_ Medo de quê?
_ De ser dado de presente, e quebrado pela menina?
_ Mas nós fomos dados de presente!...
_ Sei, mas isso só vai acontecer, quando a menina souber cuidar da gente...
_ Mas nós sabemos que o casal não vai ficar aqui por muito tempo mais...
_ Isso é verdade. E então nós seremos transferidos. Se pelo menos nós soubéssemos do segredo... das palavras mágicas...
_ Você ouviu o nosso amigo dizer que o segredo está nos nossos nomes? Será que não devemos tentar?...
_ Claro que devemos... Quem sabe descobrimos, e poderemos sair daqui...
_ Mas nós não sabemos direito o que é que acontece se as palavras do segredo for pronunciadas...
_ Mas de uma coisa, eu sei: Que não será nada de ruim, senão o mestre Cassiano não iria dizer a ninguém.
_ Se o segredo está em nossos nomes, temos que tentar...
Então os dois começaram a falar todas as combinações possíveis com as sílabas e as letras dos seus nomes:
_ Bola!... – dizia um.
_ Carambola!... – respondia o outro.
_ Bola, bola!
_ Bola, Carambola!
_ Carambola, Bola!
_ Bola, Carambola, Bola!
_ Laboranca!
_ Laboranca Labo!
_ Labo Laboranca!
Repetiram muitas combinações. Tentaram de todo jeito, invertendo sílabas, letras, sons, mas nada conseguiram. Estavam do mesmo jeito... E já estavam cansados e desanimados, quando irritado, Bola disse ao amigo:
_ Caramba, Carambola, o segredo está nos nossos nomes, e não sabemos o que é!
Quando disse isso, percebeu que algo de estranho estava acontecendo com seu corpo. Olhou para o amigo, e gritou espantado:
_ Carambola, você mexeu!
_ Você também!... Estamos vivos, amigo!.. Deve ter sido as últimas palavras que você disse antes de mexermos!... O Que foi que disse?
_ Eu disse que você mexeu!
_ Antes disso, Bola!
_ Acho que foi "caramba, Carambola..."
Nem terminou a frase direito, e já estavam duros como antes, mas só que em outras posições. Não podiam mais se mexer. Mas tiveram a mesma idéia, e gritaram juntos:
_ CARAMBA, CARAMBOLA!
E um instante depois já estavam novamente mexendo. Mexendo, não; pulando de alegria. Descobriram o segredo. E melhor que isso, é que eles mesmos dizendo, funcionava.
_ Não diga de novo, senão, viramos barro!
_ Não vou dizer. Tive uma idéia: Vamos andar pela casa, e quando a noite estiver no fim, subiremos, e falaremos as palavras mágicas, e passaremos o dia descansando!..
Antes de fazer o que queriam, ainda testaram duas vezes para ver se funcionava mesmo. Como não tiveram mais dúvidas, desceram correndo da estante, e correram de um lado a outro, conhecendo muitos lugares que jamais pensavam existir na casa estranha até o momento...
Foi assim que começou tantas e tantas aventuras desses que hoje andam pelo mundo fazendo com que os dias sejam de descanso, e as noites de festa...

Se eles aparecerem qualquer dia em sua casa, diga caramba carambola , peça o que quiser, e veja o que acontece...
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Adelmario Sampaio
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