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Cronicas-->A Hora e a Vez do Palhares -- 18/10/2007 - 19:01 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Desconfio que passei do prumo, exagerei na dose. Acho que ela definitivamente não gostou, devo ter me excedido. Quando ví sua cintura e seu umbigo adornado por uma pérola, saí de minha órbita, também, vou fazer o quê? A carne é fraca, sou humano, tenho ossos nervos e sangue nas veias. Quem de nós não se curvaria ante tal visão?Inicialmente, só contemplei suas lindas e tênues curvas, embora generosas nos pontos certos. Tudo bem, vá lá. Porém, o caminho a ser percorrido entre o olhar e o tocar é curto, em tais situações. Eu penso que determinadas mulheres são feitas a mão, prontas para serem adoradas, nascem semi-deusas e nós, reles mortais, somos obrigados a observá-las de soslaio, de canto de olho, beiços caídos, boca inerme, pupilas dilatadas e alvoroço no peito. Quem somos nós nestas horas? Um amontoado de idéias bestiais, um monte de sonhos secretos e quase palpáveis...

--Que é? Nunca viu?
--Prazer, Palhares.
--Tamiris, prazer!

Desarmada pela súbita apresentação e pelos gestos comedidos deste que vos fala, Tamiris diz que seu nome tem ascendência oriental, como o provam seus olhos amendoados e seu nariz que puxa muito pouco para o adunco, com a cintura de pérola e o perfume de jasmim que enlouquece qualquer um que se aproxima a mais de dois metros. O que é que ela faz que fica tão diáfana, o que ela sente quando vários pares de olhos a fitam, o que ela pensa de marmanjos como eu?

--Vocês não têm jeito mesmo. Todos iguais!

Fico sabendo, entre sorrisos esfuziantes e meneios de cabeça e de corpo que ela tem passado por poucas e boas, que beleza nunca foi tudo para ela, que atualmente faz um curso de Turismo mas já pensa em mudar de área( é o assédio, sabe...) e que todo ano viaja para o Chile pois tem uma parte da família que mora lá, outra parte da família que é da Espanha, mais uma influência moura, veja bem.

Observando bem, ela tem um corpo destes que enlouquece, é lànguida e permanece sempre numa certa posição que denuncia desejo, ou no mínimo lascívia, mas não. Ela diz que sempre teve esta pose, fala sem papas na língua que muitos homens a cortejaram pensando que fosse um convite, qual o quê, sou tímida, ela reforça. Olha nos meus olhos e descobre o desejo, enrubesce e mira o teto:
--Ai, meu Deus!

O Palhares aqui já lambe os beiços enquanto fita o contorno de suas coxas, a curvatura dos quadrís perfeitos, os cabelos negros e sedosos, Tamiris sabe que é um poço de desejo mas reprime qualquer tentativa de abuso com palavras mais ríspidas quando precisa, delicadas quando percebe que está errada e doces quando não quer ferir o interlocutor.

--Palhares, Palhares...Olha sua pressão, que eu sei dos remédios que toma!

Maldita doença, atesta a idade ou reprova meus intentos a danada?Desconfio que virei o fio, sei que desafiei a paciência dela, sei que da janela ela me fitou indo embora, mas acho que perdi Tamiris e sua linda sombra. Nem cheguei a tocá-la de verdade, bastaram meus olhos de Lince ou lobo e a fome de séculos de espera que ela sumiu na noite poeirenta; nunca mais a vi.

Devo ter me excedido, seguramente.
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