Escolheu a melhor roupa, nem tanto como em seus tempos de estrela, e cuidou para não se dirigir a Ravenala, chamando-a de Vanini. Com certeza, qualquer desalinho de raciocínio causaria desconforto irreparável.Refez cenas e cenários, contemplou cinco anos de glamour, somados a meio século de posterior anonimato: duas faces a vida lhe ofereceu: a primeira, tecida com fios mágicos de encanto e beleza, aplausos, fama e beijos; a segunda, indiferença, solidão e desprezo. Sua maior recordação, palpável, era o Cadilac vermelho-acetinado com que, outrora, esbanjava elegância e beleza na Avenida Nossa Senhora de Copacabana.
— A senhora guarda muitos traços de beleza, fino trato e bom gosto — disse a moça.
— Minha filha, a mão poderosa do deus tempo, triturou-me os ossos. Sou estrela que o vento soprou.
Raquel faz uma pausa.
As linhas do rosto revelavam as noites mal dormidas, jornadas de glamorosa fama que hoje ela trocaria por uma velhice saudável.
— Para que me serviram os holofotes e as noites agitadas se agora só tenho o negrume da solidão? Não tenho mais azeite para acender minha estrela...
***
Adalberto Lima, trecho de Estrela que o vento soprou
|